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''O público está interessado em espiritualidade'', diz diretora de ''As Cartas Psicografadas por Chico Xavier''

Cristiana Grumbach, diretora do filme "As Cartas Psicografadas por Chico Xavier" - Divulgação
Cristiana Grumbach, diretora do filme "As Cartas Psicografadas por Chico Xavier" Imagem: Divulgação

ALYSSON OLIVEIRA

Do Cineweb

13/11/2010 07h00

“O público está muito interessado em filmes que falem da espiritualidade”, constata a documentarista Cristiana Grumbach, que lança nesta semana seu segundo longa, “As cartas psicografadas por Chico Xavier”. Apesar do sucesso do “Tropa de Elite 2”, a diretora acredita que, no ano do centenário do médium mais famoso do Brasil, essa temática está mais forte do que nunca – prova disso são os sucessos “Chico Xavier” e “Nosso Lar”.

“Vivemos no maior país espírita do mundo, embora nem sempre isso esteja nos dados. Uma peculiaridade do brasileiro é, além de manter a sua religião, transitar pelas outras. Há uma grande curiosidade e interesse das pessoas em questionar esse tipo de tema”, explica a documentarista que começou a trabalhar no seu longa em 2004, quando sentiu curiosidade de saber como seria receber uma carta de seu avô, de quem foi muito próxima.

Cristiana, antes de fazer o filme, se considerava uma pessoa cética. Depois, talvez sua posição tenha mudado um pouco. “Não sei, o espiritismo é um assunto que me interessa. Eu me questionava de qual seria o sentimento de receber uma carta de quem já morreu. Como isso deve mudar a vida de uma pessoa?”. Com essa ideia em mente, a diretora foi atrás de pessoas que podiam lhe contar sobre suas experiências.

Ao final, ficaram no filme oito famílias que lhe contaram suas experiências. “Eu me concentrei nas histórias de mães e pais por terem maior força e por que o Chico [Xavier] também dava mais atenção a eles. Achei devia manter essa espécie de fidelidade ao trabalho dele”. Diferente de seu primeiro longa, “Morro da Conceição”, Cristiana diz não querer traçar perfil de seus entrevistados, saber de sua vida pregressa ou algo assim. “A ideia era concentrar na carta, na relação dessas pessoas com a correspondência que receberam de seus filhos mortos”.

ASSISTA AO TRAILER DE "AS CARTAS PSICOGRAFADAS POR CHICO XAVIER"

Cristiana não chegou a conhecer Chico Xavier, mas um amigo que esteve em Uberaba acompanhou algumas sessões de psicografia. Quando ele lhe contou sobre a experiência, instigou ainda mais a curiosidade da documentarista. Para encontrar seus entrevistados, ela contou com a ajuda de pessoas ligadas a centros espíritas e estudos sobre a vida e obra de Chico Xavier.

A versão que chega aos cinemas de “As cartas psicografadas por Chico Xavier” é 20 minutos mais curta do que aquela apresentada em festivais, entre eles em Paulínia, em julho passado. “Foi uma decisão muito difícil, inclusive porque a pessoa que ficou de fora tinha uma expectativa com o filme. Mas tive de excluir aquela que tinha o menor depoimento e a maior carta lida em voz alta.”

Aprendizagem com Coutinho

Além de fazer “Morro da Conceição”, Cristiana trabalha há muitos anos com Eduardo Coutinho, considerado um dos maiores documentaristas do país. Para ela, essa experiência ajudou a entender como buscar a dimensão humana dos entrevistados. “Não me interessa provocar sensacionalismo com as pessoas. E eu percebo que, diante das câmeras, o entrevistado tenta dar o melhor de si”.

Ela conta que, para deixá-los confortáveis e seguros, tenta criar um ambiente discreto e com pouca parafernália. “Minha equipe é muito enxuta, não usamos um monte de equipamentos, luzes, câmeras. Tento fazer que aquela situação [a entrevista] se torne algo mais ou menos comum para o entrevistado. Sempre começo conversando sobre assuntos menos importantes, para tentarmos estabelecer uma relação”.

Além de lançar “As cartas psicografadas por Chico Xavier”, Cristiana toca outros projetos – entre eles, um documentário sobre médiuns. “Quero acompanhar a vida dessas pessoas, compreender como se dá essa mediação.” Além deste, a documentarista planeja um filme sobre a cantora Clara Nunes, morta em 1983. “Está muito embrionário ainda. Tive uma conversa muito rápida com [o compositor e viúvo da artista] Paulo César Pinheiro. Ainda precisamos conversar bastante sobre a possibilidade de fazer esse filme. Penso numa combinação entre documentário e ficção. Queria ter uma atriz ao meu lado e juntas revivermos a trajetória de Clara Nunes”.