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Em ''Aos Ventos que Virão'', papel de Rui Ricardo Diaz é inspirado em cangaceiro do bando de Lampião

DANIELLE NORONHA

Colaboração para o UOL

29/12/2010 07h00

José Francisco do Nascimento, o Zé de Julião, nasceu em Poço Redondo, no sertão de Sergipe, a 210 km da capital Aracaju. Foi cangaceiro do bando de Lampião e apelidado como Cajazeira. Sobreviveu ao episódio da Gruta do Angico, em 28 de julho de 1938, onde morreram Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros, incluindo sua primeira esposa, Enedina. Perseguido, morou na Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Retornou para sua terra e se candidatou a prefeito duas vezes. Saiu vitorioso, mas não pôde assumir por problemas políticos. Foi morto em uma emboscada em 1961.

Esse é o resumo da história que Inácio José do Nascimento, 71, filho de Zé de Julião, contou durante visita ao set do filme “Aos Ventos que Virão”, de Hermano Penna (“Olho de Boi”). O filme é inspirado na vida deste personagem. Debaixo do sol forte do sertão, UOL Cinema acompanhou uma de suas cenas e a preparação dos bastidores.

Inspirado na história real

O diretor Hermano Penna conta que conheceu a história de Julião durante sua passagem pela região quando realizava o filme “A Mulher no Cangaço” (1976).  Ficou interessado e, num próximo passo, começou a trabalhar com ela. “O filme se tornou a história dele e de muitas outras do sertão. Eu sou uma pessoa que nasci no Crato, no Ceará, uma região cheia de contos. Hoje o filme é um amontoado dessas histórias e uma reflexão minha sobre o sertão, sobre as instituições brasileiras, mais do que isso, é um filme de cinema com todos os atrativos que eu acho que o público deseja ver”, explica o diretor.

Não pense que o filme é sobre o cangaço. Penna garante que não. Diz que o personagem apenas passa por ele. Em outras palavras, tem algumas lembranças, tem a memória, mas o principal é a vida do personagem, Zé Olimpio.

Rui Ricardo Diaz (“Lula – O Filho do Brasil”) foi o escolhido para interpretar o protagonista inspirado em Julião. Penna diz que o selecionou por ter gostado muito de sua atuação em “Lula” e acredita que ele está fazendo um grande trabalho: “Está sendo muito bom pela dedicação dele, largou tudo para ficar 30 dias aqui, andando a cavalo, caçando, ouvindo as pessoas. Não é todo ator hoje, no Brasil, que se dispõe a esse tipo de experiência”.

Diaz foi para Sergipe um mês antes de começar as filmagens para preparar Zé Olimpio. “Comecei a sair pela caatinga, ouvir as histórias, sentir a atmosfera do lugar, conversar com pessoas, com gente que teve algum parente ou relação com o cangaço, mesmo que o filme seja pós-cangaço, que tenha outro olhar, um outro viés sobre esse tema, a minha preparação foi basicamente essa”, conta o ator.

Antes das filmagens, foram realizadas oficinas de produção e elenco para selecionar atores e profissionais da região para a equipe. Em uma dessas oficinas estava Antonio Rodrigues, 24, morador de Poço Redondo, que foi selecionado para viver Lampião. Penna já tinha visto o ator como o cangaceiro em uma de suas apresentações com o grupo de xaxado “Pisada do Lampião” e o achou perfeito para o papel.

Para Rodrigues, que atua desde os oito anos no teatro, participar de um longa-metragem é uma oportunidade única: “Trabalho numa empresa de segurança. Quando tem gravação, tem que dar um jeito, deixar o serviço de lado porque é um sonho, uma oportunidade como essa, de trabalhar no cinema é algo muito bom, e eu quero muito”.

Além de locações em diversas regiões do sertão de Sergipe, como Canindé do São Francisco e povoados, o longa será filmado em São Paulo e Brasília. Em Sergipe, as filmagens acabaram em 18 de dezembro, e retornam em janeiro, em São Paulo. A obra é filmada em super 16, tem um orçamento de R$3 milhões e a previsão de estreia é para outubro de 2011.