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''Foi difícil ter que lidar com várias emoções'', diz Radcliffe sobre encarar a face da morte em ''Harry Potter''

Daniel Radcliffe como Harry Potter em cena de "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1" - Divulgação
Daniel Radcliffe como Harry Potter em cena de "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1" Imagem: Divulgação

THAÍS FONSECA

Enviada especial a Londres*

16/11/2010 07h02

Em um dos galpões dos estúdios Leaveasden, na Inglaterra, algumas cadeiras foram enfileiradas ao redor do set para a entrevista com o mais ocupado dos astros de “Harry Potter”.  Quando a conversa aconteceu, em abril deste ano, Daniel Radcliffe ainda gravava algumas cenas de “Relíquias da Morte” e saiu de uma delas diretamente para as garras de um grupo de jornalistas de várias partes do mundo do qual o UOL Cinema fez parte.  Sem fôlego e agitado, falou sobre o novo filme e seu momento mais desafiador.  “Me senti um ‘alien’ diante desta coisa pesada que eu, como a maioria das pessoas, nunca experimentei”, disse ele, referindo-se ao encontro que deixa Harry de cara com a morte.

Com a proximidade de Voldemort e do próprio fim da saga, os dois últimos filmes têm tudo para serem os mais sombrios. Ainda assim, Radcliffe arrisca um palpite e se compromete com os fãs: sim, existirão momentos de respiro, especialmente se depender de Harry, Rony e Hermione. “Mesmo que a situação esteja muito complicada, eles vão sempre ajudar uns aos outros com humor e risos”.

TRAILER DO FILME ''HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE - PARTE 1"

Atencioso e sorridente, Radcliffe também falou sobre a cena em que Harry usa sutiã, brincou com o jeito de andar de Rupert Grint e mencionou, mais de uma vez,  a admiração profissional pelo ator Gary Oldman, intérprete de Sirius Black na série. “Ele me deu uma lição sobre não sentir medo e perder as inibições”, disse. A seguir, leia os principais trechos da entrevista. A primeira parte de “Relíquias da Morte” estréia nesta sexta, 19 de novembro. A segunda está prevista para 2011.

UOL CINEMA - Quais foram as cenas mais desafiadores em “Relíquias da Morte”?
DANIEL RADCLIFFE -
A cena que sempre esperei foi a da passagem de Harry pela floresta para encontrar Voldemort e a morte.  Foi difícil ter que lidar com várias emoções e uma situação complicada. Me senti um “alien” diante desta coisa pesada que eu, como a maioria das pessoas, nunca experimentei. Esta foi uma das cenas mais difíceis de fazer.

UOL CINEMA – Sabemos que os filmes finais deverão ter cenas sérias e pesadas como esta. Você poderia apontar também algum momento de diversão dos personagens?
RADCLIFFE -
Este filme é mesmo obscuro, mas como nos outros “Harry Potter” há humor. Este humor corre em paralelo à história. Não conseguiria apontar um momento específico  – temos filmado cenas mais sombrias ultimamente. Mas sempre teremos os três melhores amigos na história. Mesmo que a situação esteja muito complicada, eles vão sempre ajudar uns aos outros com humor e risos. Mas eu prometo que haverá cenas engraçadas.  Se não tiverem feito, eu escreverei uma agora (risos).

UOL CINEMA - Há rumores, por exemplo, de que você aparece de vestido no sétimo filme...
RADCLIFFE -
Não era um vestido, era um casaco e um sutiã (risos). Muito melhor! Quando Fleur (Clémence Poésy) toma polissuco para se parecer com Harry, ela se transforma, mas continua com as próprias roupas.  Então, quando ela se transforma em mim,  sou eu que visto as roupas dela.  Também usei um jeans apertado e uma jaqueta azul pequena (risos).

  • AP

    Daniel Radcliffe na pré-estreia mundial de "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1" em Londres (13/11/2010)

  • Divulgação

    Daniel Radcliffe aparece multiplicado na cena do filme em que seus amigos tomam polissuco para assumir sua forma e confundir os inimigos

  • Divulgação

    Harry Potter (Daniel Radcliffe), Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) enfrentam desafios decisivos em ''Harry Potter e as Relíquias da Morte''

UOL CINEMA - Com o polissuco, vão surgir ao menos sete Harry Potter.  Mas, nas filmagens, é você que tem que interpretar os personagens que, no filme, se transformam em Harry. Como foi para você fazer os trejeitos de todos os intérpretes?
RADCLIFFE -
Nós filmamos todas as cenas e falas com os atores de cada um dos personagens [que se transformariam em Harry].  Eu assisti e fiz o meu melhor para imitá-los. Alguns foram mais difíceis, como Rupert [Grint], porque ele tem trejeitos que nem imagina. Ele chacoalha a cabeça enquanto anda (risos)!

