Topo

Diretor turco nega homossexualidade em filme sobre triângulo amoroso na Berlinale

Os atores Ilker Aksum, Gunes Sayin e Fatih Al posam para os fotógrafos antes da entrevista coletiva do filme "Our Grand Despair", em Berlim (16/02/2011) - Getty Images
Os atores Ilker Aksum, Gunes Sayin e Fatih Al posam para os fotógrafos antes da entrevista coletiva do filme "Our Grand Despair", em Berlim (16/02/2011) Imagem: Getty Images

ALESSANDRO GIANNINI

Enviado especial a Berlim

16/02/2011 09h40

Parte do contingente de filmes de diretores iniciantes na Berlinale, "Our Grand Despair" [nosso grande desespero, em tradução livre] deu um nó na cabeça de muita gente na manhã desta quarta (16). Inspirado em romance de mesmo nome do escritor turco Baris Bicaksi, que assina o roteiro em parceria com o diretor Seyfi Teoman, o filme conta a história de dois amigos que vivem juntos em Ankara e acolhem em sua casa a jovem filha de um amigo. Ela logo se integra à rotina deles, o que cria um laço forte entre eles. E o que parecia improvável, dada a natureza da parceria entre os rapazes, acontece: eles se apaixonam por ela. Um trabalho cuja força emana da interpretação, mais do que qualquer outro elemento que o compõe.

O ator Fatih Al, que interpreta o personagem do bonachão Cetin, foi o primeiro a dizer que a relação entre os dois protagonistas não tem nada de romântica. "Homossexualidade é mencionada, sem dúvida", disse ele na entrevista coletiva que se seguiu à sessão do filme para a imprensa. "Mas não está presente. Poderia estar, não haveria problema algum. Só que não existe." Além de Al e do diretor, estavam na mesa o ator Ilker Aksum, que interpreta o intelectual Ender; a jovem atriz Gunes Sayin, que faz o papel de Nihal, e os produtores do filme.


Quando questionado mais uma vez a respeito do assunto, Teoman reforçou a ideia de que a amizade entre os dois personagens principais sugira ou esconda uma relação homossexual. "Eu também vi o filme e posso dizer que não é um casal", ironizou o cineasta. "É mais uma parceria do que uma relação amorosa. Ser gay também está sujeito a definições. Não há preconceito, nada ali foi reprimido ou suprimido. Admito que interpretações nesse sentido sejam possíveis, mas não é esse o caso."

A questão central parece estar resumida, segundo Teoman, no desespero do título do filme, emprestado do livro no qual foi baseado. De início, esse desespero emana de Nihal, que perdeu os pais em um acidente de carro. Depois, passa para os dois amigos, que se sentem constragidos pela presença da garota em sua casa. Em seguida, quando ambos se apaixonam por ela, transfere-se para o sentimento de que se trata de uma relacão impossível. "Está no livro", disse ele. "'Nosso grande desespero não é termos nos apaixonado por Nihal, mas que nossas vozes não estavam mais entre as vozes das crianças que brincam nas ruas'. Eles se conhecem desde a faculdade e não querem abalar a amizade. Eles não querem crescer. Há uma ironia nisso."