Documentário parte de grandes enchentes ocorridas no Rio para denunciar pouco caso com o assunto
Sempre que um documentário jornalístico estreia nos cinemas ou passa em algum festival, uma pergunta difícil de ser respondida é se esse documentário caberia melhor na TV ou no cinema. A TV parece lidar melhor com esse sentido de urgência, de denúncia do descaso de autoridades e habitantes com os problemas que podem acontecer do que o cinema. Por outro lado, a tela grande parece passar um sentimento de amplitude que trabalha subliminarmente a favor da denúncia, aprofundando o incômodo e levando as pessoas a reagir.
Exibido na Mostra de Tiradentes deste ano (evento mineiro acontece até 29 de janeiro), "Enchente", de Julio Pecly e Paulo Silva, parte das grandes enchentes ocorridas no Rio de Janeiro em 1996 para denunciar o pouco caso com que todos os envolvidos - considerando aí governantes, cariocas, jornalistas, urbanistas e sanitaristas, principalmente - tratam o assunto.
São tocantes alguns depoimentos colhidos na época, principalmente o de uma senhora que é entrevistada novamente hoje e retoma sua indignação diante do entrevistador, logo após ter visto sua entrevista da época em seu aparelho televisor. Nessa hora, a plateia aplaudiu com entusiasmo, em cena aberta.
Outros momentos demonstram força, como o do menino morto, carregado pelos bombeiros "como um cachorro", segundo as palavras de Zezinho, que registrava tudo com sua câmera amadora. Chega a ser chocante ao demonstrar a dura realidade que atinge muito mais os que não podem se defender.
Utilizando cenas de telejornais e de cinegrafistas amadores, rios de lama são mostrados pelo filme, numa impressionante e trágica sinfonia de natureza e mal planejamento urbano. O Rio de Janeiro, segundo um especialista entrevistado, "está numa área de alta pluviosidade". A conclusão que se tira é cruel: uma cidade cercada de água pode ser tomada por ela quando a natureza interfere aumentando os índices pluviométricos e contribuindo para o deslizamento de terra.
Triste realidade de outras cidades também, e que o tradicional e nocivo oba-oba brasileiro empurra sempre para debaixo do tapete. Até que uma nova tragédia aconteça.
Vale dizer que é importante que "Enchente" seja visto e mostrado por aí, mas o uso exagerado e equivocado das músicas incomodam, e enfraquecem bastante a possibilidade de choque. E a denúncia, quando não choca, tem o efeito atenuado.
Imaginem esse conjunto de imagens tendo como banda sonora só o barulho da água barrenta e as declarações das pessoas. Teria muito mais força. Visite o site oficial da Mostra.
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