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Documentaristas vencedores do É Tudo Verdade comentam importância da premiação

Cena de "Terra Deu, Terra Come", documentário vencedor do É Tudo Verdade 2010 - Divulgação
Cena de "Terra Deu, Terra Come", documentário vencedor do É Tudo Verdade 2010 Imagem: Divulgação

ANTONIO FARINACI

Colaboração para o UOL

09/04/2011 07h00

Com 15 anos de história completados nesta sua 16ª edição, o festival de documentários É Tudo Verdade se firmou no calendário de cineastas e amantes de cinema como um dos mais importantes eventos do gênero no Brasil, e atribui hoje o maior prêmio em dinheiro para documentários no país, R$ 110 mil.

"O festival é superimportante, porque tem as duas coisas coisas que as pessoas que participam querem: ele é respeitado e tem um bom prêmio em dinheiro", resume Carlos Nader, vencedor da 13ª edição do festival, em 2008, com o filme "Pan Cinema Permanente", sobre a vida e obra do poeta Wally Salomão.

Para Rodrigo Siqueira, diretor de "Terra Deu, Terra Come", vencedor de 2010, a respeitabilidade do festival fez com que ele se tornasse uma plataforma de lançamento de novos filmes e documentaristas. "Por causa do prestígio do É Tudo Verdade, muita gente guarda um filme para lançar no festival", pondera.

Flávio Frederico, diretor de "Caparaó", atribui exclusivamente à premiação no festival, em 2006, a exibição em circuito comercial que seu filme teve. "Eu não tinha a menor pretensão de fazer um lançamento nos cinemas, muito menos de levar o prêmio. Mas, quando ganhei, fui praticamente obrigado, porque o filme foi capa dos cadernos de cultura e as pessoas queriam ver", conta ele, que se diz surpreso com a premiação até hoje.

Os diretores que conversaram com UOL Cinema concordam que um prêmio no É Tudo Verdade funciona como uma espécie de selo de qualidade, tanto para o circuito comercial quanto para outros festivais. "O É Tudo Verdade abriu as portas para o filme ser lançado comercialmente e também para convites de festivais, como o de Leipzig, por exemplo", considera Siqueira.

O prêmio em dinheiro dado pelo festival, outro ingrediente importante para tornar um festival atraente, além do prestígio, é geralmente reinvestido pelos cineastas na carreira do filme ou usado para saldar dívidas contraídas durante a produção.

"Com uma parte do prêmio, a gente pagou o lançamento, que foi feito em cima do Minhocão", conta Maíra Bühler, premiada por "Elevado 3.5", filme sobre o elevado Costa e Silva, vencedor da 12ª edição do festival, em 2007. "No geral, o dinheiro serviu também para cobrir despesas que a gente tinha tido com a finalização e para acompanhar a carreira do filme, em festivais do exterior, porque éramos três diretores (ela, João Sodré e Paulo Pastorelo), e os festivais nem sempre davam passagens para todos", lembra.

"Ganhar o É Tudo Verdade deu um impulso enorme a minha carreira e a meu filme", pondera Flávio Frederico, "infelizmente, fui premiado em 2006, último ano em que o festival pagava só R$ 10 mil para o primeiro lugar, então, o dinheiro não deu para muita coisa", brinca. "Mesmo assim, valeu a pena, porque o prêmio consolidou meu nome como documentarista".

Maíra faz questão ainda de lembrar a importância que o festival tem na cultura dos cineastas que fazem documentários e na sua própria. "O É Tudo Verdade, para mim, é um marco que faz parte da minha formação e da de muita gente", ela avalia. "Eu conheci muita coisa sobre cinema documentário e vi muita coisa pela primeira vez lá". Siqueira concorda: "Acho importante acompanhar o festival não apenas nas exibições dos filmes, mas também as palestras. Aprendi muito lá, e continuo aprendendo".

Sobre os diretores entrevistados:

Carlos Nader
Diretor de “Pan Cinema Permanente”
Filme vencedor do É Tudo Verdade em 2008
Desde a premiação, dirigiu "Soberano", documentário sobre o time do São Paulo Futebol Clube, e produziu o longa de ficção "Jean Charles", dirigido por Henrique Goldman. Atualmente trabalha nas gravações do documentário "Homem Comum', que acompanha a trajetória do personagem principal de seu filme "O Fim da Viagem", de 1996, sobre um caminhoneiro, em Ponta Grossa (PR).

Flávio Frederico
Diretor de "Caparaó"
Filme vencedor do É Tudo Verdade em 2006
Depois da premiação, fez seu primeiro longa de ficção, "Boca do Lixo", premiado no Festival do Rio 2010 como melhor fotografia e melhor montagem. Vai ser lançado comercialmente em setembro. Atualmente trabalha em parceria com Mariana Pamplona no documentário "Suicídio?", sobre a Iara Iavelberg, militante da luta armada contra a ditadura.

Maíra Bühler
Juntamente com João Sodré e Paulo Pastorelo dirigiu "Elevado 3.5"
Filme vencedor do É Tudo Verdade em 2007
Desde então, ganhou um prêmio Doctv com "Exterior" e um prêmio da prefeitura de São Paulo, para desenvolvimento de um filme sobre estrangeiros na cidade. Atualmente dirige uma série de TV, no GNT, "Conversas de Salão", sobre o que dizem as mulheres num salão de beleza.

Rodrigo Siqueira
Diretor de "Terra Deu, Terra Come"
Filme vencedor do É Tudo Verdade em 2010
Depois da premiação no festival, o filme ganhou mais sete prêmios: Melhor longa da Mostra Panorâmica de Gramado, Leipzig Young Talent (Alemanha), Amazonia Doc, Forumdoc.BH, Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), melhor som no Atlantidoc (Uruguai) e Sesc Melhor Filmes 2011. Atualmente, dedica-se à produção de seu próximo filme, "Orestes", sobre o período pós-Lei de Anistia, que propõe um enfoque atual sobre o período da ditadura no Brasil e suas “sequelas”.