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Como intelectual e curioso, me interesso pela morte, diz Iñárritu sobre o drama ''Biutiful''

Alejandro González Iñárritu, diretor de ""Biutiful"", é visto nas filmagens - Divulgação/ Imdb
Alejandro González Iñárritu, diretor de ''Biutiful'', é visto nas filmagens Imagem: Divulgação/ Imdb

THAÍS FONSECA

Da Redação

19/01/2011 07h00

Indicado ao Globo de Ouro, ao Bafta e com expectativas para concorrer ao Oscar de filme estrangeiro em 2011, “Biutiful” chega ao Brasil nesta sexta-feira (21) com boa repercussão. Traz na bagagem as elogiadas performances do ator Javier Bardem - vencedor de melhor ator no Festival de Cannes, em 2010 - e do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, conhecido por títulos como “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”.

Devido ao lançamento do filme, previsto para esta sexta-feira (21), o diretor visitaria São Paulo nesta quarta (19), para entrevistas a jornalistas. Por motivos pessoais, Iñárritu cancelou o compromisso, mas se dispôs a conversar rapidamente com UOL Cinema por telefone.

  • Divulgação

    Javier Bardem é o protagonista de ''Biutiful''

A expectativa para o Oscar, claro, foi um dos assuntos em pauta. “Não sei, é algo que está fora de minhas mãos. É obvio que é uma ótima visibilidade para o filme, mas é melhor não esperar muito. Há risco de me frustrar”, disse.  Com a divulgação das indicações prevista para o próximo 25 de janeiro, “Biutiful” é tido como aposta certa e há até torcida de Julia Roberts para que Bardem concorra a melhor ator. Iñárritu é comedido no otimismo das indicações, mas ao falar do trabalho do ator, se entusiasma. “Foi soberbo. Ele é perfeccionista e tem uma intensidade que quase nos matou”, brinca.  

Na pele de Uxbal, um homem que sobrevive numa caótica e deprimente Barcelona, o ator tem atuação impecável, em uma história que exigiu carga dramática pesada. Diretor e ator se conheceram há dez anos, em clima de Oscar: enquanto Iñárritu era indicado na categoria filme estrangeiro com “Amores Brutos”, Bardem concorria a melhor ator por “Antes do Anoitecer”.

Nenhum deles levou a estatueta, mas planejaram trabalhar juntos "algum dia". Até “Biutiful” entrar em cena. Em entrevista de Javier Bardem ao UOL Cinema em julho do ano passado, o ator confirmou a dedicação ao papel. Como consequência de ter feito uma história tão pesada, resolveu interpretar em seguida o brasileiro Felipe, no solar “Comer, Rezar, Amar”. “Quando você faz algo por meses como ‘Biutiful’, precisa escapar para um lugar diferente, senão vai ficar para baixo por um tempo. É preciso ficar atento com o que acontece com seu corpo e saber dizer o que quer. De outra forma, pode confundir o que acontece com você e com o personagem, achar que está sentindo o que ele sente, e fica confuso”, disse Bardem em Cancún, no México.

Clima dramático

Uxbal é o centro do filme, roteirizado pelo próprio Iñárritu, por Armando Bo e Nicolás Giacobone. Em linhas gerais, o protagonista é um pai de família exigente e dedicado, que tenta educar a filha mais velha, chamada Ana (Hanaa Bouchaib), e o mais novo, Matteo (Guillermo Estrella), após se separar da mulher (interpretada por Maricel Alvarez). Numa casa pobre, de pouco conforto, cuida em tempo integral das crianças e tenta protegê-las da instabilidade emocional da mãe.  É ele que leva os filhos à escola, cuida do almoço e ajuda na lição de casa.  Neste último caso, o momento singelo levou ao título do filme.

TRAILER DO FILME ''BIUTIFUL''

Na cena, a filha pede ajuda ao pai para escrever a palavra “biutiful”, em inglês (o idioma do filme é espanhol). O contraste da palavra com os dramas dos personagens saltou aos olhos de Inãrritu quando o filme já estava pronto. “Costumo encontrar um nome só depois que os bebês nascem”, disse, rindo.

Além do problema familiar, a história amarra vários outros obstáculos complexos, entre eles a proximidade de Uxbal com a morte - ele descobre ter uma doença grave - e com os mortos. Logo no início da trama, por exemplo, o público conhece a habilidade do personagem de ver e conversar com os espíritos de pessoas que já morreram. “O que acontece após a morte é um tema filosófico e religioso. Como intelectual e curioso, me interesso pelo assunto”, afirmou, ressaltando sem maiores detalhes que se considera uma pessoa “espiritualizada”.

Em algumas ocasiões, Uxbal ganha dinheiro como uma espécie de médium, apesar de resistir internamente em receber por isto. Mostrado como um homem com senso de justiça e paciência, os conflitos do personagem - que lida com injustiças de várias ordens, apesar de se horrorizar com elas -, dão o tom da história.

Ao mostrar um lado de Barcelona que tem cara de terceiro mundo, “Biutiful” aborda também corrupção na polícia, imigração ilegal e exploração do trabalho dos imigrantes. Como é de se imaginar, há pouquíssimo espaço para comicidade. Em alguns casos, também há problemas de personagens secundários, que em alguns momentos parecem desnecessários. Mas em geral, o gênero drama, velho conhecido de Iñárritu, é levado a sério e conduzido com propriedade.

Ainda assim, o diretor afirma que seria capaz de surpreender o público com uma comédia no futuro. “Eu me conectei com o drama, mas na vida real posso ser um pateta”, afirma. “Adoraria tentar fazer uma comédia. Não dessas comédias românticas que existem por aí, mas um bom filme”, diz, lembrando do desafio. “Adoro comédias e acho que é preciso ser um mestre para fazer rir”.