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"Foi difícil interpretar alguém que apóia as garotas jovens", diz Cher sobre papel em "Burlesque"

CINDY PEARLMAN

Do Hollywood Watch

20/12/2010 07h00

Cher não precisa de apresentação. Quando a mulher de 64 anos, tida por alguns como lenda do show business, entrou na sala, mostrou que estava no comando. Ainda assim, segundo sua própria confissão, sentia certo pavor. “Estou sempre apavorada quando inicio alguma coisa na minha vida. E então eu vivo o momento e percebo que tudo ficará ok”, diz.

Estrela desde meados dos anos 60, quando os gostos musicais mudaram e a separação da parceria com Sonny Bono ameaçaram relegá-la à irrelevância, ela se reinventou como atriz, impressionou os críticos da Broadway e conquistou um Oscar de melhor atriz por “Feitiço da Lua” (1987). Hoje ela ainda mantém uma condição física impressionante – chama a si mesma “a garota mais velha com o cabelo mais comprido e roupa mais curta”– e está chegando às telas de cinema com seu primeiro filme em uma década.

  • Getty Images

    Cher, o diretor Steven Antin e Christina Aguilera participam de première na Espanha (9/12/2010)


Em “Burlesque” ela é Tess, a proprietária de uma casa de dança burlesca na Sunset Strip, com Stanley Tucci como o diretor artístico que ajuda a descobrir uma novata talentosa (Christina Aguilera). Os talentos da jovem e sua personalidade logo causarão alvoroço na casa noturna. O filme, e uma recente temporada em Las Vegas, estão sendo chamados de o grande retorno de Cher, algo que a incomoda. “Eu não fui a lugar nenhum. De onde eu voltei, de Plutão? Ninguém sabia onde eu estava?”

Há 27 anos, no set de “Silkwood –O Retrato de uma Coragem” (1983), Cher era a jovem cantora tentando estabelecer suas credenciais como atriz e Meryl Streep era a estrela. Hoje, Cher é a estrela estabelecida e Aguilera, a princesa do pop, é a artista tentando fazer a transição. Em uma entrevista separada, Aguilera diz que deixou claro que faria qualquer coisa para dividir a tela com Cher. “Eu entrei na sala para conhecer a Cher e disse: ‘Oi, eu sou aquela que disse que beberia a água do seu banho’”. E o que Cher respondeu? “Eu vou dizer para você o que Meryl Streep me disse no set de ‘Silkwood’.”, e Aguilera continua: “‘Bem-vinda. Fico feliz por você estar aqui’”.

Falando seriamente, Cher confirma a fala de sua colega de elenco. “Isso me lembrou do relacionamento que eu tinha com minha boa amiga Meryl Streep, quando nos conhecemos e Meryl me colocou sob suas asas no set do filme”, diz Cher. “Eu nem mesmo tinha ideia de onde me posicionar. Não que eu já saiba onde me posicionar – eu acabei de aprender o que é ‘downstage’ (na frente do palco).” Do fundo da sala, uma voz se intromete.“Mas ela sempre soube o que é ‘upstage’ (roubar a cena)”, diz Tucci, que estava de passagem.“Touché, Tucci”, responde Cher alegremente.


Quanto a interpretar a diva que está envelhecendo e que é uma espécie de figura materna para as artistas mais jovens que estão roubando seu espaço, não foi preciso muito esforço para Cher. “Foi estranho. Foi difícil interpretar alguém que apóia as garotas jovens, ciente de que é isso o que está acontecendo na minha vida real. Eu tenho que dar espaço. Não que eu esteja fazendo isso graciosamente – você terá que me arrastar, com força.”

 Seu grande número de dança mostra o quanto ela ainda é capaz, mas não foi tão fácil quanto seria há uma geração. “Há uma cena onde Stanley Tucci me ajuda com meus sapatos e eu grito, ‘Ai’. Na vida real, eu estava pensando: ‘Ai, meus pés, minhas costas, meu ombro’. Eu estou velha! Eu passei minha vida toda me arremessando, dançando e caindo e sendo derrubada por dançarinos.” Cher nasceu Cherilyn Sarkisian LaPiere em El Centro, Califórnia. Sua mãe, Georgia Holt, atualmente com 84 anos, criou Cher sozinha após a partida do pai dela –apesar de ela ter se casado com ele três vezes diferentes entre seus oito casamentos.

Impressionada pelo show business desde a infância, Cher abandonou a escola no último ano do colegial e se matriculou em cursos de interpretação e canto. Em 1963, ela conheceu Sonny Bono e o resto é história, incluindo o casamento deles em 1964, a série de televisão e seus 11 sucessos na parada Billboard de 1965 a 1972, mais notadamente “I Got You Babe” (1965). Após o divórcio deles em 1974, Cher derrubou os céticos da cadeira ao estabelecer uma carreira solo que agora é mais longa e mais bem-sucedida do que a década que ela passou com Bono.

Sua vida privada também sempre foi altamente pública, com as manchetes mais recentes envolvendo a operação para mudança de sexo de sua filha, Chastity, em 2009. Cher se adaptou facilmente ao anúncio de sua filha, em 1995, de que era lésbica, mas reconhece ter dificuldades com a mudança de sexo e a mudança de nome para Chaz Bono.“Eu ainda tenho dificuldades em dizer ‘ele’ ou ‘ela’”, reconhece a atriz. “O mais importante é que seja feliz.”

Tradutor: George El Khouri Andolfato