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''Foi o papel perfeito na época perfeita'', diz Stephen Dorff sobre ''Um Lugar Qualquer''

Em "Somewhere", de Sofia Copolla, Stephen Dorff dá vida a um ator famoso que tem uma filha adolescente - Divulgação
Em "Somewhere", de Sofia Copolla, Stephen Dorff dá vida a um ator famoso que tem uma filha adolescente Imagem: Divulgação

NEUSA BARBOSA

Do Cineweb

23/10/2010 07h00

Em seu quarto filme, “Um Lugar Qualquer”, a diretora Sofia Coppola confirma que seu forte está nas histórias mais intimistas, como esta, que focaliza a relação entre um ator de sucesso, Johnny De Marco (Stephen Dorff), que é um pai um tanto desleixado da menina Cleo (Elle Fanning), de 11 anos. Vencedor do Leão de Ouro no último Festival de Veneza, o filme é uma das atrações mais disputadas desta primeira semana da Mostra.

Outra vocação que a diretora, de 39 anos, confirma, é a de reinventar a imagem de seus atores. Ela o fez ao escalar o comediante Bill Murray como protagonista do dramático “Encontros e Desencontros” (2003). Agora, repete a dose com Stephen Dorff que, aos 37 anos, é um intérprete bem experiente e respeitado, mas bem mais famoso por suas incursões pelo terror, como “Blade – O Caçador de Vampiros” (98) ou policiais, como o recente “Inimigos Públicos” (2009).

Entrevistado em Veneza, o ator Stephen Dorff admite que sua longa carreira, iniciada na TV em 1985, o vinha frustrando há tempos. “Estava ficando entediado e também cansado por ter que a toda hora explicar a minha mãe e minha avó, que perguntavam: ‘Por que você sempre interpreta o vilão?’ (risos). E eu respondia: ‘Não sei, pergunte aos meus agentes’”.  
 

  • Getty Images

    A diretora Sofia Coppola e o ator Stephen Dorff participam de premiação da revista Elle nos EUA (18/10/2010)

Por isso, ser convocado para assumir o papel de protagonista em “Um Lugar Qualquer” logo lhe deu a certeza de que esta era uma oportunidade especial e até cercada por uma aura mágica. “Perdi minha mãe (em fevereiro de 2008) e isso mudou toda minha vida. Exatamente um ano depois, no dia do aniversário de seu falecimento, eu estava em Paris falando com Sofia Coppola e ela me deu este papel. Isso teve um duplo significado para mim. Pensei que, de algum modo, minha mãe estava cuidando de mim. Acho que foi o papel perfeito na época perfeita de minha vida”.

Para encarnar Johnny De Marco, Dorff teve que mudar um pouco fisicamente. Normalmente atlético e até bronzeado, morador em Malibu, em Los Angeles, ele teve que adotar um visual mais largado, para corresponder ao personagem, que passa noites em farras, incluindo drogas, bebedeiras e muitas mulheres.

Um aspecto da história que caiu sob medida para Dorff foi que o cenário de boa parte do filme é um lugar muito conhecido por ele – o hotel Chateau Marmont, em Los Angeles. “Fiz minha festa de 21 anos lá. Nessa época eu não morava lá, mas tive uma sessão de fotos do filme ‘Backbeat – Os 5 Rapazes de Liverpool’(94). Nunca vou esquecer. Fizeram uma festa-surpresa para mim. Fiquei superbêbado e caí na piscina. Foi estranho. Eu tinha uma relação com aquele hotel muito tempo antes do filme. Também cheguei a morar lá”, relembra.
 

Dezesseis anos depois daquela festa, Dorff acha que o hotel, um ícone para o pessoal do cinema americano, continua o mesmo. “Por incrível que pareça, não mudou nada. Eu já conhecia todas aquelas pessoas engraçadas que trabalham lá. Aqueles caras que você vê no filme são todos reais, o garçom que traz o serviço de quarto, o valet. Esse valet estaciona carros lá há 24 anos. Ele me conhece desde que eu tinha 19 anos. Aquele cara cantando com aquela guitarra fora de tom, ele é o pior cantor do mundo, mas tem um charme, realmente, corta seu coração. Ele canta Beatles, canções infantis sobre ursinhos, tudo. E é muito apegado àquele lugar”.

Mesmo sem ser pai na vida real, Dorff conta que não teve dificuldade em entrar no papel. Muito se deve ao roteiro de Sofia Coppola: “O roteiro dela é muito detalhado. Mas, ao mesmo tempo, há espaço para você preencher algumas lacunas, alguns detalhes naturalistas. A emoção está toda descrita antes. Você conhece o filme. Em geral os roteiros são super-escritos. Este aqui era mais descritivo das emoções, do clima. Por isso, achei-o mais desafiador”.  

Para a diretora, com quem ele trabalha pela primeira vez, o ator é só elogios: “Sofia faz tantas escolhas fortes neste filme. Muitas pessoas dizem que ela está voltando a um cenário mais intimista, como ‘Encontros e Desencontros’, depois de ‘Maria Antonieta’. Concordo com isto. E há realmente semelhanças entre ‘Encontros...’ e ‘Um Lugar Qualquer’. Mas acredito que este é um filme mais ousado. Ela faz escolhas tão arriscadas. E, quando você fala com ela, é a pessoa mais doce do mundo”

O temperamento da diretora, para ele, foi essencial para criar um ambiente positivo nas filmagens. Dorff conta: “Nunca trabalhei com alguém tão gentil, tão específica e detalhista. Ela nunca levantou a voz no set. Foi uma experiência muito diferente das que eu tive antes. Sofia quer encontrar o lado inconsciente, então, cria o clima para que você chegue lá e esqueça que há uma câmera”.  

Dorff acredita que simplesmente ter feito o filme já mudou suas chances na carreira em que ele mesmo descreve assim: “Nunca cheguei ao super-estrelato, nunca fui um Tom Cruise, mas conheço o negócio muito bem”. Além de ter voltado a estampar capas de revistas por conta de “Um Lugar Qualquer”, o ator acha que vai poder escolher mais. “É engraçado, porque eu ainda estou recebendo ofertas para atuar como vilão. Mas acho que agora poderei recusar”.

Em todo caso, em seu próximo filme, ele não será um vilão. Trata-se da comédia “Born to be a Star”, com roteiro de Adam Sandler  e direção de Tom Brady (“Garota Veneno”), que narra a aventura de um rapaz do Meio-Oeste que sonha tornar-se ator pornô.  


 

"UM LUGAR QUALQUER" (SOMEWHERE), de Sofia Coppola (98'). EUA.
Falado em inglês. Legendas em português. Indicado para: 14 anos.
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