Topo

Elizabeth Taylor morre aos 79 anos; conheça a vida e a carreira da estrela do cinema

ANTONIO FARINACI

Colaboração para o UOL

23/03/2011 12h26

A lenda de Hollywood Elizabeth Taylor, ganhadora de dois Oscar, morreu nesta quarta-feira, aos 79 anos, no hospital Cedars-Sinai, em Los Angeles, nos EUA. Rodeada por seus quatro filhos - Michael Wilding, Christopher Wilding, Liza Todd, e Maria Burton - , a atriz havia passado seis semanas internada com insuficiência cardíaca, segundo comunicado de sua agente publicitária, Sally Morrison.

"Minha mãe era uma mulher extraordinária que viveu a vida ao máximo, com muita paixão, humor, e amor. Apesar de sua morte ser devastadora para aqueles que a mantiveram tão próxima e de forma tão querida, sempre seremos inspirados por sua contribuição duradoura ao nosso mundo", disse em comunicado o filho da atriz Michael Wilding.

VIDA E CARREIRA

Pode-se dizer, sem medo de exagero, que Elizabeth Taylor passou praticamente toda sua vida diante das câmeras. Nascida na Inglaterra, de pais americanos, ela começou a carreira em Hollywood aos 9 anos e, antes dos 30, já havia se tornado a primeira atriz da história a ganhar um milhão de dólares (por "Cleópatra").

Seus casamentos, divórcios coleção de joias e extravagâncias angariaram atenção comparável ou maior do que a dedicada a seus filmes. Uma das maiores estrelas da "Era Dourada de Hollywood" (entre os anos 10 e 60), Taylor conquistou uma legião de fãs com seu talento e beleza, e foi, a partir de meados dos anos 80, um dos nomes mais ativos a angariar funtos para pesquisas do vírus HIV.

O INÍCIO

Elizabeth Rosemond Taylor nasceu em Londres, em 27 de fevereiro de 1932. Seu pai, Francis Lenn Taylor, era negociante de arte, e a mãe, Sara Viola Warmbrodt, ex-atriz, ambos de Arkansas (Kansas, EUA). Com o crescente clima de tensão na Europa que antecedeu a Segunda Guerra, a família decidiu em 1939 voltar para os Estados Unidos, e se instalou em Los Angeles.

Impressionada com a beleza de Elizabeth, uma amiga da família, Andrea Barens, arranjou para ela uma entrevista na Universal Pictures, através de seu noivo, Cheeder Cowden, que era um dos diretores e acionista da empresa. O contrato durou menos de seis meses, mas rendeu à atriz-mirim seu primeiro filme, a comédia de erros "There's One Born Every Minute" (Harold Young, 1942).

A menina não ficou desempregada por muito tempo. Seu próximo trabalho, "Lassie e a Força do Coração" ("Lassie, Come Home", Fred Wilcox, 1943), primeiro da série sobre a cadela collie, garantiu a ela um contrato com duração e salário "de gente grande" com a Metro.

  • Divulgação

    Aos 12 anos, Elizabeth Taylor (dir.) contracena com Ann Revere em "A Mocidade é Assim Mesmo" (1944)

"A Mocidade é Assim Mesmo" ("National Velvet", Clarence Brown, 1944), que trazia Mickey Rooney e Angela Lansbury no elenco, transformou Elizabeth numa estrela. O filme também marcaria a vida da atriz de uma maneira nefasta. Os problemas nas costas que por fim a deixariam numa cadeira de rodas aparentemente deveram-se a uma queda de cavalo durante essas filmagens. Sobre o fato de dois de seus primeiros grandes filmes terem tido animais como protagonistas, a atriz brincava, anos mais tarde, declarando: "alguns de meus melhores pares no cinema foram cachorros e cavalos".

Desde cedo, os caminhos de sua vida fora e dentro das telas se cruzavam. Duas semanas antes de gravar sua primeira cena de beijo em "Cynthia" ("Cynthia", Robert Leonard, 1947), a atriz conta que pediu a um amigo de seu irmão mais velho que a beijasse: "Eu morria de medo de ter meu primeiro beijo no cinema, antes de ser beijada na vida real", declarou em entrevista à TV americana nos anos 80, "isso teria sido uma humilhação".
 

Eu, nem os críticos, nunca me levei muito a sério

Elizabeth Taylor

Ao final dos anos 40, Liz contava já em seu currículo com uma série de filmes de sucesso, e chegou a contracenar, aos 16 anos, com Carmen Miranda, em um dos últimos filmes da estrela brasilera, "O Príncipe Encantado" ("A Date with Judy", 1948). Sua despedida de papeis adolescentes foi em "Quatro Destinos" ("Little Women", 1949), refilmagem do clássico "As Quatro Irmãs" ("Little Women", 1933). E o primeiro papel adulto veio com o suspense "O Traidor" ("Conspirator", Victor Saville, 1949), no maior clima de Guerra Fria.

