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"Fiz o filme para aproximar as pessoas do morro", diz diretora de "O Samba que Mora em Mim", premiado na Mostra de SP

ALYSSON OLIVEIRA

Do Cineweb

12/02/2011 07h00

É uma ideia quase paradoxal: Geórgia Guerra-Peixe passou a infância ouvindo sambas-enredo, seu pai é um estudioso do assunto e foi diretor cultural da Mangueira, morou no Rio de Janeiro, mas nunca havia subido o morro. Por isso, suas descobertas em seu documentário "O Samba que Mora em Mim" têm o frescor de quem desbrava algo pela primeira vez.

"Eu queria descobrir quem são essas pessoas que estão por trás do samba. O filme é a minha curiosidade, mas não é apenas o meu samba, é o samba de todo mundo, até do espectador", disse em entrevista ao UOL Cinema.

Ganhador do prêmio especial do júri na Mostra de Cinema de São Paulo do ano passado, em "O Samba que Mora em Mim" - lançado na sexta-feira, 11 de fevereiro - vemos uma diretora em busca, como ela mesma diz, de "um olhar diferente sobre aquele ambiente".

"Queria mostrar uma nova imagem do morro, ao contrário daquela que aparece todo dia no jornal. Existe violência? Sim, existe. Mas também há beleza, musicalidade, diversão. Fiz um filme para aproximar as pessoas do morro", explica.

Georgia conta que em momento algum dos três meses da filmagem viu qualquer indício de violência ou algo parecido. "Era mais arriscado ser assaltada andando pela orla".

No morro da Mangueira, a documentarista e sua equipe acompanham aquilo que ela chama de pré-carnaval, revelando alguns personagens interessantes e inusitados. "Foi uma escolha totalmente intuitiva. Minha assistente fez uma pesquisa prévia, mas deixei meu faro me guiar com as pessoas que estão no filme".

TRAILER DO FILME "O SAMBA QUE MORA EM MIM"

Enquanto filmava "O Samba que Mora em Mim", Georgia percebeu também uma outra necessidade: a de se colocar, na primeira pessoa.

"Para que funcionasse, eu tinha que contar a minha relação com o samba, com o morro. Isso me ajudou, porque criei vínculos com as pessoas, ficamos próximas. E elas ficaram à vontade para conversarmos e esquecer que havia uma equipe de dez pessoas ao redor".

O resultado é mais do que uma entrevista: uma interatividade entre a documentarista e seus personagens.

Nesse passeio intimista por dentro de uma favela, Georgia dá espaço àqueles que, segundo ela mesma, "não têm muito espaço na sociedade". "A comunidade é um mundo paralelo. As pessoas são muito amigas de você, se afeiçoam rapidamente. É um carinho que a gente não encontra em qualquer lugar".

O filme estreou dia 11 de fevereiro, mas antes disso, já foi exibido em festivais nacionais e internacionais, como o de Estocolmo, em novembro passado. "Eu tinha receio de como o filme seria recebido e compreendido lá fora. Mas o resultado foi muito bom. As pessoas entenderam e se emocionaram. Muita gente me disse que encontrou um Brasil diferente, repleto de fé, divertido e dono de uma beleza própria".