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Nicole Kidman dá aula de sobrevivência a tragédias pessoais em "Reencontrando a Felicidade"

ANTONIO FARINACI

Colaboração para o UOL

09/05/2011 14h41

Chegou aos cinemas brasileiros na sexta-feira (6) o filme "Reencontrando a Felicidade", produzido pela atriz Nicole Kidman e pelo qual ela foi indicada a um Oscar de melhor atriz este ano.

Diante de uma perda avassaladora, como a morte de um filho, que reparação é possível? Como levar a vida adiante e remendar a rotina familiar? Em que reinvestir o afeto?

Baseado em uma peça de teatro homônima, o filme não traz respontas para essas perguntas dificílimas. Mas é honesto ao mostrar o duro cotidiano de um casal, em sua tentativa de salvar sua relação e continuar a vida em meio a escombros emocionais.

Kidman e Aaron Eckhart são Becca e Howie. Há oito meses, morreu Danny, seu filho único, de quatro anos. Cada um a seu modo vive o luto pela morte da criança, e suas diferenças colocam o casal em atrito constante.

Becca se pergunta se não seria melhor, como tentativa de seguir adiante, desfazer-se do cachorro de estimação que pertencia ao filho, tirar os desenhos colados na porta da geladeira e mudar de casa.

TRAILER DO FILME ''REENCONTRANDO A FELICIDADE''

Apegado a cada vestígio que a criança deixou na casa, Howie não suporta a ideia de se mudar, assiste constantemente ao vídeo que guarda de Danny no celular, e frequenta um grupo de apoio que Becca abandonou, farta da carolice dos outros integrantes.

Kidman e Eckhart estão bem contidos em seus papéis, e conseguem, acertadamente, ficar longe do dramalhão deslavado. A direção de Mitchel ("Hedwig - Rock, Amor e Traição") não é surpreendente, mas é eficaz - e até capaz de alguns momentos de leveza e humor, em meio a tanto sofrimento.

O contraponto do restante do elenco é fundamental para criar um distanciamento necessário do drama do casal. Destacam-se Dianne Wiest, como a mãe de Becca, em sintonia perfeita com Kidman, e Tammy Blanchard, como Izzy, a irmã amalucada.

"Reencontrando a Felicidade" é um filme sensato sobre perdas e superação, que prega bons valores e funciona quase como um guia de sobrevivência a tragédias pessoais. E nisso a personagem de Kidman dá uma aula. Ela nem sempre acerta, mas é sempre sincera em suas tentativas.

O filme fala sobre perda e sofrimento, mas sua reflexão principal é sobre o amor e o perdão: a importância de se preservar os afetos, mesmo os que não estão mais presentes, e a importância do perdão como forma de se libertar do passado e seguir adiante.

Dito isso, o título em português não poderia ser mais enganoso. O filme, na verdade, não promete o reencontro da felicidade. Apenas ensina que, em momentos de dor extrema, tudo o que se pode fazer é viver um dia de cada vez.