A VIDA IMITA A ARTE

Os anos 50 começaram com o enorme sucesso de "O Pai da Noiva" ("Father of the Bride", Vincent Minnelli, 1950), em que Liz era "filha" de Spencer Tracy. O sucesso da produção levou a uma continuação, "O Netinho do Papai" ("Father's Little Dividend", 1951). Casada no cinema, casou-se também na vida real, de branco, com véu e grinalda. Conrad "Nicky" Hilton, herdeiro da cadeia de hotéis Hilton (tio avô de Paris Hilton) foi o primeiro dos sete maridos que ainda estavam por vir. Mas a união durou apenas nove meses. "Foi um choque de realidade", declarou à rede americana ABC, em 1997. "Eu era virgem, e, no começo, tudo era maravilhoso. Mas eu não sabia que ele bebia, e só descobri duas semanas depois de nos casarmos". Segundo a atriz, a partir daí, o marido demonstrou ser agressivo e abusivo, e ela virou "um saco de pancadas".

Seu próximo filme, "Um Lugar ao Sol" ("A Place in the Sun", George Stevens, 1951) foi considerado um clássico já no ano de seu lançamento e trouxe Liz em um dos melhores papéis de sua carreira. Anos mais tarde, a atriz declararia: "Foi a primeira vez em que eu realmente atuei. Antes, era só uma extensão de mim mesma". Durante as filmagens, conheceu Montgomery Clift, que se tornaria um de seus melhores amigos, até a morte do ator, em 1966. "Nós nos amávamos verdadeiramente, no mais puro e completo sentido dessa palavra (amor)", dizia a atriz.

Entre 1952, Liz casou-se novamente, com o ator Michael Wilding, pai de seus dois filhos: Michael, nascido em 1953, e Christopher, nascido em 1955. A união durou até 1957.

OSCAR DE CONSOLAÇÃO

  • Divulgação

    Os atores Paul Newman e Elizabeth Taylor em cena do filme "Gata em Teto de Zinco Quente" (1958)

Elizabeth chegou ao final da década com uma série de indicações ao Oscar de melhor atriz, pelas atuações dramáticas de "A Árvore da Vida" ("Raintree Conty", Edward Dmytryk, 1957),  "Gata em Teto de Zinco Quente" ("Cat on a Hot Tin Roof", Richard Brooks, 1958) e "De Repente, no Último Verão" ("Suddenly, Last Summer", Robert Mankiewicz, 1959).

A estatueta, no entanto, só viria com "Disque Butterfield 8" ("Butterfield 8", Daniel Mann, 1959). E, se teria sido mais do que justo que ela levasse o prêmio por qualquer um dos filmes anteriores, o reconhecimento do último pareceu mais como um prêmio de consolação para a atriz, que havia acabado de se curar de uma pneumonia que quase a matara. Na cerimônia do Oscar, pode-se ver a cicatriz de uma traqueostomia de emergência em seu pescoço. "(O filme) era uma porcaria. Eu sei que ganhei o Oscar por causa traqueostomia", brincou a atriz, anos mais tarde em entrevista à apresentadora americana Barbara Walters.

Em 1957, a atriz casou-se com o produtor de teatro de cinema Michael Todd, e teve uma filha, Elizabeth (Liza) com ele. O casamento durou pouco mais de um ano. Em março de 1958, Todd embarcou de Los Angeles para Nova York em seu avião particular, numa viagem de negócios. Liz, que deveria ir junto, ficou para trás, pois estava se recuperando de uma gripe. A aeronave se espatifou no Novo México e matou toda a tripulação. "Foi um desastre. Não sei como eu superei. Achei que eu nunca mais voltaria a gostar de alguém", confessou a atriz a Walters. Mas ela se recuperou e, um ano depois, já estava casada novamente, com o cantor e ator Eddie Fischer, melhor amigo de Todd.

CLEÓPATRA

  • Divulgação

    Richard Burton e Elizabeth Taylor em cena do filme épico ''Cleópatra'', de 1963

As filmagens de "Cleópatra" ("Cleopatra", Joseph Mankievicz, 1963) começaram em 1960, e fizeram de Elizabeth Taylor a atriz mais bem paga de Hollywood. Conta a lenda, divulgada pela própria Elizabeth, que ela teria pedido, meio que de brincadeira, o que na época era uma quantia assombrosa como pagamento: um milhão de dólares. Para sua surpresa, o estúdio concordou. Mas não foi só isso. Ela teria exigido ainda 10% do lucro da bilheteria e que o marido fosse contratado como seu assistente pessoal.

