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Prestes a quebrar mais um recorde com "Tropa de Elite 2", José Padilha celebra sucesso do ''cinema político''

O cineasta José Padilha participa de "Sabatina da Folha", no auditório do Masp - Joel Silva/ Folhapress
O cineasta José Padilha participa de "Sabatina da Folha", no auditório do Masp Imagem: Joel Silva/ Folhapress

ALESSANDRO GIANNINI

Editor de UOL Cinema

24/11/2010 19h17

De acordo com as projeções de Marco Aurélio Marcondes, coordenador de lançamento de "Tropa de Elite 2", o filme de José Padilha deve bater o recorde de público do cinema brasileiro ainda esta semana ou, no máximo, até 3 de dezembro. O recordista oficial é "Dona Flor e Seus Dois Maridos", com 10,7 milhões de ingressos vendidos em sua carreira comercial nas salas. Adaptação do romance de mesmo nome de Jorge Amado, tem direção de Bruno Barreto e traz Sônia Braga e José Wilker nos papéis principais.

Até o momento, "Tropa de Elite 2" registra 10,1 milhões de ingressos vendidos. Segundo Marcondes esse número é "precário", o que no jargão do meio cinematográfico quer dizer incompleto. "Faltam ainda os números do circuito UCI, já que eles tiveram problemas com o sistema", disse ele, em uma entrevista exclusiva ao UOL Cinema por telefone. "É preciso somar a isso mais ou menos uns dez porcento." O coordenador de lançamento prevê que o filme chegará aos 12 milhões de público até o fim de sua carreira nas salas.

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Declaradamente avesso a números, Padilha se diz "feliz" com esse resultado. "Como cineasta, fico feliz com esses 10 milhões de ingressos vendidos", disse ele, em uma entrevista exclusiva ao UOL Cinema por telefone, da sede de sua produtora, no Rio de Janeiro. "Porque o 'Tropa de Elite 2' é um filme político. E isso demonstra que existe no Brasil interesse por debater os temas propostos por esses filmes. O cinema brasileiro tem uma vitalidade. Mostra que o cinema é uma aposta boa."

Por "cinema político" Padilha entende o cinema de cunho social, que coloca em discussão temas de interesse geral. "Tem política com  'p' minúsculo e política com 'p" maiúsculo", explicou ele. "O cinema político de que falo é como os americanos entendem. Por exemplo, 'Garapa' [documentário sobre a pobreza no Brasil profundo] eu considero dentro desse espectro. Porque discute um tema, a fome, de interesse geral."

Pela primeira vez desde a eleição de Dilma Rousseff para a presidência, Padilha falou sobre o aspecto político de "Tropa de Elite 2" e de suas próprias convicções. Em primeiro lugar, reafirmou que o dia 8 de outubro era a melhor data para o lançamento do filme, independente do processo eleitoral. "Foi uma decisão mercadológica", disse ele. Do ponto de vista político, o cineasta afirmou que a coisa mais importante das eleições foi o "Ficha Limpa". "Para o brasileiro, é mais importante mudar a regra [do processo eleitoral] do que ficar discutindo o resultado [das eleições]. Como funcionam as eleições aqui? Os políticos disputam cargos no governo para fazer caixa do partido e de campanha para disputar as próximas eleições. Esse tipo de processo favorece a corrupção. Não se pensa no bem comum. Por isso, não me interessa aderir a esse ou aquele lado."

Sobre a campanha eleitoral, especialmente a do segundo turno das eleições para presidente, Padilha disse que não ficou animado. "Achei que foi muito mercadológica", disse ele. "Sem coração e, talvez, até sem coragem. Para o Serra, principalmente, achei que faltou coragem. A [comentarista política] Miriam Leitão disse, e eu concordo: durante a campanha, nunca se falou em retomar o imposto da CPMF, mas depois o assunto veio à tona rapidamente."

Esses assuntos estarão em pauta no próximo filme do cineasta, o anunciado "Nunca Antes na História desse País". Até agora, Padilha e Luiz Eduardo Soares escreveram duas versões do roteiro. Segundo o cineasta, não há, por mais que isso possa parecer estranho, ligação com a realidade. "A ideia básica é de ficção", alerta. "Um partido de esquerda idealista e com o monopólio da ética tem uma chance de eleger um presidente. Como vai abrir mão de seus ideais para conseguir eleger o presidente e assumir o poder? Esse seria o primeiro ato, apenas, mas a história continua."