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"Imprensa fez uso chocante das declarações de Von Trier", diz Catherine Deneuve

Catherine Deneuve prestigia a sessão do filme "Les Bien-Aimes", do qual é protagonista - Pascal Le Segretain/Getty Images
Catherine Deneuve prestigia a sessão do filme "Les Bien-Aimes", do qual é protagonista Imagem: Pascal Le Segretain/Getty Images

THIAGO STIVALETTI

Colaboração para o UOL, de Cannes

21/05/2011 11h49

 

A polêmica em torno das declarações nazistas de Lars Von Trier continuaram neste sábado, último dia da competição no Festival de Cannes. Catherine Deneuve, estrela do filme de encerramento do festival, “Les Bien Aimés” (Os bem amados), se irritou quando uma repórter lhe perguntou o que achou das declarações do cineasta.

“As declarações de Lars foram chocantes, mas é ainda mais chocante a maneira como vocês da imprensa fizeram uso dela. Sei como essas coisas funcionam: de tudo o que estou falando aqui, duas ou três frases fora de contexto podem ser usadas, e a coisa se espalha ainda mais rápido com a internet”, declarou. Ela e Von Trier trabalharam juntos no filme “Dançando no Escuro” (2000), Palma de Ouro em Cannes.

O ator Louis Garrel, que também atua no filme, aproveitou para criticar a postura dos franceses quanto às questões da Segunda Guerra. “A questão do colaboracionismo (os franceses que colaboraram com os nazistas durante a Segunda Guerra) é uma neurose e um trauma na França. As pessoas não falam abertamente sobre isso. Por que hoje a Alemanha lida melhor com a xenofobia? Porque eles trabalharam essa questão. Enquanto a França ainda recebe críticas pelo tratamento dado aos ciganos, por exemplo”, disse.

Musical de 40 anos

Polêmicas à parte, Deneuve e Garrel estão muito à vontade em “Les Bien Aimés”, um filme muito parecido com “Canções de Amor”, que o mesmo diretor, Christophe Honoré, dirigiu em 2007. O novo filme começa nos anos 60, quando a jovem Madeleine se apaixona por um tcheco e se muda para Praga. Já nos anos 90, Madeleine (agora na pele de Deneuve) voltou à França, casou-se com outro homem, mas não resiste a algumas escapadas com o ex-marido.

A filha Vera (Chiara Mastroianni, filha de Deneuve com Marcello Mastroianni) vive então os seus próprios conflitos de amor, quando se apaixona por um rapaz gay. O elenco ainda reúne a francesa Ludivigne Seigner (de “Uma Garota Dividida em Dois”), o americano Paul Schneider (de “Água para Elefantes”) e o tcheco Milos Forman (diretor de “Um Estranho no Ninho”).

Como em “Canções de Amor”, todos os personagens cantam seus sofrimentos em cena. Mas com uma diferença: o primeiro filme foi escrito a partir de músicas que já tinham sido compostas por Alex Beaupain. Em “Les Bien Aimés”, Beaupain pegou o roteiro e a partir daí escreveu as músicas.

A felicidade ou a vida?

Deneuve adorou voltar a cantar – um de seus papéis mais famosos é no musical “Os Guarda-Chuvas do Amor”, de Jacques Demy (1964). “Cantar é muito liberador, é um meio de expressão para além do natural. Produz um efeito físico imediato, é muito agradável”, comentou. Musa de “A Bela da Tarde” (1967), a atriz entende as escapadas da personagem. “Há casais infiéis que são fiéis a eles mesmos. A fidelidade é interessante, mas também muito difícil.” E comentou uma frase de seu personagem: “acredito na vida, e não na felicidade”. “A frase é justa. A felicidade não é um estado constante; temos apenas momentos de felicidade. Mas a vida é a vida”, filosofou.

Ao filmar “Les Bien Aimés”, o diretor Christophe Honoré quis confrontar o amor com a passagem do tempo. “Comecei a comparar a minha vida com aquilo que eu imagino que foi a vida amorosa dos meus pais nos anos 60. Temos a ideia de que aquela foi a época de ouro das histórias de amor.” E defendeu o direito de fazer musicais nostálgicos no século 21. “Nunca acreditei que o cinema foi feito para filmar a vida. Mas ao mesmo tempo, quero que ele seja muito vivo.”