UOL CINEMA - Como é olhar para trás e ver sua atuação em Harry Potter? Tem cenas que você gosta mais?
RADCLIFFE -
Sim,  gosto da relação dele com Sirirus [Black]. Foram as maiores lições de atuação que eu tive. Ter alguém como Gary Oldman ao seu lado é um exemplo, porque ele é um ator totalmente destemido. Ele me deu uma lição sobre não sentir medo e perder as inibições. É preciso tentar manter a autocrítica de lado até que a cena esteja feita. A morte de Sirius e coisas relacionadas a este assunto foram difíceis de interpretar, e ainda são para mim, por eu nunca ter vivido estas experiências.

UOL CINEMA - Quais são seus novos planos? Tem algum diretor com quem você gostaria de trabalhar.
RADCLIFFE -
Sim, vários. Adoraria trabalhar com os irmãos Coen [Ethan e Joel], por exemplo. Sobre meus novos planos, estou de olho em algumas coisas, mas não há nada específico para dizer. Teremos que esperar alguns meses para ver (risos).

UOL CINEMA - Você tem encontrado dificuldades em encontrar novos papéis, já que a sua imagem é muito associada à de Harry Potter?
RADCLIFFE -
Não, não tenho, ainda bem.

UOL CINEMA - Há projetos fora da Inglaterra em vista?
RADCLIFFE -
Nunca filmei nos EUA, mas vou adorar ter esta experiência algum dia. Claro que gosto mais de filmar aqui, por que é minha casa, mas fazer algo na América é algo que planejo.

UOL CINEMA - Há algum ator que você vê como modelo?
RADCLIFFE -
Vou voltar ao nome dele: Gary Oldman (risos).  Ele é muito versátil e pode fazer o que quiser atuando.  Infelizmente, eu ainda não o vi nos palcos, mas quero ver por que sei que faz trabalhos incríveis. Também há pessoas como Hugh Jackman, que faz algo como “X-Man”, para milhões de pessoas, e em seguida faz uma peça.  Generalizando, acho que você é mais testado como ator nos palcos.

UOL CINEMA - Como o assédio de “Harry Potter” afeta sua vida pessoal?
RADCLIFFE -
Não afeta tanto quanto as pessoas imaginam. Há um ocasional frenesi mostrado na imprensa. Mas, fora isso, eu costumo ser deixado em paz,  o que é algo bom. Sim, há pessoas que te param na rua para falar com você, mas isto é legal. Elas costumam ser educadas e animadas. Claro que também há momentos inapropriados para abordagem, como quando você está jantando com uma namorada ou algo do tipo, é estranho. Mas, de maneira geral, não é algo tão grande que afete minha vida. O que me deixa feliz.

UOL CINEMA - Você gostaria de ver, no futuro, uma versão de “Harry Potter” sem você?
RADCLIFFE -
Eu daria tudo para ver isto (risos). Eu conheci um garotinho tempos atrás, tinha cinco anos, que me disse de um jeito fofo: “Eu gostaria de interpretar Harry Potter”. Eu disse: “Se você voltar em dez anos, eles provavelmente estarão fazendo uma refilmagem” (risos).  Talvez façam um prelúdio e tal  (risos).

UOL CINEMA - Para fazer os filmes, você já teve alguma informação antecipada de J. K. Rowling sobre seu personagem, mesmo antes de livros serem publicados?
RADCLIFFE -
Não, não e não. A única pessoa que teve mais informação sobre o personagem foi Alan Rickman [Severo Snape]. Ocasionalmente ela falou comigo sobre Harry. Uma vez, durante o quinto filme, ela demonstrou cuidado com as cenas da Armada Dumbledore. Disse apenas que no futuro Harry teria que liderar um grupo grande de pessoas, por exemplo, o que me fez pensar em uma grande batalha. E acho que, se não tivesse imaginado o que ela disse, poderia ter levado a cena do jeito errado. Fora isto, nunca tive muitas dicas do que seria feito com Harry no futuro.

UOL CINEMA - Você já viu ou tem planos de ver “Percy Jackson e o Ladrão de Raios”,  personagem que tem uma semelhança com Harry Potter, além de ser dirigido por Chris Columbus [diretor de “A Pedra Filosofal” e de “A Câmara Secreta”]?
RADCLIFFE -
Se eu tivesse visto o trailer daquele filme com doze anos eu teria corrido para os cinemas. Parece ótimo e é um filme de ação para crianças, algo que Chris faz de maneira brilhante. De toda forma, ainda não assisti, embora seja algo que eu verei em algum momento.

UOL CINEMA - Qual é o seu livro favorito da saga “Harry Potter”?
RADCLIFFE -
Meu livro favorito é o número cinco (“Ordem da Fênix”) e é também meu filme favorito. Achei  tocante e gosto muito do personagem Sirius Black, sempre gostei de ler sobre ele e sua relação com Harry. E eu amo Gary Oldman (risos).

* (A jornalista viajou para a Inglaterra a convite da Warner Bros.)