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Filme sobre tradicional código de justiça albanês, "The Forgiveness of Blood" teve consultoria de Walter Salles

A atriz Sindi Lacej, o diretor Joshua Marston (centro) e o ator Tristan Halilaj participam da sessão de fotos do filme "The Forgiveness Of Blood"" (18/02/2011) - Getty Images
A atriz Sindi Lacej, o diretor Joshua Marston (centro) e o ator Tristan Halilaj participam da sessão de fotos do filme "The Forgiveness Of Blood'' (18/02/2011) Imagem: Getty Images

ALESSANDRO GIANNINI

Enviado especial a Berlim

18/02/2011 12h20

Último concorrente ao Urso de Ouro exibido no Festival de Berlim, "The Forgiveness of Blood" naturalmente adquire a força de aposta dos organizadores. Embora tenha sido muito bem recebido na sessão de imprensa da manhã desta sexta (18), o filme de Joshua Marston ("Maria Cheia de Graça", exibido e premiado na Berlinale de 2005) dificilmente vai superar o iraniano "Nader and Simin - A Separation", se o júri capitaneado por Isabella Rossellini seguir a lógica. Mas em um festival com tão poucos destaques, o trabalho de Marston deve sair laureado com algum prêmio.

Ambientado na Albânia contemporânea, "The Forgiveness of Blood" é uma saga familiar que envolve um tradicional e arcaico código de justiça local, o Kanun. A disputa entre duas famílias sobre um pedaço de terra termina em morte. E a família da vítima recorre ao código para manter a família de um dos suspeitos de em uma espécie de prisão domiciliar. O personagem que serve como guia do espectador é o adolescente Nik (Tristan Halilaj), o principal alvo da hostilidade dos seus inimigos, enquanto seu pai, envolvido no incidente, está foragido.


O diretor brasileiro Walter Salles tocou no mesmo tema em "Abril Despedaçado", adaptação para o cinema do livro homônimo do escritor albanês Ismail Kadaré. No longa brasileiro, Salles transporta a ação da Albânia para o Nordeste brasileiro, numa trama que também envolve morte e vingança. Marston disse que conhece o filme e é amigo de Salles, com quem conversou muito sobre seu projeto antes de rodá-lo. "O tema é o mesmo, mas as abordagens são diferentes", disse o cineasta. "Mas Walter me ajudou muito."

Marston alertou para o fato de que não se trata de um filme sobre vingança. "É mais sobre a tensão entre a tradição e o moderno, numa situação de transição", disse ele. "Tampouco era minha intenção como um país medieval. Ao contrário, é um país moderno e está trabalhando duro para sair de uma situação de paralisia. Legitimar o Kanun seria um passo atrás nesse sentido."

Questionado sobre por que tanto tempo entre se passou entre "Maria Cheia de Graça"e "The Forgiveness of Blood", o cineasta disse que a greve de roteiristas em Hollywood, há dois anos, e a natureza de seus projetos contribuíram para esse hiato. "Estava no meio de um projeto de filme sobre o Iraque com orçamento de US$ 20 milhões quando estourou a greve", contou. "Depois, estávamos no meio de um projeto que envolvia crianças no Brooklin nos anos 1970, quando o estúdio para quem trabalhávamos cancelou o projeto dizendo que um filme sobre crianças para adultos não era aceitável."