As exigências não pararam por aí, nem as extravagâncias. O filme começou a ser feito sob a direção de Rouben Mamolian (de "Rainha Christina" e "A Marca do Zorro"), que foi demitido nos primeiros meses de trabalho, por divergências quanto ao encaminhamento do script. Liz exigiu então que o diretor substituto fosse indicado por ela: ou George Stevens, que a dirigira em "Um Lugar ao Sol" e "Assim Caminha a Humanidade" ("Giant", 1956), ou Robert Mankiewicz, de "De Repente, no Último Verão", que lhe rendera uma indicação ao Oscar. Stevens estava ocupado com outro épico, "A Maior História de Todos os Tempos" ("The Greatest Story Ever Told", 1965), então, Mankievicz foi convocado.

Durante as gravações de "Cleópatra", Liz conheceu Richard Burton, que viria a ser seu quinto marido. Ainda casada com Fischer, e à vista dele, Liz começou abertamente a ter um caso com Burton, que também era casado (com a atriz Sybil Williams). Os dois se entregavam a noitadas de bebedeira homérica e sexo, que acabavam muitas vezes em brigas e, pelo menos uma vez, numa "ameaça de suicídio" de Liz. Impotente diante da insobordinação hedonista de seus astros, Mankievicz teria se queixado aos executivos da Fox enviando-lhes um bilhete: "Liz e Burton não estão apenas 'interpretando' Cleópatra e Marco Antônio".

O sucesso é um ótimo desodorante. Ele tira todos os cheiros do passado

Elizabeth Taylor

Com uma divulgação focada nos escândalos da vida dos protagonistas fora das telas, o filme foi um sucesso de bilheteria, embora tenha deixado a Fox no prejuízo, pois os US$ 26 milhões que arrecadou ficaram longe de cobrir seu custo assombroso de US$ 44 milhões. Esse valor corresponderia hoje, com correção monetária, a US$ 320 milhões, o que faz de "Cleópatra" o filme mais caro da história, à frente de "Piratas do Caribe 3" ("Pirates of the Caribbean: At World's End", Gore Verbinski, 2007)  e "Titanic" (James Cameron, 1997). "Cleópatra" passou à história também como o único filme a ter dado prejuízo a um estúdio, mesmo tendo sido a maior bilheteria do ano (1963).

QUEM TEM MEDO DE LIZ TAYLOR?

O segundo Oscar de Liz veio com "Quem Tem Medo de Virginia Woolf" ("Who's Afraid of Virginia Woolf", Mike Nichols, 1966), seu filme favorito dentre todos os que fez, e em que também contracenava com Burton. Além de estrelarem "Cleópatra" e "Quem Tem Medo...", os dois apareceriam juntos em mais seis filmes, entre eles "A Megera Domada" ("The Taming of the Shrew", Franco Zeffirelli, 1967), "Doctor Faustus" ("Doctor Faustus", Nevill Coghill e Richard Burton, 1967) e o tresloucado "O Homem Que Veio de Longe" ("Boom!", Joseph Losey, 1968).

O par se casou oficialmente em 1964 e adotou uma filha, Maria, nascida na Alemanha em 1961. Levaram uma vida de jet setters, regada a álcool e abrilhantada por muitas jóias, presentes de Richard para Liz, entre elas o famoso diamante Krupp (anel), de 33,19 quilates, e o diamante Taylor-Burton (pingente), em forma de gota, com 69,42 quilates. O divórcio veio em 1974. No ano seguinte, casaram-se novamente. E em 1976, voltaram a se separar. Dessa vez, definitivamente.

ELIZABETH TAYLOR VENCEU DOIS OSCAR NA CARREIRA


De 1976 a 1982, Liz teve seu sétimo casamento, uma relação "morna" com o senador republicano (conservador) John William Warner. "Ele não tinha tempo para a família", declarou posteriormente a atriz, "e eu não consegui competir com 'a outra', que era a política".

REABILITAÇÃO

Após longos anos de um abuso cultivado, em 1983, a atriz deu entrada pela primeira vez na clínica Betty Ford, para tratamento de dependência de remédios e álcool. "Eles não sabiam como me tratar", ela contou após o temporada, "pois eles nunca tinham tido uma celebridade internada". Cinco anos mais tarde, ela retornaria ao instituto para uma nova desintoxicação de remédios. Nessa ocasião, ela conheceu Larry Fortensky, que passava por um tratamento para alcoolismo. Faíscas voaram, e os dois ficaram juntos de 1991 e 1996.

