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Em "Bollywood Dream", brasileiras partem para a Índia atrás do sonho de serem atrizes; veja entrevista com a diretora

De câmera na mão, a diretora Beatriz Seigner filma cena de "Bollywood Dream" - Divulgação
De câmera na mão, a diretora Beatriz Seigner filma cena de "Bollywood Dream" Imagem: Divulgação

ANTONIO FARINACI

Colaboração para o UOL

01/05/2011 09h00

"Bollywood Dream - O Sonho Bollywoodiano", estreia em longa-metragem da diretora Beatriz Seigner, 26, e primeira co-produção cinematográfica Brasil-Índia, chegou aos cinemas na sexta-feira (29).

O filme, sobre três amigas que querem ser atrizes no exótico cinema musical hindu, passa ao largo da grandiosidade desse estilo. Em clima intimista, diz mais sobre as descobertas que se pode fazer dentro de si, do que no exterior.

"Gosto de brincar que é um 'Bollywood spaghetti'", contou a cineasta em entrevista exclusiva para o UOL Cinema, "porque usamos elementos do cinema indiano, sem fazer um filme exatamente bollywoodiano".

Segundo Seigner, o título em inglês é uma brincadeira: "Porque é um sonho de estrangeiro, essa coisa de viver em outro país, outra cultura, um sonho que, às vezes, nem é seu".

Três brasileiras (interpretadas por Paula Braun, Lorena Lobato e Nataly Cabanas) largam tudo para tentarem a sorte da Índia e se tornarem atrizes em Bollywood, um dos mais importantes polos de produção de filmes dentro da pujante indústria cinematográfica indiana, a maior do mundo. Em meio à jornada, no entanto, os acontecimentos mudam seus trajetos e objetivos.

"Eu queria um filme que falasse de sonho, mas com um pé na realidade, com espaço para improviso, porque a vida real é assim. A gente nunca sabe o que vai acontecer, o que uma coisa que a gente diz pode detonar, onde um diálogo pode nos levar", conta. "Acho que a realidade potencializa o sonho".

A cineasta, que é também uma das organizadoras da Mostra de Cinema Indiano em São Paulo, acredita que, desde 2000, a indústria cinematográfica da Índia está passando por uma renovação e tem produzido filmes para além do consagrado estilo musical (conhecido como "masala") que respeita uma fórmula fixa. Mesmo assim, hoje em dia, quem quer produzir um filme "fora dos padrões" (entenda-se: sem números musicais e de dança, sem heroísmo e romance), ainda encontra resistência.

BEATRIZ SEIGNER FALA SOBRE COMO FOI FILMAR NA ÍNDIA

"Nossa primeira equipe de produção era muito presa ao gênero tradicional e tinha dificuldade de aceitar, por exemplo, que eu não queria que ligassem um ventilador no cabelo das atrizes, quando elas entravam. Porque eu queria pessoas reais, não heroínas", lembra a cineasta.

Além disso, Seigner teve contra si um meio bastante machista. "Eles nunca tinham trabalhado com uma mulher como diretora, e tinha o fato de eu ser muito nova, também. Então, tudo o que eu dizia, precisava vir um homem repetir, para validar", ela conta.

"A Índia é o país das contradições. Ao mesmo tempo que eles já tiveram um grande número de mulheres em cargos de poder, como Indira Gandhi, eles são machistas. Por um lado, eles são super orgulhosos de ser indianos, mas têm na TV anúncios racistas de produtos que prometem 'branquear' a pele", conta a cineasta.

Diretora, roteirista e também responsável pela câmera do longa, Seiger tem diversos curtas na bagagem. Atualmente, ela trabalha no roteiro do longa "La Contadora de Películas", que será dirigido por Walter Salles, e toca dois projetos pessoais: a ficção "Barqueiras Aires" e um documentário sobre línguas mortas gravado em diversos países do mundo.

O sonho de fazer "Bollywood Dream" nasceu em 2006. "Eu tinha morado um tempo na Índia, e, quando voltei, meus amigos atores ficavam me perguntando sobre Bollywood, como fazia pra ir pra lá", conta Seigner. Duas das atrizes do filme, Paula Braun e Lorena Lobato, são amigas da diretora e participaram dessa gênese da ideia. "Pensei: vou roteirizar essa história".

TRAILER DO FILME ''BOLLYWOOD DREAM - O SONHO BOLLYWOODIANO''

O parceiro hindu que topou a ideia foi o cineasta Santosh Sivan, que vem de uma "dinastia do cinema indiano", como define Seigner. Ele entrou com todo o aparato logístico na Índia - equipe, hospedagem, transporte etc - em troca de 30% do arrecadamento líquido em bilheteria.

Com o projeto em mãos, ela criou coragem para chegar em Sivan, que estava em São Paulo para a  exibição de seu filme "O Terrorista", na Mostra de Cinema Indiano, que ela organizada há cinco anos.

"E levei junto um DVD de 'O Cheiro do Ralo', em que a Paula havia trabalhado… para dar mais credibilidade", brinca a diretora que até agora já bancou US$ 40 mil de gastos com o filme.

Veja o site de "Bollywood Dream - O Sonho Bollywoodiano" para saber em que salas o filme está em cartaz: