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Morre Arthur Penn, o cineasta que injetou realidade no cinema americano

O cineasta Arhtur Penn, que dirigiu clássicos como "Bonnie and Clyde", morre aos 88 anos nos EUA - AP
O cineasta Arhtur Penn, que dirigiu clássicos como "Bonnie and Clyde", morre aos 88 anos nos EUA Imagem: AP

ALESSANDRO GIANNINI

Editor de UOL Cinema

29/09/2010 15h26

Cineasta, diretor de televisão e teatro, Arthur Penn (1922-2010) teve um papel fundamental na história do cinema americano. No intervalo entre a decadência do fechado sistema de estúdios e o surgimento da geração que transformou definitivamente os modos de produção, a forma e o conteúdo dos filmes, Penn foi ousado o bastante para afrontar - dentro do mainstream - o Código Hays e colocar na tela uma boa dose de realidade crua para o público.

Inspirado na história de um famoso casal de assaltantes de bancos que agiu durante a Grande Depressão e com um elenco jovem e bonito, "Bonnie & Clyde - Uma Rajada de Balas" (1934) escancarou o que o Código Hays - ou Código de Produção, vigente desde 1934 - havia jogado para debaixo do tapete: violência, sexo e humor, numa combinação explosiva. Com Warren Beatty e Faye Dunaway nos papéis-título, o filme não desviava da objetiva cenas muito violentas, cenas envolvendo sexo e muito menos poupava o espectador do humor perverso dos personagens.

Os pudicos olhos da América ficaram chocados com a cena em que Bonnie e Clyde são perseguidos e metralhados em plena luz do dia, em câmera lenta, vistos de vários ângulos e com requintes de detalhes - até mesmo, o sangue vermelho e fluído. Era demais para um público acostumado, por conta dos cânones vigentes até aquele momento, com mortes discretas, quase sem sangue e até casais dormindo em camas separadas nos filmes.

Nascido na Filadélfia, Penn combateu na Primeira Guerra Mundial e ficou algum tempo na Europa antes de voltar para os Estados Unidos. Cursou o famoso Actor's Studio, em Nova York, onde refinou sua habilidade como diretor de atores. Depois de passar pelo teatro e pela televisão, na NBC, ele investiu no cinema.

Inspirado em roteiro para a televisão escrito por Gore Vidal, "Um de Nós Morrerá" (1958) era um tributo aos filmes de caubói. "O Milagre de Anne Sullivan" (1962) tinha como matéria prima uma peça de William Gibson que ele mesmo havia adaptado para a televisão dentro de um seriado e também levara aos palcos em uma montagem premiada. "Mickey One" (1965), uma fábula anti-macarthista, funcionou mais como carta de intenções do que como cartão de visita. Logo em seguida, Penn se faria notar por "Bonnie & Clyde".

O restante da carreira cinematográfica de Penn, que também dirigiu a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, seguiu em curso de cruzeiro, intercalando propostas ousadas, como "O Pequeno Grande Homem", com outros filmes menos notáveis, casos de "A Morte no Inverno" (1987) e "Perseguidos por Acaso" (1989).

Penn pode não ter tido uma carreira brilhante, mas foi ponta de lança de uma geração que incluiu Sidney Lumet, John Frankenheimer, Sam Peckinpah e Martin Ritt, além de abrir espaço para a geração seguinte, que teve entre seus pares Francis Coppola, Martin Scorsese, Brian De Palma, Steven Spielberg, George Lucas. Estar à frente de um grupo e abrir as portas para outro com nomes desse peso para a história do cinema não é para qualquer um.