Com pré-estreia no Alemão, documentário "4 X UPP" segue a linha de jovens cineastas que retratam a pacificação das favelas cariocas

O Cinecarioca em Nova Brasília, um das 13 comunidades Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, foi palco hoje (21) da pré-estreia nacional do documentário ‘4 x UPP’ produzido por Cacá Diegues.

 

A primeira sala de cinema numa favela recebeu a exibição do filme durante a mostra ACIE de Cinema, um evento promovido pela Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira.

 

Seguindo a mesma linha do ‘5 x Favela - Agora por Nós Mesmos’, uma obra coletiva, o cineasta Cacá Diegues lançou o desafio a quatro jovens diretores moradores de favelas no documentário que retrata algumas facetas da instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) que tem mudado a cara de algumas das comunidades mais violentas do Rio.

 

“É um trabalho que me deu muita alegria, muita satisfação. Até me rejuvenesceu de certo modo. Assim como o ‘5 x Favela’, este é um filme totalmente concebido por jovens cineastas moradores de favelas. Eu fui apenas o coordenador e o produtor”, afirmou Cacá Diegues durante a primeira exibição nacional do documentário.

 

A primeira sessão do filme foi feita há 15 dias no festival de cinema brasileiro em Paris. Segundo Diegues, o público parisiense recebeu com muita emoção o filme. “Mostra que realmente se está se fazendo alguma coisa de novo nesse país, não apenas na segurança pública, nas UPPs, mas no audiovisual também por jovens cineastas”, destacou.

 

Com quatro episódios de 25 minutos cada, os diretores coordenados por Cacá foram às ruas para falar com a população moradora das favelas e do “asfalto” para saber como vêem a implantação destas unidades pacificadoras nas comunidades. E ainda registraram a formação dada aos polícias que se preparam para atuar nas UPPS.

 

 

O diretor Rodrigo Felha, morador de Cidade de Deus, gravou a formação de policiais que trabalham nas UPPs. “Eu sempre tive medo de andar perto de polícia”, contou, mas aí surgiu o desafio de ver cara a cara como os policiais são formados.

 

Com um histórico de traficante na sua família, Luciano Vidigal, do Grupo Nós do Morro, filmou a partir do lado da “bandidagem”. Ele conversou com ex-traficantes que deixaram o crime e resolveram ingressar no mercado de trabalho. 

 

Já Cadu Barcelos, que mora no Complexo da Maré, quis saber o que é a UPP na visão do morador dessas comunidades. E Wagner Novaes, retrata do ponto de vista de “moradores do asfalto” que não conhecem as favelas, mas também tem suas opiniões sobre as UPPs.

 

O Coronel Robson Rodrigues, comandante das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Rio de Janeiro, que esteve presente na pré-estreia, considerou este um “marco histórico” e caracterizou o momento como um “fenômeno” não só para a polícia e segurança pública, mas para os artistas que estão sensíveis ao tema.

 

“É um momento inicial. Conheço o trabalho do Cacá Diegues, acho que tem um toque de sensibilidade e crítica, a gente espera críticas construtivas também. Muito provavelmente a UPP e esse momento de autoestima do carioca será representado em qualquer manifestação cultural e artística, e o cinema é um deles. É claro que esse tema vai parar no cinema”, afirmou.

 

Apesar desta pré-estreia nacional, o documentário ainda não tem data para ser lançado oficialmente. “Quando estávamos terminando o trabalho de ‘4 x UPP’ em novembro de 2010, aconteceu a ocupação do Alemão e surgiu a ideia de filmar o quinto episódio dirigido pelos quatro diretores simultaneamente”, explicou Cacá. “Só vamos lançar o filme em setembro ou outubro quando o último episódio estiver pronto e vai se chamar ‘5 x UPP’”.

 

Inaugurada em 24 de dezembro de 2010, logo após a ocupação do Alemão pelas forças de segurança, a sala de cinema Cinecarioca em Nova Brasília está sempre lotada.  

 

A sala tem capacidade para 91 lugares e exibe filmes com alta definição e também em 3D. Os gestores da sala estão também antenados com os lançamentos do momento. Nesta sexta-feira, começou a exibir o “Piratas do Caribe 4”. Segundo o presidente da Rio Filme, Sérgio Sá Leitão, a ideia é construir até 2012 mais 10 salas de cinema no Alemão.