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Em ''Tropa de Elite 2'', José Padilha aponta culpados na esfera do poder público

Wagner Moura em cena de ""Tropa de Elite 2"", filme dirigido por José Padilha - Divulgação
Wagner Moura em cena de ''Tropa de Elite 2'', filme dirigido por José Padilha Imagem: Divulgação

ALESSANDRO GIANNINI

Editor de UOL Cinema, de Paulínia

06/10/2010 03h18

Em "Tropa de Elite 2", exibido nesta terça (5), no Theatro Municipal de Paulínia, interior de São Paulo, a história trágica de Roberto Nascimento se repete. Mas não como uma farsa, como aponta Marx - o filósofo. O personagem criado pelo diretor José Padilha e interpretado com maestria por Wagner Moura reaparece dez anos depois em uma esfera mais alta do poder público. Guindado a comandante do Bope e, logo em seguida, a subsecretário de Segurança Pública, ele se vê mergulhado no retrato mais amplo de uma máquina de corrupção perversa, um inferno dantesco do qual parece não haver saída. A estreia está marcada para esta sexta (8).

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Padilha, que compareceu à primeira sessão do filme em companhia da equipe e de boa parte do elenco, teve a chance de fazer correções de curso, como elaborar o argumento e o roteiro do zero em torno de Nascimento e não de outro personagem. Isso lhe economizou noites de insonia em frente a ilha de edição tentando imaginar soluções para contornar problemas narrativos como aconteceu no primeiro filme. E tornou a segunda parte mais consistente e coesa, abrindo espaço para novos personagens, como o militante de direitos humanos Diogo Fraga, interpretado por Irandhir Santos.

ASSISTA AO BATE-PAPO COM O DIRETOR JOSÉ PADILHA SOBRE ''TROPA DE ELITE 2''

Se no primeiro "Tropa de Elite" essa brecha narrativa abria espaço para interpretações dúbias sobre a visão crítica e desesperançada de Padilha, nesta segunda parte não há espaço para dúvidas ou ambiguidades. Está tudo ali, acompanhado de velhos - "Bandido bom é bandido morto" - e novos - "Porrada neles" - bordões. Prova disso está na reação do público que lotou o Theatro Municipal de Paulínia, formado por jornalistas, exibidores e uma parcela de convidados do município. Dois momentos de alívio cômico, no início do filme, seguidos de risadas espontâneas. E pelo menos três momentos de aplausos em cena aberta, quando Nascimento resolve agir movido por uma quase tragédia que o atinge pessoalmente.

A estratégia é clara. Padilha sai do micro para o macro, reposiciona velhos atores (Milhem Cortaz, André Ramiro) em papéis mais elaborados e incorpora novos atores (Seu Jorge) em papéis estratégicos para tornar o cenário mais verossímil e chocante. O que não muda é a visão de Padilha, que continua a mesma, apesar de toda cautela na abordagem da violência. Não muda também a maneira como o publico, por mais seleto e envolvido que possa ser o dessa primeira sessão, percebe essa visão, um tanto simplificada, de como se estabelece um estado de coisas em que os fins continuam justificando os meios.