Elenco black encena história de amizade em "Vamos Fazer um Brinde"
Uma história de amizade despretensiosa sobre quatro amigas e um amigo gay que se reúnem na cobertura de uma delas para viver dramas e alegrias numa véspera de Réveillon, num elenco dominado por atores negros. Assim é o longa carioca "Vamos Fazer um Brinde", de Cavi Borges e Sabrina Rosa, que passou nessa terça (03) no Cine PE. Uma bem-vinda proposta num cinema brasileiro ainda dominado por atores negros em filmes de morro ou periferia.
O elenco reúne atrizes amigas há muitos anos, boa parte delas moradoras do Vidigal, como Juliana Alves (a Clotilde da novela "Ti-Ti-Ti"), Roberta Rodrigues ("Se Nada Mais Der Certo"), Cíntia Rosa ("Bróder") e Roberta Santiago (atriz da Rede Record).
"Vamos Fazer um Brinde" foi escrito por Sabrina como peça de teatro. Na falta de financiamento, seu namorado, Cavi, viabilizou o projeto no cinema - num filme digital que custou R$ 30 mil e foi rodado em três dias.
"Eu queria falar de pessoas, seus sentimentos, loucuras e amores. Por que não representar uma classe média negra que também existe? Mas meu filme não é só pra negros não, é pra todo mundo", brincou Sabrina. Segundo Cavi, o filme pode passar no Canal Brasil antes de ser exibido nos cinemas.
Felizes com o filme, as meninas se enchem de projetos. Sonham agora em finalmente montar "Vamos Fazer um Brinde" no teatro. Roberta Santiago, Cíntia e Sabrina formaram uma banda, a Melanina Carioca. Roberta Rodrigues terá papel em "Os Ruivos", próximo longa de Cavi Borges, e numa nova série do Multishow. Cíntia fará no teatro a peça "Guimba", ao lado de Antonio Pitanga. E Sabrina sonha em montar "Eu Sou Black", musical sobre a história da música black brasileira.
Produtor sem edital
O cérebro por trás da turma toda é Cavi Borges, ex-lutador de jiu-jítsu e dono de locadora (a Cavídeo, no Rio), produtor carioca que viabiliza curtas e longas-metragens de baixo orçamento sem o dinheiro de editais. Entre seus projetos estão os longas "Riscado", de Gustavo Pizzi, premiado no Festival do Rio; e "Enchente", de Julio Pecly e Paulo Silva, exibido no Festival de Tiradentes. Também é coprodutor de "Casa 9", de Luiz Carlos Lacerda, exibido aqui no Cine PE.
Cavi finaliza ao menos quatro projetos de longa inéditos mesmo em festivais, entre eles o documentário "Malditos Cartunistas", de Daniel Garcia, e "Stravenga", de Daniel Sampaio, um dos diretores de "Conceição - Autor Bom É Autor Morto". A dificuldade, como sempre, é encontrar espaço no circuito comercial dos cinemas.
Sem modéstia
O outro longa da noite desta terça foi o documentário "JMB, o Famigerado", sobre o poeta recifense Jomard Muniz de Britto, intelectual que teve suas ligações com o tropicalismo nos anos 60 - com depoimentos de Gilberto Gil e Caetano Veloso. Inquieto e irreverente, Jomard domina o filme com sua prosa inventiva e verborrágica, chamando o tempo todo Luci Alcântara, autora do filme, de "a melhor diretora do mundo".
Cena do documentário "JMB, o Famigerado"
Na coletiva, Luci mostrou uma surpreendente falta de modéstia. "É um filme sobre um poeta que acha, pensa e quer ser famoso, feito por uma diretora que quer ser mais importante que o personagem", explicou.
Jomard mostra-se um personagem cativante, Luci brinca com a metalinguagem, mas o filme começa a se repetir nos depoimentos e não sustenta seus 105 minutos de duração.
O próximo projeto de Luci é "O Melhor Documentário do Mundo", sobre a "megalomania pernambucana", com depoimentos de personalidades locais como João Câmara, Xico Sá e Ariano Suassuna. "A gente aqui tem esse ufanismo, essa idolatria, essa egolombra de se achar o maior, o melhor, o mais, o primeiro, o único", declarou.
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