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Nanni Moretti põe o Papa para fazer terapia na comédia "Habemus Papam"

Cena do filmes "Habemus Papam" - Divulgação
Cena do filmes "Habemus Papam" Imagem: Divulgação

THIAGO STIVALETTI

Colaboração para o UOL, de Cannes

13/05/2011 12h04

Um Papa morre, e o novo Papa (Michel Piccoli) é eleito pelo Conclave do Vaticano. Mas, na hora de ser anunciado, ele sofre um ataque de pânico, entra em depressão e precisa fazer terapia. Na comédia "Habemus Papam", apresentado hoje no Festival de Cannes, o diretor Nanni Moretti (de "Caro Diário") faz uma ácida crítica à crise da Igreja no mundo de hoje. O diretor já venceu a Palma de Ouro em Cannes há dez anos com o drama "O Quarto do Filho".

Entra em cena o próprio Nanni Moretti como o psicanalista que tem a dura missão de dar um jeito na cabeça do Papa o mais rápido possível. Mas imagine um Papa que só pode fazer "terapia" na frente de dezenas de cardeais, sem poder falar muito de seus medos, fantasias e nem da própria infância. Missão impossível.

"As pessoas esperavam que eu denunciasse aspectos do Vaticano no meu filme, mas não quis fazer isso. Já conhecemos bastante os escândalos de pedofilia na Igreja, os escândalos financeiros. Quis apenas contar uma história fantasiosa, com um Papa e um Vaticano inventados por mim", explicou Moretti.

O diretor assume que é um ateu mexendo num vespeiro delicado na Itália, a instituição da Igreja Católica. "Meus filmes são feitos por um ateu, alguém que não acredita em Deus. Quando alguém diz que este é um filme sem fé, não posso negar. Buñuel dizia que era ateu graças a Deus. Eu não: lamento muito não conseguir acreditar", explicou.

Moretti evitou qualquer crítica a Silvio Berlusconi ou à política italiana. Quando uma repórter lhe perguntou se as cenas cômicas no Vaticano faziam alusão aos políticos ou à TV italiana, respondeu com um curto "não".

O francês Michel Piccoli, lendário ator de filmes como "O Desprezo" de Godard e "A Bela da Tarde" de Buñuel, comentou que, ao contrário de seu personagem relutante, aceitou o papel na hora. "É um papa dúbio, cheio de angústia e ao mesmo tempo de felicidade e crença em Deus. Todos os homens passam por esse momento de pânico em algum momento na vida. Esse homem tem a obrigação de conduzir um povo, mas não consegue. E há sempre um grito no lugar de uma resposta impossível".

"Habemus Papam", que já estreou na Itália e será lançado em setembro na França, ainda não tem previsão de estreia no Brasil.