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Emotivos e interessantes, documentários brasileiros contam histórias sobre samba e choro

Imagem do documentário brasileiro ""As Batidas do Samba"", de Bebeto Arantes - Divulgação
Imagem do documentário brasileiro ''As Batidas do Samba'', de Bebeto Arantes Imagem: Divulgação

SÉRGIO ALPENDRE

Colaboração para o UOL

06/04/2011 07h00

Dois documentários brasileiros, participantes da série "O Estado das Coisas", dentro do É Tudo Verdade, mapeiam o panorama musical brasileiro de forma diferente, com resultados desiguais em suas estruturas internas, mas sempre emotivos e interessantes.

"As Batidas do Samba", de Bebeto Abrantes, parte de um grupo de músicos para realizar uma impressionante reflexão sobre a evolução do samba desde o começo do século 20, passando por subgêneros como o samba-enredo e pelas mudanças no andamento e no comportamento dos músicos.

  • Divulgação

    Cena do filme ''Seu Cavaco, Dom Bandolim e o Choro de Mestre Duduta na Rainha da Borborema", de Riccardo Migliore e Thaíse Carvalho

"Seu Cavaco, Dom Bandolim e o Choro de Mestre Duduta na Rainha da Borborema", de Riccardo Migliore e Thaíse Carvalho, faz um caminho ligeiramente diferente. Parte de um músico, José Ribeiro da Silva, o Mestre Duduta do título, para entender o choro de Campina Grande, na Paraíba, por meio da arte de seu principal músico, que também era criador de instrumentos, e de seus familiares.

São 50 minutos que registram esse músico que abre sua casa, aos domingos, para quem quiser escutar sua música, ou tocar junto com ele. Uma ode ao poder da música de unir as pessoas e deflagrar sentimentos. O grande mérito de "As Batidas do Samba", de Bebeto Abrantes, é que nos sentimos como se estivéssemos realmente conversando com os sambistas, aprendendo com eles os macetes do samba, suas histórias, as curiosidades de cada instrumento e as evoluções nas batidas e andamentos.

Em diversos momentos parecemos estar nas rodas de samba, saboreando a mesma cerveja, compartilhando do mesmo espírito, recebendo o bom humor desses músicos. Em outros, nos sentimos numa aula particular, com os músicos destilando seus conhecimentos de forma didática e agradável.

Em um dos diversos trechos de uma longa e prolífica entrevista com o baterista Wilson das Neves, em que mostra algumas diferenças na batida dos sambas ao longo dos anos, ele diz que cada música tem sua história, que diz o ritmo que ela quer, o andamento, como ela deve ser cantada, e que música é algo muito sério, é a voz da alma. Tocante depoimento que resume a fascinação por traz dessa arte de tamanho apelo popular, e resume a simpatia dos músicos que acompanhamos durante os 82 minutos de duração.

O maior problema do filme é o comportamento da câmera, que realiza alguns movimentos desajeitados (daqueles que alguns fazem para que percebamos que a câmera está na mão). Não se trata de pedir sempre a câmera fixa, mas de clamar por um cuidado maior para que essa moda de câmera boba e embriagada seja logo ultrapassada e voltem a filmar as coisas como uma pessoa as vê.

Não são em todos os momentos que esse problema pode ser percebido. Tendemos até a relevá-lo conforme a música vai nos conquistando. Mas é um senão dentro de uma obra que tem tamanhas qualidades e atrações para quem gosta de samba. Poderia ter sido evitado. Faria bem ao filme.

A câmera em "Seu Cavaco, Dom Bandolim e o Choro de Mestre Duduta na Rainha da Borborema" se comporta de maneira mais clássica, privilegiando as pessoas, não a vontade de se filiar ao lugar comum mais pernicioso do cinema contemporâneo (documentário ou não). E a música, como no outro filme, é de uma incrível excelência.

Com suas diferenças e características, contudo, ambos os trabalhos são dignos de elogios, ainda mais se considerarmos o panorama das atuais leis de incentivo, que privilegiam os aspectos burocráticos no lugar dos artísticos.

Clique no nome do filme para saber as datas e horários de ''As Batidas do Samba" e "Seu Cavaco, Dom Bandolim e o Choro de Mestre Duduta na Rainha da Borborema", com informações do site oficial.