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Filme francês mostra Sarkozy antes das eleições presidenciais e de Carla Bruni

Cena do filme "La Conquête" - Divulgação
Cena do filme "La Conquête" Imagem: Divulgação

THIAGO STIVALETTI

Colaboração para o UOL, de Cannes

18/05/2011 13h37

Enquanto "Melancolia" de Lars Von Trier dominou a atenção do mundo hoje em Cannes, os franceses estavam interessados em outra coisa: o filme "A Conquista", de Xavier Durringer, uma ficção que mostra os últimos dias de Nicolas Sarkozy, antes de ser eleito presidente da França em 2007. Exibido no festival, o filme entra hoje mesmo em cartaz na França.

Um pouco antes das eleições, Sarkozy se trancou em sua casa, sem contato com o mundo exterior. As pesquisas já apontavam que ele iria ganhar as eleições.

Mesmo com a vitória iminente, o filme mostra um político triste e desapontado - pois, enquanto preparava-se para tomar o poder, encarava ao mesmo tempo a crise em seu casamento com a primeira mulher, Cécilia Sarkozy. No fim do mesmo ano, ele conhece a ex-modelo e cantora Carla Bruni, com quem se casa logo em seguida.

Em flashback, "A Conquista" mostra os cinco últimos anos na vida de Sarkozy antes da vitória. O filme mostra um Sarkozy agressivo e sem papas na língua contra os adversários, mas alguns jornalistas o consideraram uma obra chapa-branca. "Não creio que esse filme vá fazer algum mal à imagem de Sarkozy", ironizou um jornalista francês.

Telhado de vidro

Na entrevista coletiva, o ator Denis Podalydès, que interpreta Sarkozy no filme, contou que encontrou o presidente alguns meses após as filmagens. "Ele me disse que não iria ver o filme, assim como não leu nenhum dos livros escritos sobre ele. E mostrou-se chateado pelo fato de o filme devassar uma parte de sua vida pessoal".

O diretor Xavier Durringer não teve coragem de tocar nas feridas francesas. Recusou-se a responder às perguntas políticas, dizendo que só iria falar de cinema - como se seu filme fosse sobre as pinturas de Monet, e não sobre um político ainda no poder. "Politicamente, não é esse filme que vai mudar a importância de um voto", retrucou.

Mas o diretor se sentiu mais à vontade para atacar Woody Allen quando questionado sobre o papel de Carla Bruni em seu filme "Meia Noite em Paris", que abriu o festival: "talvez ele a tenha a escolhido porque tornou as coisas mais fáceis para ele, para conseguir autorização para filmar em todas as locações de Paris".

E, enquanto poupava Sarkozy, detonou o premiê italiano, Silvio Berlusconi: "Quando mais ele se torna um personagem de circo, quanto mais faz declarações contra os homossexuais e outras barbaridades, mais ganha votos".

Japonês da natureza

A japonesa Naomi Kawase apresentou ontem em competição "Hanezu", um ensaio poético sobre uma mulher, o marido e seu amante que vivem na região de Asuka, conhecida como o lugar de nascimento do Japão. A diretora já foi premiada duas vezes no festival, por "Suzaku" (1997) e "A Floresta dos Lamentos" (2007), exibido na Mostra de São Paulo.

No filme, Kawase filma a natureza como nenhum outro diretor contemporâneo. "A natureza não só o cenário, é o personagem principal do meu filme. Temos que entender que a natureza é parte de nós, e não podemos viver sem ela". Apesar da atmosfera poderosa do filme, as propostas de "Hanezu" permanecem indecifráveis para o espectador ocidental.