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Curtas sobre Eduardo Coutinho e sobre a São Silvestre competem no É Tudo Verdade; conheça os filmes

SÉRGIO ALPENDRE

Colaboração para o UOL

07/04/2011 07h00

Nos curtas, a possibilidade de fugir da cartilha vigente, que manda intercalar pedaços pequenos de entrevistas com imagens (de arquivo ou não) é maior. O curta-metragem é o espaço ideal para a invenção, para o enfrentamento de alguns desafios que nos longas seriam assustadores demais.

Mas há o perigo, sempre à espreita no cinema (e ainda mais nos curtas) e no qual a maioria incorre, de se afundar em riscos e não realizar, afinal, uma verdadeira obra. Tudo é mais sentido num filme de curta duração. Todos os artifícios ficam mais evidentes. Por isso é sempre interessante ver como os diretores driblam esses perigos, muitas vezes escolhendo o caminho da fuga dos riscos, noutras vezes simplesmente indo até certo ponto na ousadia.

O grupo de curtas escolhidos para a competição é bem eclético. Vai do contemplativo ao investigativo, do conservador ao arrojado. Temos assim um mapeamento interessante do que se anda fazendo no cenário brasileiro, com uma boa ideia do que há de errado, do que se acerta e do que se repete como se nunca tivesse sido feito, ou ainda do que se faz simplesmente para ter um filme no currículo.

A seleção de curtas é claramente mais forte que a de longas, equilibrando um pouco a competição. Entre "A Poeira e o Vento", "Braxília" e "Hoje Tem Alegria" qualquer vencedor terá merecido. Se o prêmio for para "Coutinho Repórter" ou "São Silvestre", não será nenhuma vergonha. Já o curta "Meia Hora com Darcy" só sai vencedor se o critério não for cinematográfico. Os demais curtas podem agradar boa parcela do público por razões diversas. Mas têm tudo para serem coadjuvantes na disputa.

Veja aqui as datas e os horários dos curtas em competição no É Tudo Verdade, no site oficial.

SAIBA MAIS SOBRE OS CURTAS BRASILEIROS EM COMPETIÇÃO

"São Silvestre", de Lina Chamie: A corrida de rua mais tradicional da América Latina recebe um tratamento inusitado, baseado em dois elementos conflitantes: a música erudita e o imenso apelo popular da corrida. As entrevistas estão presentes, fincando um pé do curta no chão.
"Palavra Plástica", de Leo Falcão: Homenagem ao poeta pernambucano Carlos Pena Filho (1929-1960), com a filmagem da elaboração de uma exposição com obras de artistas plásticos inspirados por seus poemas. O perigo de overdose poética, nas palavras e nas imagens, era anunciado, e se confirmou. Infelizmente, porque algumas sequências são realmente inspiradas.
"O Filme Que Eu Fiz Para Não Esquecer", de Renato C. Gaiarsa: Declaração de amor com pouco mais de três minutos. É só isso, e é pouco. Não foge dos clichês da câmera amadora, nem da montagem afetiva com melodia ao piano (do próprio diretor).
"Meia Hora com Darcy", de Roberto Berliner: Entrevista com Darcy Ribeiro realizada em 1996, dois meses antes de sua morte, e engavetada até agora, quando chega à luz sob o formato de um curta-metragem. Vale ver apenas pelo entrevistado.
"Hoje Tem Alegria", de Fabio Meira: O circo flagrado por uma câmera atenta, que espia por frestas ou invade intimidades sem pedir licença. Filmado com inteligência e com proposta pouco didática (com letreiros substituindo depoimentos), é um dos mais interessantes em competição. E mostra, contrariando o título, que onde tem circo não tem somente alegria.
"Entre Vãos", de Luísa Caetano: Uma comunidade quilomba em Goiás é o tema deste curta. O lugar tem o poético nome de Vão das Almas. E o curta também é poético. Tem música de Erik Satie, por exemplo. Nos últimos instantes se confirma a homenagem a "Limite", de Mário Peixoto. Mas a ideia de poesia que o acompanha é um tanto convencional. Às vezes dá certo. Às vezes parece embotada.
"Coutinho Repórter", de Rená Tardin: Registro de uma época em que o Globo Repórter era um bom programa televisivo, nos anos 1970, quando cineastas assumiram a direção dos episódios. Aqui, o foco é no trabalho de Eduardo Coutinho à frente do programa. O melhor vem das imagens de arquivo e da língua solta do veterano cineasta.
"Braxília", de Danyella Proença: Belo retrato de uma cidade por meio das palavras de um cuiabano que se tornou poeta após mudar-se para Brasília. Ou seria o retrato do poeta por meio da descoberta dos meandros de uma cidade? Os dois, e essa é a graça do filme.
"A Poeira e o Vento", de Marcos Pimentel: Observando o cotidiano de moradores de um vilarejo remoto do interior de Minas Gerais, este curta se insere com propriedade no histórico contemplativo da produção mineira e possui imagens impressionantes.