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Seis filmes tentam tirar a Palma de Ouro da Europa no Festival de Cannes

THIAGO STIVALETTI

Colaboração para o UOL

11/05/2011 07h00

O próprio Thierry Frémaux, diretor do Festival de Cannes, admitiu: a crise financeira de 2008 repercutiu no cinema e abalou a safra do ano passado, que acabou sendo mais de pequenas surpresas do que de grandes nomes. Tanto que a Palma de Ouro foi para o inesperado tailandês "Tio Boonmee que Pode Recordar Suas Vidas Passadas".

Neste ano, porém, a história é outra. Os grandes nomes voltaram com tudo, num ano que promete ser cheio de grandes destaques. Há quanto tempo Cannes não reunia um time tão forte quanto Woody Allen na abertura, Pedro Almodóvar, Lars Von Trier, Terrence Malick e Nani Moretti na Competição e Gus Van Sant na mostra Un Certain Regard (Um Certo Olhar)?

Sem falar em todas as estrelas que desfilarão pelo tapete vermelho do Palácio dos Festivais defendendo seus filmes: Brad Pitt, Sean Penn, Jodie Foster, Mel Gibson, Johnny Depp, Penélope Cruz, Antonio Banderas, Kirsten Dunst, Kiefer Sutherland, Owen Wilson, Ryan Gosling, Catherine Deneuve, Louis Garrel.

Chico Buarque na tela

Ao contrário do ano passado, quando a zebra tailandesa levou a Palma de Ouro, neste ano há bem menos chances de o prêmio sair da Europa. Dos 20 filmes competindo, apenas seis não são europeus: os americanos "Drive" (com Ryan Gosling e Carey Mulligan) e "A Árvore da Vida" (com Brad Pitt e Sean Penn), o americano-israelense "Footnote", os japoneses "Harakiri - A Morte de um Samurai" e "Hanezu no Tsuki" e o australiano "Sleeping Beauty" (Com Emily Browning). Nenhum filme da América Latina concorre ao prêmio.

  • Divulgação

    Cena do filme ''Trabalhar Cansa'', longa de Juliana Rojas e Marco Dutra

O Brasil não concorre à Palma, mas apresenta dois longas fora da competição. O veterano Karim Ainouz (de "Madame Satã" e "O Céu de Suely") estreia na paralela Quinzena dos Realizadores com "O Abismo Prateado", uma interpretação livre da canção "Olhos nos Olhos", de Chico Buarque, estrelado por Alessandra Negrini.

Os novatos Marco Dutra e Juliana Rojas têm seu primeiro longa, "Trabalhar Cansa", exibido na mostra Um Certo Olhar. Assim como nos curtas da dupla, o filme mistura elementos do cotidiano com um realismo fantástico que pode derivar pro terror.

Defesa da liberdade

Mas Cannes não é só pódio das estrelas - é também um importante terreno político de defesa do cinema de autor, sempre ameaçado (senão pelas dificuldades financeiras) pelos autoritarismos políticos.

Em cima da hora, o festival incluiu em sua seleção os longas de dois cineastas iranianos hoje presos pelo regime ditatorial de Mahmoud Amadinejad. Jafar Panahi (de "O Balão Branco") e Mouhammad Rasoulof não poderão ir ao festival, mas conseguiram enviar aos organizadores seus filmes feitos clandestinamente com câmeras digitais.

Do primeiro, será exibido o documentário "Ceci n’est pas un film" (Isto Não é um Filme), sobre um dia na rotina do cineasta, com uma meditação sobre as condições atuais precárias de todo o cinema iraniano. Do segundo, a ficção "Au Revoir" (Adeus), sobre uma advogada que tenta a todo custo obter um visto para sair do Irã.

Entre glamour e política, cineastas consagrados e as surpresas que renovam o cinema todos os anos, Cannes deve fazer mais uma vez a súmula do que de melhor os cinemas do mundo todo vão mostrar nos próximos meses.