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"Todo tipo de filme ficaria interessante em 3D", diz diretor de Resident Evil 4

Cena de "Resident Evil 4: Recomeço" - Divulgação
Cena de "Resident Evil 4: Recomeço" Imagem: Divulgação

THAÍS FONSECA

Da Redação

18/09/2010 07h00

Dar seu primeiro passo na filmagem em 3D com “Resident Evil” parece ter sido uma sacada segura de Paul W. S. Anderson. Roteirista dos quatro filmes da franquia e diretor da primeira produção, de 2002, Anderson volta a acumular as duas funções no recente “Resident Evil: Recomeço”, que estreia nesta sexta-feira no Brasil (17). A inspiração veio diretamente de “Avatar”, responsável pela tecnologia que, para o cineasta, chegou ao cinema para ficar. “Todo tipo de filme ficaria interessante em 3D”, opinou em entrevista recente ao UOL Cinema em Cancún, no México.

Nas telas, o 3D se mostra um atrativo de “Recomeço”. Alice (Milla Jovovich) – a heroína que luta contra zumbis -, tem cenas de luta e viagens de avião realçadas, especialmente quando chega a uma Los Angeles (EUA) apocalíptica e voa entre os escombros. Em cenários tão cinzentos quanto este, a protagonista busca a sobrevivência ao lado de Chris (Wentworth Miller) e Claire (Ali Larter). Belas e devidamente maquiadas - inclusive nas cenas mais estafantes -, Jovovich e Larter se destacam como musas prontas para chutar e atirar nos inimigos, num filme que, a fim de entreter, privilegia as cenas de ação sem medo de deixar de lado sutilezas nas interpretações ou na narrativa.

À época, Anderson despistou e disse não haver planos para uma seqüência. “Se ninguém for assistir ‘Resident Evil: Recomeço’, não haverá um quinto”, disse. Esperto, o diretor colocou uma brecha que será aproveitada de gancho para uma sequência, garantida graças ao bom resultado nas bilheterias norte-americanas. Antes disso, o diretor insistirá no 3D na adaptação cinematográfica da obra clássica “Os Três Mosqueteiros”, do francês Alexandre Dumas, com a qual diz ter contato desde pequeno. “Quando criança, eu costumava brincar com um pedaço de pau, fingindo estar com uma espada, como se fosse um mosqueteiro”, contou. A seguir, leia os principais trechos da entrevista.

Como diretor que já se aventurou a filmar em 3D, você diria que há filmes apropriados para a tecnologia e outros que não teriam necessidade dela?

O 3D é uma ferramenta incrível para se fazer filmes. Todo tipo de filme ficaria interessante em 3D. Seria como dizer que certo tipo de filme não ficaria bem colorido, que ele deveria ser preto e branco. Talvez por razões criativas, como “A Lista de Schindler”, é mais interessante mesmo ter um filme em preto e branco. Mas, honestamente, acredito que em cerca de cinco ou dez anos será apenas uma decisão artística do diretor fazer um filme sem 3D. E é mais realista, é como vemos o mundo real. Para mim, pessoalmente, filmar sem o 3D seria dar um passo para trás.

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Quando você resolveu adotar o 3D em “Resident Evil”, conversou com James Cameron à procura de um conselho?

Conversei mais com John Bruno, que trabalhou como supervisor de efeitos especiais em “Avatar”, com quem eu tenho uma relação mais próxima. Ele é entusiasta da tecnologia há bastante tempo. O fato de o 3D estar avançando no cinema tem muito a ver com ele.
 

“Os Três Mosqueteiros”, seu próximo filme como diretor, será baseado num livro clássico. Como você entrou para o projeto?

Era um grande fã, pois na Inglaterra é um dos livros que se lê na escola. Quando criança, eu costumava brincar com um pedaço de pau, fingindo estar com uma espada, como se fosse um mosqueteiro. Uma das coisas que as pessoas esquecem sobre a história é que, apesar de ser uma obra prima, quando foi escrita era algo para entreter as pessoas. Não acho que o autor [o francês Alexandre Dumas] estivesse pensando em fazer alta literatura enquanto escrevia. De certa forma, nós vamos destacar a ação, o romance, o entusiasmo, coisas que estão na origem da história e que ele tentava evocar quando a escreveu.

Como roteirista da franquia “Resident Evil”, como foi transpor o universo do videogame e, ao mesmo tempo, deixá-lo compreensível para um público mais amplo, que não conhece o jogo?

Tentei contar uma nova história sem fazer uma adaptação direta dos videogames, mas mantendo personagens que fazem parte dos jogos. Os personagens de Milla [Alice] e Claire, por exemplo, têm os arquétipos no jogo. As personagens femininas são muito importantes para “Resident Evil”. Também fiz com que os personagens se movessem num universo semelhante ao do jogo, tentando não quebrar regras como matar personagens importantes.

Como é o seu método para escrever um roteiro?

Para mim, nunca sento para escrever sem antes imaginar a história toda. Eu penso muito antes de digitar. E não há muita distância quando escrevo e dirijo, por que os seis meses que vou passar escrevendo o roteiro vão ter desenvolvimento quando eu for filmar. Eu não escreveria algo que não fosse possível filmar. Sou guiado pelas imagens quando escrevo.

Neste novo filme, Ali Larter é um dos destaques, como Claire. Como ela foi escolhida para o papel?

Eu era fã do trabalho dela em “Premonição”. Além de ser muito bonita, ela é conhecida por este público e poderia trazer algo novo à franquia. Em todo filme nós tentamos aumentar cada vez mais o público. E achei que com o cabelo vermelho ela se pareceria muito com Claire Redfield. É até engraçado vê-la com os cabelos loiros em “Heroes” [série de TV norte-americana]. Pouco tempo atrás, veio uma mulher bonita até mim numa festa, dizendo que era bom me rever. Só então me dei conta de que era Ali, que estava loira de novo. Eu me acostumei em vê-la ruiva, não a tinha reconhecido.

E como você trabalha com os atores?

Nós conversamos muito sobre o roteiro. Eles dão opiniões, às vezes gosto do que dizem, outras nem tanto, e falamos a respeito. Então ensaiamos, ouvimos as frases ditas em voz alta, o que é interessante, pois resulta em mudanças no roteiro e em diálogos que não são necessários. Os roteiristas, quando escrevem, precisam se expressar com as palavras, mas os atores nem sempre, eles podem se expressar de forma mais sucinta. Eu admiro os atores, pois interpretar é algo que não consigo fazer. Tentei atuar uma vez, fui péssimo. Mas acho incrível como eles podem mergulhar num personagem e trazer coisas que eu, como roteirista, não havia pensado.

Há chances de um “Resident Evil 5”?

Neste momento tudo gira em torno do quarto filme. Se ninguém for assistir “Resident Evil: Recomeço”, então não haverá um quinto. Claro que também tem a ver com as pessoas que trabalham no filme, que fazem a série com paixão. Se eu não me sentisse envolvido, não faria outro filme.