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Primeiro concorrente alemão ao Urso de Ouro, "Sleeping Sickness" ataca assistencialismo europeu e divide plateia da Berlinale

Os atores Jean-Christophe Folly, Pierre Bokma, Jenny Schily Hippolyte Girardot ao lado do diretor Ulrich Koehler (de camisa cinza), elenco do filme "Sleeping Sickness", no Festival de Berlim 2011 (12/02/2011) - Getty Images
Os atores Jean-Christophe Folly, Pierre Bokma, Jenny Schily Hippolyte Girardot ao lado do diretor Ulrich Koehler (de camisa cinza), elenco do filme "Sleeping Sickness", no Festival de Berlim 2011 (12/02/2011) Imagem: Getty Images

ALESSANDRO GIANNINI

Enviado especial a Berlim

12/02/2011 10h02

"Sleeping Sickness" é o primeiro concorrente alemão a ser exibido no Festival de Berlim 2011. Inspirado em memórias do diretor Ulrich Köhler, cujos pais trabalharam na África, e em clássicos como "No Coração das Trevas", de Joseph Conrad, o filme conta a história de um médico francês de origem africana que vai para Camarões em visita de inspeção a um projeto financiado pela Organização Mundial de Saúde. E, ao chegar lá, encontra o médico alemão responsável pelo projeto em uma situação de completo caos. O filme dividiu a plateia de jornalistas que assistiu ao filme esta manhã no Berlinale Palast - muitos aplaudiram e uma parte igualmente grande assobiou e deu risadas do fim enigmático.
 
Na entrevista coletiva que se seguiu, com a presença de Köhler e dos atores Pierre Bokma, Jean Christophe Folly, Jenny Schily e Hippolyte Girardot, essa divisão de avaliação apenas se acentuou. Muitas perguntas eram antecedidas, como de costume, por elogios, mas houve quem acusasse o filme de ser "confuso" e, para fazer uma analogia com a metáfora do título, "sonolento". O diretor alemão se defendeu como pode dizendo que sua intenção principal era mostrar como o assistencialismo europeu na África pode ser ao mesmo tempo benéfico e nocivo, moralizante e corruptor.
 
"Minha intenção era mostrar como funciona o mundo desses estrangeiros que prestam assistência na África", disse ele, cujos pais trabalharam anos no Zaire. "Sempre me perguntei como essas pessoas conseguem viver em um ambiente em que eles vivem como privilegiados. Certamente, é muito difícil querer abandonar benesses como salários altos, casas enormes, funcionários."
 
É justamente nessa situação que se encontra Ebbo, personagem de Bokma, quando o filme começa. Ele está prestes a ser substituído e voltar para a Alemanha coma mulher e a filha. Mas, por razões que o filme não explica deliberadamente, ele permanece. E o ponto de vista muda subitamente para Nzilla, interpretado por Folly, que chega da França para avaliar outro projeto no qual o médico alemão trabalha, supostamente para erradicar a "doença do sono", uma patologia endêmica em países africanos. 
 
Repleto de metáforas que envolvem lendas locais, mudanças narrativas, elipses inexplicáveis, "Sleeping Sickness" tem pelo menos o dom da ousadia, no sentido de que faz tentativas onde apenas cineastas como o tailandês Apichatpong Weerasethakulse aventuraram com algum sucesso. Para um júri presidido por Isabella Rossellini e com o cineasta Guy Madin como integrante essa tentativa pode bastar.