A cerimônia de casamento aconteceu no rancho Neverland de Michael Jackson, um dos amigos mais próximos de Liz Taylor à época. Sobre sua amizade com o cantor, a atriz costumava dizer que se identificava muito com ele: "Éramos muito parecidos. Ambos tivemos infâncias horríveis".

Desde meados dos anos 80, sensibilizada pela morte do amigo Rock Hudson, de Aids, Elizabeth foi uma das primeiras artistas a falar sobre a doença e se tornou porta-voz de uma fundação de pesquisas sobre o HIV. Em 1991, ela fundou sua própria entidade, a Elizabeth Taylor Aids Foundation, para levantar fundos para custear pesquisas sobre o vírus.

A partir dessa época, suas participações em filmes foram rareando. Durante os anos 90, a atriz fez duas participações no seriado animado "Os Simpsons". No episódio "A Primeira Palavra de Lisa" ("Lisa's First Word"), da quarta temporada (exibido nos EUA em 1992), ela dá voz à bebê Maggie, geralmente muda, para dizer apenas "daddy" ("papai"). No episódio final dessa mesma temporada, "Krusty Gets Kancelled" (exibido nos EUA em 1993), a atriz faz uma nova participação, desta vez como ela mesma. Taylor apareceu também no episódio "Onde Estão as Pérolas" ("Where's the Pearls"), da terceira temporada do seriado "The Nanny" (exibido nos EUA em 1996).

Seu último filme foi a adaptação cinematográfica de "Os Flintstones" ("The Flintstones", Brian Levant, 1994), em que faz o papel da extravagente Pearl Shaghoople, mãe da personagem Wilma Flintstone (em "Os Flintstones em Viva Rock Vegas", de 2000, o papel foi dado a Joan Collins).

Em 2010, foi anunciado o projeto de um filme biográfico sobre a vida de Elizabeth Taylor e Richard Burton. Chegou a ser noticiado que as atrizes Angelina Jolie e Catherine Zeta-Jones estavam na disputa pelo papel de Taylor. Em julho do mesmo ano, no entanto, a atriz anunciou em seu twitter oficial (@DameElizabeth) que não havia autorizado o filme e decretou: "Ninguém pode ser Elizabeth Taylor, a não ser Elizabeth Taylor. Pelo menos não até eu morrer..."

A atriz passou os últimos anos de sua vida solteira, mas não sozinha. Notícias publicadas por tablóides, no início de 2011, dão conta que ela e o namorado mais recente, o empresário artístico Jason Winters, já estavam noivos desde 2010 e tinham planos de se casar em breve.

  • AFP

    Durante o evento "Cinema contra a Aids", Elizabeth Taylor acena para o público (20/05/1993)

SAÚDE FRÁGIL

Desde meados dos anos 90, Elizabeth Taylor sofreu diversos problemas de saúde e foi submetida a uma série de cirurgias. Em 1994, fez implantes ortopédicos nos quadris, após um diagnóstico de osteoartrite, e apareceu em público, pela primeira vez, em uma cadeira de rodas (à qual ela recorreria intermitentemente desde então). Em 1997, passou por uma remoção cirúrgica de um tumor benigno no cérebro. Em 2004, anunciou ter sido diagnosticada com insuficiência cardíaca congestiva. Em 2006, em entrevista ao apresentador americano Larry King, a atriz negou que estivesse com Mal de Alzheimer. Em 2009, a atriz foi submetida a uma cirurgia cardíaca para a correção do funcionamento da válvula mitral. No início de 2011, Liz foi internada com sintomas de insuficiência cardíaca.

FRASES

"O problema das pessoas sem vícios é que elas têm virtudes muito chatas"

"Agora eu não preciso mais pensar: 'Ai, meu Deus, o que foi que eu disse ontem à noite?'" (sobre ter deixado de beber)

"Se alguém é bobo o suficiente para me oferecer um milhão para fazer um filme, eu não vou ser boba de não aceitar" (sobre seu salário em "Cleópatra")

"Todas as vezes que eu me apaixonei, foi um tipo de amor casamenteiro. Foi o jeito como eu fui educada. A gente tinha que 'legalizar' tudo" (sobre seus sucessivos casamentos)

"Michael Jackson e eu éramos muito parecidos. Ambos tivemos uma infância horrível" (sobre sua amizade com o cantor)

"Eu, nem os críticos, nunca me levei muito a sério"

"Acho que estou finalmente ficando adulta. E já era tempo!" (em 1985, ao fazer 53 anos)

"O sucesso é um ótimo desodorante. Ele tira todos os cheiros do passado"

"Você descobre quem são os seus amigos de verdade, quando se mete num escândalo"