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"Não penso que o 3D seja o futuro do cinema", diz diretor alemão Werner Herzog em São Paulo

Werner Herzog, cineasta alemão, é fotografado em Paris, na França (2/03/2009) - AFP
Werner Herzog, cineasta alemão, é fotografado em Paris, na França (2/03/2009) Imagem: AFP

ALYSSON OLIVEIRA

Do Cineweb

17/05/2011 16h27

Apesar de ter acabado de lançar um documentário em 3D, o diretor alemão Werner Herzog ("Vício Frenético", "O Enigma de Kaspar Hauser") não se mostra otimista com o formato.

"No cotidiano, nossos olhos não funcionam com a terceira dimensão, vemos as coisas de forma chapada e nossa visão periférica faz o complemento. Por isso, não creio que no futuro todos os filmes sejam feitos em 3D", disse em coletiva em São Paulo, onde participa do 3º Congresso Internacional de Jornalismo Cultural.

"Não pretendo abandonar o celulóide, pois não consigo encontrar a mesma qualidade no digital. E quando faço um filme, a tecnologia não afeta o meu trabalho, mesmo quando filmo em 3D", explicou.

O diretor comparou o formato com fogos de artifício, que, segundo ele, "o público adora, mas não vai além disso, são apenas fogos de artifício". "Não tenho nada contra, acho muito bonito, mas certas histórias não dependem disso. As pessoas assistem a uma comédia romântica para verem um final feliz, para verem um filme com emoção, e não tecnologia".

TRAILER DO FILME ''CAVE OF THE FORGOTTEN DREAMS''

O mais recente trabalho do cineasta, "Cave of the Forgotten Dreams", que foi lançado há pouco nos EUA e Inglaterra, é um documentário em 3D sobre as pinturas rupestres das Cavernas de Chauvet, no sul da França.

"Fiz o filme nesse formato porque não podia ser diferente. Mais do que mostrar as imagens na tela, eu queria que as pessoas se sentissem dentro das cavernas, uma vez que, há anos, estão fechadas para visitação do público", relatou.

Herzog apontou também que houve grandes dificuldades em filmar com a tecnologia 3D num lugar de difícil acesso. "Tínhamos que tomar cuidado até onde pisávamos, pois há pegadas de ursos que foram extintos há mais de 20 mil anos, e não podíamos as estragar".

Fora isso, o cineasta também precisou convencer um grupo de cientistas de que ele seria a pessoa ideal para fazer esse filme,e contou com o apoio do Ministério da França, de quem cobrou apenas 1 euro para dirigir esse filme. "Pintura rupestre é uma paixão que eu tenho desde minha adolescência quando vi um livro exposto numa livraria".

Atualmente, o diretor trabalha num documentário sobre internos que estão no Corredor da Morte, numa prisão no Texas. "Não será um filme sobre execução, mas sobre essas pessoas. Eu não os vejo como monstros, tento buscar o que há de mais humano neles".

O cineasta vive há alguns anos em Los Angeles, e, no entanto, diz que não importa onde está morando, pois seu cinema sempre estará ligado à cultura Bávara. Para um de seus futuros projetos, Herzog pretende filmar no deserto árabe. "É um filme de proporções épicas, que não pode ser filmado agora, pois a região está muito conturbada".

Ele confessa que ainda não tem o dinheiro que precisa para rodar esse projeto, e, acredita, que, inicialmente, virá de investidores árabes. "Há algo de muito profundo e bonito na cultura islâmica, que é visto de forma deturpada há algum tempo pelo cinema ocidental. Antigamente, em Hollywood, os vilões eram os russos, agora, são os árabes. Meu filme irá na contramão dessa idéia".

Apesar dessas críticas aos Estados Unidos, Herzog ressaltou a forma respeitosa como o presidente Barack Obama tratou o corpo de Osama Bin Laden, não o mostrando publicamente, e garantindo ritos fúnebres de acordo com as tradições muçulmanas. "Foi um gesto muito nobre. Vivemos uma época em que existe um exibicionismo, uma tendência a revelar tudo. Não há dignidade em mostrar a morte".