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Em "Água para Elefantes", Pattinson faz papel de adulto em filme infantilizado

ANTONIO FARINACI

Colaboração para o UOL

28/04/2011 07h00

Este filme bem poderia se chamar "A Elefanta que Falava Polonês". Brincadeira. Elefantes não falam, claro. Nem a que aparece neste filme. Mas o leitor que se aventurar a assistir a "Água para Elefantes" descobrirá que esta brincadeira faz sentido (não explico mais para não estragar a surpresa) - e é talvez a única informação de importância (e divertida) na trama deste filme tão desinteressante e infantilizado.

O filme tem sido apresentado como o primeiro papel "adulto" de Robert Pattinson, astro da série "Cepúsculo", de vampiros. Junto dele, estão Reese Whitherspoon ("Legalmente Loira") e Christopher Waltz ("Bastardos Inglórios").

Adaptado de um romance homônimo de Sara Gruen, de 2006, "Água para Elefantes" tem a Grande Depressão dos anos 30 como pano de fundo. O circo é apresentado como um microcosmo da sociedade americana, e o enredo tem um que de fábula - como tal, é moralista, previsível e seus personagens são planos.

Prestes a terminar a faculdade, Jacob (Pattinson) perde os pais num acidente e se junta a uma trupe de circo como veterinário. Lá, ele conhece Marlena (Whitherspoon), estrela do picadeiro, e seu marido, o violento August (Waltz), dono do circo. Um dia, morre um dos cavalos do número principal, e, para substituí-lo, August compra um elefante (que, aparentemente, não sabe fazer nada).

O slogan do filme é: "A vida é o maior espetáculo da terra". Mas a vida que o filme mostra não tem nada de espetacular. Nem de cotidiana. Pois esses personagens simplesmente não parecem ter uma vida própria. São artificiais e ocos. Como os personagens de uma história infantil que se inventa na hora, para distrair uma criança.

Fagulhas deveriam voar quando Jacob e Marlena se encontram pela primeira vez, e a tensão do amor interdito devia mover o filme. Whitherspoon até que dá conta da ambivalência de sua personagem, apaixonada pelo jovem veterinário e presa ao marido por medo e gratidão. Mas a química entre ela e Pattinson não acontece, ponto.

Pattinson criou um Jacob burocrático demais, respeitoso, bonitinho e limpinho demais para as circunstâncias - apesar de tudo o que se tem noticiado sobre os seus hábitos de higiene um tanto bissexta (a própria Reese teria dito ao site "Entertainment Weekly" que ele é sujo). Num dos momentos de maior tensão do filme, quando August açoita o elefante, Pattinson é imobilizado pelos capangas do dono do circo, para não impedir o patrão de fustigar o animal. Mas ele mal parece se debater.

Waltz até consegue criar momentos de tensão com seu vilão August. Mas o bom-mocismo anódino de Pattinson não é páreo para as suas viradas bruscas de humor, o que deixa Waltz sozinho em cena, às vezes.

O circo é um ambiente rico de imagens que apelam para emoções extremas de admiração, repulsa, vertigem, medo, alegria, susto… Mas nada disso foi captado pelo filme. Os artistas do circo são tratados como extras, sem história, apenas massa de manobra para encher as cenas.

O diretor do filme, Francis Lawrence, tem na bagagem os longas "Constantine" (2003) e "Eu Sou a Lenda" (2007), além de numerosos clipes, entre eles "Bad Romance", de Lady Gaga; "Pump It", dos Black Eyes Peas, e "Circus", de Britney Spears.

É interessante assistir a esse último, um clipe "tradicional", de 3 minutos e meio, uma vez que ele explora o mesmo universo de "Água para Elefantes": o circo. Será que eram necessárias duas horas para comunicar mais ou menos a mesma coisa?