"Gosto do fato de que você nunca sabe o que vai acontecer", diz Johnny Depp sobre ''O Turista''
“O lance com Johnny Depp é que viemos para este filme com a mesma ideia básica”, diz Angelina Jolie. “Nós queríamos apenas fazer um filme à moda antiga, no sentido de que fosse um verdadeiro prazer para o público.” Depp, que fora das telas é tão modesto e discreto quanto Jolie é exuberante, concorda com ela nisso. “Meu lance era o seguinte: eu só queria convidar as pessoas e dizer pra elas: ‘Esqueçam tudo mais, apenas divirtam-se’”, diz Depp.
Preparando-se para uma entrevista em um hotel em Hollywood, Depp parece quase tímido, como se estivesse inseguro de que alguém possa realmente querer que ele fale a respeito de si mesmo, um assunto que ele parece considerar desinteressante – um ponto de vista raro por parte de um dos maiores astros de Hollywood. “Eu gosto de falar sobre as crianças”, ele diz rindo. “Gosto de falar de arte. Sou um sujeito que já esteve em uma banda e já vendeu canetas para se sustentar. (...) Fico chocado por ainda ter trabalho. Achava que a esta altura já teria sido chutado para fora do clube.”
É improvável: o ator de 47 anos, indicado três vezes ao Oscar de melhor ator, acumula em sua carreira uma bilheteria de US$ 5,9 bilhões, de forma que ele continuará recebendo ofertas de trabalho por mais algum tempo. Ele e Jolie não são apenas atores de ponta, também são praticamente vizinhos na França. No entanto, até serem reunidos para fazer “O Turista”, que estreou nos Estados Unidos em 10 de dezembro, eles praticamente nunca tinham se encontrado – o que Depp atribui a sua própria relutância em chamar atenção. “Honestamente, eu gosto de ficar em casa e assistir filmes. Saio com minha garota e meus filhos.”
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Baseado vagamente no filme francês “A Caçada” (2005), estrelado por Yvan Attal e Sophie Marceau, “O Turista” apresenta Jolie como uma mulher interessada por lavagem de dinheiro. Quando percebe que está sendo perseguida tanto pela polícia quanto por criminosos russos furiosos, ela foge e conhece um turista americano (Depp), que está em Veneza tentando superar uma separação. Logo ele se vê envolvido na fuga, sem perceber que ela tem seus interesses próprios e que eles não necessariamente lhe favorecerão.
Vários astros teriam sido cogitados para o filme, mais notadamente Tom Cruise e Charlize Theron. Mas Depp sempre esteve interessado, desde que pudesse filmá-lo antes de partir para “Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas”, no qual reprisará seu papel indicado ao Oscar, o do capitão pirata Jack Sparrow. “Eu gostei muito do filme original. Meu amigo interpretou o personagem nele, e eu gostei do papel e achei que poderia ser interessante explorar esse personagem. Gosto do fato de que, no filme, você nunca sabe o que vai acontecer.”
Tim Burton e Johnny Depp em pré-estreia nos EUA
Depp no pape-título de "Edward-Mãos de Tesoura"
Depp e Jolie – que ele chama de “uma garota bem legal”– se encontraram antes da filmagem, simplesmente para se conhecerem, mas não demorou muito. “Havia pais na sala e logo se transformou naquilo em que nossos filhos estavam dizendo e fazendo.”
“Ele foi tão interessante quanto eu esperava que fosse”, diz Jolie, em uma entrevista separada. “Ele interpreta, pinta, é um homem de família maravilhoso. Há muita coisa transcorrendo dentro dele.”
John Christopher Depp cresceu na Flórida fantasiando a respeito do que está fazendo agora. "Eu fui uma criança solitária. Assistia filmes como forma de escape. Pensava: ‘Quem me dera poder ser transportado para outro lugar’. Era basicamente um sentimento de ‘me tire daqui’. Sabia que existia algo mais lá fora.”
