Topo

Em "Burlesque", Christina Aguilera diz que queria levar as pernas nas alturas

Christina Aguilera interpreta Ali no musical ""Burlesque"" - Divulgação
Christina Aguilera interpreta Ali no musical ''Burlesque'' Imagem: Divulgação

THAÍS FONSECA

Enviada especial a Cancún, México*

09/02/2011 09h00

Em seu primeiro trabalho como atriz no cinema, Christina Aguilera não trilhou o caminho de outras cantoras pop, como Mariah Carey e Britney Spears, duramente criticadas por suas atuações em “Glitter - O Brilho de Uma Estrela” (2001) e “Crossroads - Amigas para Sempre” (2002). Em outras palavras, não recebeu uma indicação elogiosa ao Oscar por sua perfomance em “Burlesque”, mas também escapou de uma “homenagem” da marota premiação Framboesa de Ouro, que escolhe os piores do ano. O filme - indicado em 2011 na categoria filme de comédia ou musical do Globo de Ouro - estreia nesta sexta-feira (11) nos cinemas brasileiros.

Críticas à parte, Aguilera fez a alegria de  fãs ao se unir a Cher num musical que prioriza sua capacidade de cantar. Com o trunfo nas mãos – ou melhor, na garganta -, sentiu-se mais segura para correr atrás de outras necessidades, como a de aprender a dançar. “Havia uma bailarina para fazer no meu lugar, mas pensei: ‘Eu vou conseguir. Vou provar que consigo levar minhas pernas nas alturas’”, contou cantora a um grupo de jornalistas – do qual UOL Cinema fez parte – em Cancún, no México, em julho do ano passado.

A determinação nas coreografias foi ressaltada por outro entrevistado, o diretor Steve Antin. “Com o apoio de bailarinos experientes nos ensaios, ela se impôs. Fez coisas que nunca imaginou. Eu disse que alguém faria por ela um movimento bem difícil, mas ela acabou treinando por semanas e voltou com o movimento pronto nos ensaios”, elogiou.

O status de aprendiz, por sorte, combina com a da própria personagem, uma garota do interior de Iowa que se muda para Los Angeles em busca de oportunidades melhores. Ali – como é chamada – tem um objeto de desejo inusitado na história, que se passa na atualidade: ao invés de querer  buscar a fama na indústria de Hollywood ou de soltar a voz num programa como "American Idol", sonha em fazer parte do modesto clube de Tess (Cher), que exibe espetáculos burlescos.

Cheio de belas mulheres, o local se mantém (com dificuldades) com números musicais representados com dançarinas bem preparadas, mas que só cantam com a segurança do playback – com exceção de Tess, única a fazer os dois. Até Ali usar os cenários cheios de espelhos, plumas, perucas e brilhos para mostrar suas habilidades vocais. “O burlesco dos anos 20, 30 e 40 é algo que eu via nos livros. Todo o lance dos cabelos, da maquiagem, da sensualidade envolvida na dança me intrigava. E eu cresci ouvindo músicas como ‘Something's Got a Hold On Me’, cantada por Etta James, e vi em Paris o número 'I am a Good Girl'”, contou Aguilera.

Da perspectiva de quem, na infância, não podia assistir clipes da Madonna ou conceber a ideia de uma presidente mulher, dançar no palco com trajes mínimos e poses sedutoras foi visto como libertador. “As coisas mudaram e acho que é preciso se sentir bem no próprio corpo e ter atitude”, disse.

Seu colega de elenco e par romântico Cam Gigandet, intérprete do barman Jack, reforçou a opinião, antecipando uma defesa ao filme. “'Burlesque’ não faz julgamento sobre as mulheres que estão ali [dançarinas do clube de Tess]. Elas não se sentem objetos”, opinou. Na trama, os personagens masculinos são ofuscados pelos femininos, em quantidade numérica e na expressão de seus talentos. No caso do casal Ali e Jack, por exemplo, ela ganha cada vez mais destaque no clube, enquanto ele custa a se arriscar como compositor.

Nos bastidores a supremacia também era feminina, com Cher e Aguilera como divas, tendo esta última acumulado, ainda, a função de compositora da trilha sonora, em músicas como “Express” e “Bound To You”.

Atriz e diretor iniciantes

Inexperiente no mundo da atuação, Aguilera contracenou com veteranos como Stanley Tucci – engraçado no papel do costureiro gay – e de Cher – esta última, sim, indicada a pior atriz coadjuvante no Framboesa de Ouro. E teve aulas de atuação, para garantir. “Queria aproveitar o trabalho de todo mundo que estava ali. Eu estava como uma esponja, absorvendo o que tinham para me ensinar”.

A confiança em sua performance vinha especialmente do diretor, que afirmou ter Aguilera como primeira opção desde o início. “Pensei em Christina quando a vi tocar com a Pussycat Dolls. E quando a vi participando do ‘Saturday Night Live’, achei que tinha habilidades como atriz. Além do fato de que ela cresceu em televisão [ela fez Mickey Mouse Club, na TV norte-americana] e fez vários clipes musicais que contam histórias”, afirmou Antin.

Em um desses clipes, “Lady Marmalade” (ouça aqui), a cantora usa cabeleira loira e muita maquiagem, em cenário que também faz referência ao universo burlesco, dividindo espaço com as cantoras Lil' Kim, Mýa e Pink.

  • Getty Images

    Cher, o diretor Steven Antin e Christina Aguilera posam juntos em première de ''Burlesque'' em Madri, na Espanha (9/12/2010)

Apesar da segurança no elenco de “Burlesque”, foi o próprio diretor que se viu na posição de provar seu talento. “Me preparei bastante para apresentar a Cher, Christina e Tucci o que eu queria das músicas e dos personagens, por que eu é que precisava provar para eles que poderia fazer o filme (risos). Não havia muitas evidências disto, pois eu tinha feito vídeos musicais apenas. E eu os convenci”, contou Antin, orgulhoso.

Além da direção de clipes, ele tem várias participações como ator em filmes, dentre eles o famoso (e saudoso, para muitos) “Os Goonies” (1985), aventura infanto-juvenil onde ele aparece novinho no papel de Troy – o garoto popular que tira sarro de um igualmente jovem Josh Brolin. Antin também é creditado como roteirista em filmes como “Gloria – A Mulher”, protagonizado por Sharon Stone, e no próprio “Burlesque”, no qual confiou nos atrativos antes mesmo de filmar. “Este filme tinha apelo comercial, por isso teve retorno [para ser feito]. Era óbvio que eu queria fazer um filme para a massa, não para uma audiência pequena. Queria falar e entreter muita gente, algo que o burlesco fazia, voltado ao puro entretenimento”, disse, ressaltando o tom da produção.

* (A repórter viajou para o México a convite da Sony Pictures)