"Gosto de voltar a ser um menino de 12 anos e poder dar chutes", diz Liam Neeson sobre ação em "Desconhecido"

Berlim e seu rigoroso inverno são cenários para as longas perseguições de carro no suspense “Desconhecido”, sobre um médico americano em viagem que perde a memória após um acidente. Ou pelo menos é assim que começa o novo filme do diretor espanhol Jaume Collet-Serra (“A Órfã”), uma trama de espionagem cercada de mistérios. No papel do homem sem identidade está o ator irlandês Liam Neeson, ao lado da atriz americana January Jones, que faz sua mulher (ou não). O filme estreia no Brasil nesta sexta-feira (25).

Acontece que Dr. Martin Harris (Neeson), ao chegar em Berlim ao lado de Elizabeth (Jones) para uma conferência de cientistas, sofre um acidente num táxi e vai parar no hospital. Ao sair de um coma, quatro dias depois, ninguém mais o reconhece, nem mesmo sua mulher, que, por sinal, já tem um novo marido e com o mesmo nome que o seu (Aidan Quinn). “Trabalhamos muito no roteiro, tivemos que nos colocar no lugar do público, porque é um tipo de thriller no qual apenas uma coisinha vai revelar todo o quebra-cabeça”, disse Collet-Serra, 36 anos, a jornalistas em Los Angeles.

O filme é baseado no livro do autor francês Didier van Cauwelaert e se passa nas ruas de Paris. Mas os produtores acharam melhor levar a ação para Berlim, uma cidade menos conhecida do público americano para aumentar a sensação de desconforto vivida pelo protagonista. “Apesar de não ter mais o muro, de ter sido uma cidade dividida lá no passado, Berlim ainda guarda algumas cicatrizes. É uma cidade linda no verão, mas bem ameaçadora no inverno”, comentou o diretor. “Arquitetonicamente, é um lugar que ainda tenta achar sua identidade. E isso realmente reflete o tema do filme, o que o personagem está passando.”

January Jones, mais conhecida pela recatada dona-de-casa do seriado “Mad Men”, não tem muitos diálogos, aparece pouco, mas guarda uma das chaves para entender toda a história. “Você não sabe se ela é boa ou não, se pode confiar, se simpatiza ou não. Se ela passou por uma lavagem cerebral ou se está sendo chantageada”, contou Jones, 33 anos. “Ou mesmo se ela existiu!”

Collet-Serra afirmou que foi atrás de Jones porque queria uma “mulher misteriosa, femme fatale, como as loiras de Hitchcock”, uma comparação que a atriz não se sente muito confortável. “Incomoda um pouco, não estou à altura disto. Sou loira, claro, sou fã de Hitchcock, mas sou mais relaxada e brincalhona do que esses personagens”, disse.

Neeson, Ator de Ação

Aos 58 anos, Liam Neeson encara mais um filme de ação, apesar da carreira marcada por personagens dramáticos, como Oskar Schindler (de “A Lista de Schindler”) e Alfred Kinsey (de “Kinsey”). “Gostei muito do roteiro, me levou de volta àquelas histórias hitchcockianas”, falou  Neeson a jornalistas. “É aquele filme que você fica tentando imaginar, descobrir. Eu mesmo não previ o final.”

Recentemente, ele estrelou “Busca Implacável” (2008), no papel de um ex-soldado que vai em busca da filha raptada em Paris, e “Esquadrão Classe A” (2010), como o coronel “Hannibal” Smith. “Nunca fui atrás desses papéis de filmes de ação porque há 20 anos tinham atores suficientes fazendo filmes do gênero de sucesso”, disse Neeson. “Mas eu gosto da fisicalidade da coisa, de voltar a ser um menino de 12 anos e poder dar uns chutes”, continuou, lembrando também suas lutas com os sabres de luz em “Star WarsEpisódio I: A Ameaça Fantasma” (1999). “Quando eu era jovem, até gostava da ideia de ser um ator de filmes de ação. Mas nunca fui atrás, achava que era muito sensível, um ator de outro estilo.”

Elenco Europeu

Para ajudar o médico perdido em Berlim, perseguido por assassinos em todos os cantos da cidade, foram escalados dois atores europeus: o suíço Bruno Ganz (“A Queda– As Últimas Horas de Hitler”) e a alemã Diane Kruger (“Bastardos Inglórios”). Ganz, que ficou marcado pelo papel do líder nazista, faz agora um ex-agente da Stasi, a polícia secreta da extinta República Democrática Alemã (RDA). Entediado com a vida, ele faz bicos de detetive e cruza com o caminho de Dr. Martin. Já Kruger é a taxista que dirigia o médico na hora do acidente, fazendo o carro atravessar uma ponte e mergulhar num rio. Apesar disso, ela salva a vida do médico diversas vezes ao longo do filme.

O diretor contou que a cena na água foi uma das mais difíceis de fazer, assim como outras corridas de carros. “Construímos um tanque dentro de um estúdio na Alemanha para filmar a passagem, quando Kruger salva Neeson de dentro do carro, que vai afundando na água”, contou Collet-Serra.

“Todo mundo estava nervoso, os atores ficam desconfortáveis com o lance da água, a câmera fica debaixo d’água.... É tudo muito perigoso”, disse. As perseguições de carro também foram complicadas por causa do tempo. “Tinham que ser feitas à noite, as ruas estavam congeladas e tivemos que iluminar diversões quarteirões da cidade. Consumiu bastante tempo.”