Depp abandonou a escola aos 15 anos com a ambição de se transformar em um astro do rock, mas após se mudar para Los Angeles, a fama e a fortuna provaram ser esquivas. Foi quando ele trabalhou vendendo canetas. Ele se tornou ator quando sua esposa na época, Lori, o apresentou para Nicolas Cage. Cage ajudou Depp a conseguir seu primeiro papel em um filme de horror barato que acabou se transformando em um clássico: “A Hora do Pesadelo” (1984).
Ele se tornou um ídolo adolescente como o policial Tom Hanson na série de TV de sucesso “Anjos da Lei” (1987-1990), e então emplacou um grande sucesso nas telas como o personagem-título de “Edward Mãos-de-Tesoura” (1990), sua primeira colaboração com o diretor Tim Burton, com quem já fez até o momento sete filmes, todos bizarros de um jeito ou de outro. Entre seus outros filmes estão “Benny & Joon –Corações em Conflito” (1994), “Gilbert Grape –Aprendiz de um Sonhador” (1993), “Ed Wood” (1994), “Donnie Brasco” (1997), “Medo e Delírio” (1998), “Chocolate” (2000) e “Piratas do Caribe –A Maldição do Pérola Negra” (2003), um sucesso surpreendente que resultou em três sequências, com provavelmente mais a caminho.
Depp em "Alice no País das Maravilhas", de Burton
Depp e sua esposa, a cantora francesa Vanessa Paradis, participam de evento em imagem de 2006
Alguns presumiram que após as indicações ao Oscar por “Em Busca da Terra do Nunca” (2004) e “Sweeney Todd –O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet” (2007), Depp daria as costas à série “Piratas do Caribe”, mas ele insiste que não tem nada contra um ocasional filme popular. “As pessoas querem esses filmes. Meus filhos os adoram e eu adoro fazê-los.”
Depp fez da França o seu lar, onde ele e sua antiga namorada, a cantora e atriz francesa Vanessa Paradis, vivem com seus filhos, Lily-Rose Melody e Jack. Quando ele e Paradis se conheceram, diz o ator, foi amor à segunda vista. “Eu estava no saguão de um restaurante e a vi de costas do outro lado da sala. De repente ela se virou, naquele modo de câmera lenta, e olhou para mim. Tudo o que vi foram aqueles olhos lindos. Então ela caminhou na minha direção e disse oi. Ela disse: ‘Você se lembra de mim?’ Eu lembrei, porque tínhamos nos conhecido vários anos antes”, diz Depp, depois rindo. “Naquele momento eu soube que tinha sido fisgado.”
Equilibrar suas carreiras não é fácil, ele acrescenta, mas estão comprometidos em fazer com que funcione. “Quando estou trabalhando, ela vem comigo e leva as crianças. Quando ela está trabalhando, eu acompanho e levo as crianças. Ser pai mudou tudo para mim. A paternidade me revelou. Ela me deu uma grande perspectiva e um verdadeiro propósito na vida. E também estou bem calmo.”
Mas uma das coisas que a paternidade não mudou foi sua escolha de filmes – porque, segundo ele, essa mudança aconteceu anos atrás. “No instante em que deixei a série de televisão, eu comecei a fazer escolhas que basicamente envolviam se continuaria orgulhoso do filme no futuro ou se outros na minha vida se orgulhariam de mim. Honestamente, eu não achei que aquilo duraria muito. Eu apenas busquei desfrutar cada momento e cada filme.”
Como resultado, diz o ator, ele pode olhar para sua filmografia com prazer. “Eu gosto deles todos. Eu não falo sobre o resultado final ou em assisti-los, porque sou muito ruim nisso. Há alguns que nunca assisti – é melhor para mim não vê-los. Em termos de experiência, todos foram uma ótima educação. Eu me diverti muito em ‘Medo e Delírio’ e muito em ‘Ed Wood’. Eu me diverti muito em todos os ‘Piratas do Caribe’. Para mim, trata-se da realização do projeto”, conclui Depp. “Para mim o que importa é a experiência.”
(Cindy Pearlman é uma jornalista free-lance baseada em Chicago)
Tradução: George El Khouri Andolfato
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