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"The American" é um filme essencialmente europeu, diz George Clooney

Clooney vive assassino de aluguel trabalhando sob um manto de silencio e paranoia - Reprodução
Clooney vive assassino de aluguel trabalhando sob um manto de silencio e paranoia Imagem: Reprodução

ANA MARIA BAHIANA

Especial para o UOL Cinema

16/09/2010 07h00

Num vilarejo da região do Abruzzo, ao leste de Roma, um homem espera. Ele é um forasteiro, um americano, e seu nome pode ser Jack ou pode ser Edward ou, talvez, nenhum dos dois. Ao padre local ele informa, sucintamente, que trabalha como fotógrafo e está fazendo uma matéria sobre o belo paese, pontilhado de lugarejos medievais no topo de montanhas - mas, se a conversa vai mais longe Jack/Edward revela uma completa ignorância sobre o que seria o tema de seu ensaio. Para os locais, ele é simplesmente L’ Americano, um sujeito calado que bebe espresso no barzinho, caminha pelas estreitas ruas de paralelepípedo e, quietamente, visita o bordel na estrada, sempre solicitando os serviços da mesma moça. Entre as quatro paredes de seu modesto apartamento na vila, contudo, L’Americano monta e desmonta pesadas armas de fogo, faz ginástica compulsivamente e, sobretudo, vigia - portas, janelas, vizinhos, a si mesmo.

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Este é o clima essencial de The American, o segundo longa do fotógrafo e videoclipeiro Anton Corbijn, estrelado e produzido por George Clooney - e, por uma semana no final da temporada-pipoca norte americana, o número um da bilheteria nos EUA. “Para mim, este sempre foi um filme europeu”, diz Clooney. “Sempre vi o material como essencialmente europeu, não apenas em locação, mas sobretudo no clima, no ritmo. Meu personagem, o americano, é um estrangeiro, está deslocado no ambiente, e isso é essencial para seu aspecto psicológico, existencial.”

Clooney, o produtor, tinha há anos os direitos de adaptação do livro “A Very Private Gentleman”, de Martin Booth mas, em suas próprias palavras não conseguia “achar o tom certo” para a obra. “O roteiro de Rowan Jaffe foi um primeiro passo”, Clooney conta. “mas eu sabia que precisava de um diretor com uma certa estética, com grande controle das imagens. Sugestão do nome de Anton foi o elemento que faltava. Desde que vi ‘Control’ (filme sobre Ian Curtis, vocalista da banda Joy Division que se suicidou) fiquei interessado em trabalhar com ele.”

O interesse de Clooney pelo livro de Booth que serve de base a “The American” se deve, ele diz, ao apelo do personagem central, o misterioso Edward/Jack, um assassino de aluguel trabalhando sob um manto de silencio e paranoia. “Para qualquer ator, esse é um papel suculento, Não é possível abordar o personagem usando recursos emocionais conhecidos. Há uma frieza, um desespero, a sombra de algo completamente malévolo ou talvez apenas desesperado que não reconheço dentro de mim e exige um outro nível de interpretação. É como aprender o básico do ofício de ator, de novo. E adoro um desafio.”

O Abruzzo foi escolhido como locação não apenas pela beleza e proximidade da casa de verão de Clooney, em Como, no norte da Itália, mas principalmente como forma de contribuir para a revitalização da área, ainda sofrendo os resultados do violento terremoto de abril 2009. “Tínhamos várias locações igualmente bonitas, mas se podemos fazer alguma diferença, por que não?”, Clooney explica. “Qualquer coisa que possa empregar as pessoas e contribuir para tirar os habitantes do estado de choque em que ainda se encontram vale a pena.”

Uma vantagem adicional das filmagens na Itália, Clooney conta, foi trabalhar com a equipe local. “As coisas são mais civilizadas. Come-se melhor. Trabalha-se num ritmo mais humano. E muitos desses profissionais vêm de uma linhagem fantástica, trabalharam com todos os grandes mestres, com Fellini, com Antonioni. É um privilégio contar com profissionais assim num projeto.”