Indie Festival traz retrospectivas de diretores premiados em Cannes
O Indie Festival chega este ano a sua quarta edição em São Paulo com a preocupação em aumentar sua audiência. “Uma das funções do Indie é cativar outros públicos, além daquele que está acostumado a frequentar o CineSESC”, revela a curadora Francesca Azzi, em entrevista ao UOL Cinema. A mostra abre na quinta-feira para convidados e, a partir de sexta, para o público em sessões gratuitas.
O evento destaca este ano duas retrospectivas: do tailandês Apichatpong Weerasethakul e do japonês Kiyoshi Kurosawa (que, apesar do sobrenome, não tem nenhum parentesco com o consagrado cineasta Akira Kurosawa). Do primeiro, a mostra trará 5 longas, 1 média e 19 curtas – a maioria em película. “É interessante acompanhar a evolução da obra dele e perceber como é um artista. Seus filmes têm uma unidade. É possível perceber nos primeiros trabalhos elementos que, aos poucos, vão se concretizando”. Dos longas, o Indie não apresenta apenas o mais recente trabalho do diretor de “Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives” [algo como “Tio Boonmee que pode se lembrar de suas vidas passadas”] , que levou a Palma de Ouro em Cannes, em maio passado, e deverá ser exibido no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo.
Fazem parte da programação do Indie longas como “Mal dos Trópicos” (2004), que lhe rendeu o Prêmio do Júri em Cannes, e “Síndromes e um século” (2006). Dos curtas, Francesca conta que o próprio Weerasethakul quis fazer a seleção. “A programação traz alguns de seus trabalhos mais recentes, ‘Uma Carta para Tio Boonmee’ e ‘Mobile Men’”. Apesar da Palma de Ouro ter colocado o nome do cineasta em maior evidência, Francesca garante que o convite para a retrospectiva foi feito no ano passando, quando ele ainda estava rodando “Uncle Boonmee...”. “Esse tipo de curadoria não se faz de uma hora para outra. Leva tempo para conseguir as cópias e organizar a mostra. A nossa sorte foi ele ser muito organizado, sabia onde estavam todos os seus filmes”.
Kurosawa
O mesmo, porém, não aconteceu com o cineasta japonês. “Houve uma troca de e-mail muito grande. Cada filme dele estava num lugar diferente, que nem ele próprio sabia. Contamos muito com o apoio da Fundação Japão, no Japão, para conseguirmos alguns filmes”, explica a curadora. Dos mais de 30 longas dirigidos pelo cineasta, o Indie 2010 exibirá 22 filmes, entre os quais “Sonata de Tóquio”, que lhe rendeu o principal prêmio da mostra Um Certo Olhar, no Festival de Cannes de 2008. Francesca aponta que, ao contrário de Weerasethakul, os filmes de Kurosawa são bastante diferentes entre si, variando os gêneros, e indo desde o terror até o pornô soft. “Optamos por trazer seus filmes de maior destaque, como ‘Pulse’, que recebeu o prêmio da crítica em Cannes 2001, e ‘Guerras De Kandagawa’, seu primeiro filme lançado comercialmente, em 1983”.F
Além das duas retrospectivas, o Indie 2010 destaca alguns cineastas independentes da Romênia – uma filmografia que anda em alta desde a Palma de Ouro em 2007, com “4 meses, 3 semanas e 2 dias”, como “A garota mais feliz do mundo” – e o cinema independente norte-americano, que parece ganhar fôlego com a nova geração. Além deles, o festival exibe o mais novo filme do coreano Hong Sangsoo, “Hahaha”, premiado na mostra Um Certo Olhar, em Cannes, em maio passado.
Outro destaque são veteranos do cinema independente mundial, como o norte americano Todd Sollondz, que apresenta “A vida durante a guerra”, uma espécie de continuação de seu filme mais famoso “Felicidade” (1998), mas com novos atores interpretando os personagens, e francesa Claire Denis, diretora de “White Material”, exibido em competição no Festival de Veneza do ano passado.
Fidelidade
Quando o Indie começou em 2001, em Belo Horizonte, Francesca conta que apostava na digitalização do cinema. Agora, quase uma década depois, a curadora diz perceber que o digital pode até ser mais prático e barato, mas não há nada que se compare às cópias em 35mm. “Fomos percebendo que o público tem muito apreço pela película. Além disso, existe uma aura de respeito pelo 35mm e a qualidade, que nem sempre o digital tem”.
Apesar das dificuldades, custo e burocracia – “muita coisa fica presa na alfândega” – Francesca acredita que vale a pena o esforço para trazer os filmes em película – especialmente porque isso agrada ao público. Ela diz que quando foi convidada pelo SESC, há quatro anos, para trazer o Indie para São Paulo, pensava que dificilmente acharia um espaço. “Há muitas mostras na cidade, filmes para todos os gostos, mas fomos achando espaço para produções que nunca chegaram a ser exibidas, nem mesmo em festivais”.
Francesca lembra que, ao longo dos quatro anos, o apoio do SESC foi fundamental. “Foi uma parceria que concretizou o nosso desejo latente de levar o Indie para mais pessoas e poder exibir mais filmes em 35 mm”.
Em São Paulo, o Indie 2010 será realizado no CineSESC (Rua Augusta, 2075) até 30 de setembro. As sessões são gratuitas e os ingressos devem ser retirados uma hora antes da sessão na bilheteria do cinema. Para mais informações e a programação completa, acesse: http://www.indiefestival.com.br/indie2010/sp/
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