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"A interpretação é como uma dança", diz João Miguel sobre seu trabalho em "Ex-Isto"

João Miguel, no papel de René Descartes, em cena do filme "Ex-Isto" - Divulgação
João Miguel, no papel de René Descartes, em cena do filme "Ex-Isto" Imagem: Divulgação

SÉRGIO ALPENDRE*

Colaboração para o UOL, de Porto Alegre

30/04/2011 09h00

No debate que ocorreu após a primeira exibição de "Ex-Isto", novo filme de Cao Guimarães, dentro do CineEsquemaNovo - Festival de Cinema de Porto Alegre, o público da Sala P.F.Gastal, que aplaudiu com entusiasmo após os créditos finais, pôde ouvir algumas falas interessantes de João Miguel, ator do filme, Cao Guimarães e Aline X, produtora e assistente de direção.

Tanto João quanto Cao destacaram uma parceria inédita entre "um ator que nunca havia trabalhado sem roteiro e um diretor que nunca havia trabalhado com um ator'. Esse ineditismo dá uma pequena ideia dos desafios que ambos enfrentaram nesta adaptação de "Catatau", livro emblemático de Paulo Leminski.

O texto narra uma vinda imaginária do filósofo René Descartes ao Brasil. No processo, João Miguel representa uma síntese de Descartes, de Leminski e dele próprio, segundo o diretor.

O ator acrescenta ser um desafio imenso trabalhar com a desconstrução que Leminski fez de Descartes. Foi necessário "mergulhar no 'Catatau', e em nós mesmos, diante dos deslocamentos" (o filme marca a passagem de Descartes por cinco estados brasileiros). O detalhe é que Descartes chega ao Brasil nos dias de hoje, visita Brasília e anda pelas ruas de Recife, interagindo com os habitantes.

João Miguel destacou ainda  a essência do teatro, o corpo, comparando a arte de interpretar a uma dança, um jogo. Para ele, "nunca estamos confortáveis, há sempre o risco, como o galho da árvore sobre o qual estou sentado quebrar durante a pororoca".

O ator e o diretor brincam ainda com as diferenças e necessidades de catalogação entre ficção e documentário. João Miguel foi certeiro na provocação: "'Ex-Isto' foi ao mesmo tempo meu primeiro documentário, e o primeiro trabalho de ficção de Cao", disse, sugerindo uma junção mais do que saudável dessas duas definições.

Cao Guimarães completa: "é difícil quantificar quanto há de ficção e quanto há de documentário em meus filmes. É tudo cinema". Ou "fricção", como quer João Miguel.

O ator acredita que a parceria entre eles e os demais membros da pequena equipe de filmagem ("Éramos seis", disse Aline X, parafraseando Maria José Dupré) tem a ver com o afeto entre eles. "Você deixa de ser ator, diretor, para ser um corpo só, algo ali vira outra coisa", conta João Miguel. "Eu fiquei moído depois das filmagens, mas estava vivo".