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Diretor iraniano de filme favorito ao Urso de Ouro lamenta ausência de Jafar Panahi

A atriz Leila Hatami, o diretor Asghar Farhadi e as atrizes Sarina Farhadi e Sareh Bayat participam do Festival de Berlim com o filme""Nader and Simin - A Separation", em competição (15/02/2011) - Getty Images
A atriz Leila Hatami, o diretor Asghar Farhadi e as atrizes Sarina Farhadi e Sareh Bayat participam do Festival de Berlim com o filme''Nader and Simin - A Separation", em competição (15/02/2011) Imagem: Getty Images

ALESSANDRO GIANNINI

Enviado especial a Berlim

15/02/2011 12h09

Passada a metade do Festival de Berlim, surgiu finalmente um filme com estatura suficiente para levar o Urso de Ouro - algo que, até o momento, parecia improvável. "Nader and Simin - A Separation" é a quinta realização do diretor iraniano Asghar Farhadi e a segunda dele a participar da Berlinale. Há dois anos, Farhadi veio ao festival alemão com "Procurando Elly", que lhe valeu o Urso de Prata de melhor direção.

Farhadi, que está em Berlim para promover "A Separation" em companhia das atrizes Leila Hatami, Sareh Bayat  e Sarina Farhadi, falou sobre a ausência de Jafar Panahi, cineasta iraniano que está preso no Irã, acusado de fazer filmes de propaganda contra o regime, impedido de exercer sua profissão e proibido de viajar para integrar o júri da mostra competitiva do festival. "Eu lamento muito o que aconteceu", disse ele. "Nenhum cineasta do mundo inteiro ficou indiferente a isso. Você o conhece pelos filmes, eu o conheço pessoalmente. Antes de vir para cá, liguei para ele a fim de me despedir. Fiquei triste de viajar para um lugar onde ele não poderia estar."


Mais uma vez, Farhadi coloca em cheque várias questões morais a partir da história de um casal laico de classe média que decide se separar. Simin (Leila Hatami) conseguiu um visto e tem 40 dias para sair do país, mas seu marido Nader (Peyman Moaadi) não quer abandonar o pai doente e dependente. Entre os dois, há a filha de 11 anos, Termeh (Sarina Farhadi). A mãe não quer se afastar dela, mas a menina prefere ficar com o pai.

Esse é apenas o ponto de partida. A jovem mãe contratada para cuidar do pai de Nader enquanto ele e a filha estão fora se vê constrangida diante de questões religiosas. Em uma cena, ela liga para uma espécie de conselheiro para perguntar se lavar um homem senil com incontinência urinária constitui pecado. Mais: ele não sabe que a nova empregada está grávida e tampouco que está trabalhando sem o conhecimento do marido.

Logo, um acontecimento trágico vai resultar em acusações recíprocas e colocar as duas famílias em confronto num tribunal. Assim como em seus outros filmes, Farhadi optou por um fim em aberto, no qual cabe ao espectador completar o quebra-cabeças proposto. "O fim de um filme não precisa necessariamente fechar uma história", disse ele. "Pode também ser o início de um questionamento. É uma oportunidade de o público levar o filme consigo."

"A Separação" tem uma simbologia muito clara: Nader está ligado ao velho pai senil, enquanto Simin pensa no futuro da filha ainda pequena. "Mas essa simbologia tem um propósito", explicou Farhadi. "O pai do marido está senil e tem Alhzeimer, não se comunica direito. Logo, não há conversação entre eles. Enquanto a mãe se comunica com a filha."

Sobre a escolha do divórcio como ponto de partida da história, Farhadi disse que é mais comum do que parece. "Pessoalmente, não tenho experiência com divórcio; aliás, minha mulher e minha filha estão aqui", disse ele. "Quando comecei a escrever o filme, fui à corte para ver como acontecia. E o Irã tem uma taxa altíssima de divórcios. E é um país tradicional. Mas o divórcio é um fenômeno moderno. O fato de contrapor uma família religiosa e tradicional e uma família que quer viver sob padrões modernos é para mostrar que essa oposição pode nos trazer problemas no futuro."