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''Queria fazer um filme para as pessoas que não conhecem Fórmula 1'', diz diretor de ''Senna''

Trajetória do piloto Ayrton Senna é tema do documentário ""Senna"" - Divulgação
Trajetória do piloto Ayrton Senna é tema do documentário ''Senna'' Imagem: Divulgação

ALYSSON OLIVEIRA

Do Cineweb

09/11/2010 07h00

Quando o inglês Asif Kapadia foi convidado pelo produtor James Gay-Rees (“O Jogo dos Espíritos) para dirigir o documentário “Senna”, ele confessou saber muito pouco sobre o piloto brasileiro, morto em 1994. “Eu conhecia bem mais sobre futebol, o boxeador Muhammad Ali, mas sobre Fórmula 1 eu estava aprendendo”, disse o diretor em entrevista coletiva em São Paulo para o lançamento do longa, que chega ao circuito comercial no próximo dia 12.

Mas depois da extensa pesquisa que Kapadia fez com seu roteirista, o estreante Manish Pandey, a situação mudou. “Senna se transformou no meu herói. Percebi que ele era muito especial. Encontramos também muito material sobre ele, não apenas oficial de corridas, e entrevistas do mundo tudo, mas também filmes caseiros, e pudemos descobrir um pouco sobre a intimidade dele”.

Por intimidade, entenda-se ‘os bastidores da Fórmula 1’, pois a vida pessoal do piloto e seus romances, passam quase batidos nos mais de 100 minutos de filme. Num momento, vemos uma cena do programa de Xuxa na televisão, no qual ela, de microssaia, entrevista Senna no ar, e os dois trocam insinuações em rede nacional enquanto ela o cobre de beijos. Kapadia disse que achou a cena curiosa e divertida. “Imagina aquele tipo de coisa num programa infantil? É totalmente inapropriado”, se diverte o inglês.
 

TRAILER DO FILME "SENNA"

Kapadia confessa que seu filme não é apenas para fã, pois investiga a vida e a trajetória de um vencedor.”É uma história totalmente hollywoodiana. Pensamos no filme com a mesma estrutura de uma ficção. Mas não podia ser feito como um longa ficcional, porque muita coisa iria parecer inventada.” No final dos anos de 1990, aliás, Antonio Banderas chegou a planejar um filme sobre o piloto, mas este nunca saiu do papel, pois, segundo Viviane Senna, irmã do esportista, a família discordava do tratamento que Hollywood daria para a vida e carreira de Senna.

Ela concorda com o inglês e diz que a trajetória do piloto deve servir de inspiração para todos. “Ele travava uma luta todos os domingos para ser aquilo que ele era por natureza, um grande piloto. Essa é a luta de todos nós, por isso ele é tão inspirador”. Ela, que é diretora do Instituto Ayrton Senna, conta que o maior inimigo de seu irmão foi a politicagem e o dinheiro que existe dentro da Fórmula 1, ou, como ela mesma define, ‘o sistema’.
 

Ao contrário de Kapadia, Pandey, o roteirista, sempre foi fã de Senna e disse que precisou deixar muita coisa de fora do filme, mas tentaram colocar o máximo possível de imagens do final de semana da corrida em Ímola, em 1994, na qual Senna sofreu um acidente fatal. “Quando se faz um filme é preciso fazer um balanço. Temos que sintetizar a realidade dentro do tempo que temos. Algumas coisas, como a reconciliação dele com Alain Prost [até então visto como seu inimigo], tiveram de ficar no subtexto”. Sobre esse episódio específico, Kapadia conta que procurou imagens dos dois juntos nos dias anteriores à última corrida de Senna, mas não encontrou. O mesmo aconteceu com o acidente, que, no filme, é mostrado na mesma imagem que percorreu o mundo na época. “A batida aconteceu numa curva na qual estavam poucas câmeras, não há muitas opções para se mostrar essa cena”.

No filme não há entrevistas, apenas colagem de imagens do piloto e depoimentos de pessoas que estiveram ligadas a ele, como a mãe, Neide Senna, a irmã, e comentaristas esportivos. Boa parte das imagens vieram do arquivo de Bernie Ecclestone, presidente das empresas que detêm os direitos comerciais da Fórmula 1. “Encontramos muito material, especialmente do Japão, Brasil e Reino Unido. Quando se pesquisa isso, a narrativa acaba acontecendo de forma natural para você. E pode não acabar nunca. Podíamos ficar montando o filme para sempre. Para se fazer um documentário como esse é preciso ter tempo, senão fica apressado, como um programa de televisão”.

O produtor, Gay-Rees, disse que respeita muito o trabalho dos diretores brasileiros, mas viu no inglês Kapadia a pessoa certa para fazer esse documentário. “Ele tem o senso de narrativa que queríamos para o filme. Ele sabe combinar imagens e pessoas falando. Antes mesmo de fazermos ‘Senna’, ele e Pandey criaram uma apresentação para mostrarmos para Viviane. Quando vi aquilo, tive certeza de que tinha escolhido as pessoas certas”.

O filme estreia em cerca de 120 salas no país – depois de já ter passado pelo Japão. E também deve desembarcar em outros territórios nos próximos meses. “Vamos lançar, primeiramente, em países que tenham uma tradição de Formula 1. Mas esse não é bem um documentário sobre o esporte, mas sobre a trajetória de um herói, por isso creio que tem tudo para fazer sucesso em todos os lugares, inclusive nos EUA”, diz Kapadia.