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Filme da Disney busca retrato fiel da adolescência, mas não aborda problemas mais sérios dos jovens americanos

Aimee Teegarden (foto) é a personagem Nova Prescott no filme "A Melhor Festa do Ano", da Disney - Richard Foreman Jr.@ Disney Enterprises
Aimee Teegarden (foto) é a personagem Nova Prescott no filme "A Melhor Festa do Ano", da Disney Imagem: Richard Foreman Jr.@ Disney Enterprises

<b>GABRIELA ALBUQUERQUE</b>

Enviada especial a Los Angeles*

13/06/2011 07h00

O cenário é hostil: um centro de reabilitação para menores infratores desativado há alguns anos em Whittier, no Estado da Califórnia, Estados Unidos. Dentro de algumas salas de aula ainda há frases como “domine seu ódio” escritas no quadro negro. No entanto, em uma tarde de sol do mês de agosto, o lugar esquisito estava cheio de adolescentes que circulavam de um lado para o outro com roupas elegantes. Enquanto os meninos vestiam ternos e smokings, meninas com longos vestidos se equilibravam em saltos altos, maquiadas e com cabelos presos em penteados de festa. Paisagem estranha para quem não soubesse o que estava acontecendo ali.

 A explicação é simples: no local estavam sendo gravadas as cenas finais do filme “A Melhor Festa do Ano” (“Prom”, título original em inglês), que estreou nos Estados Unidos em 29 de abril e é a nova aposta da Disney para o público que aguardava o próximo passo do estúdio depois do fim da sequência de filmes “High School Musical”, que conquistou milhões de fãs em todo o mundo.

 “O filme é sobre o que os alunos do último ano do colegial americano vivem e falam a respeito”, explica o diretor Joe Nussbaum em entrevista ao grupo de jornalistas que visitou o set de gravação do filme enquanto as filmagens aconteciam no ano passado. “Obviamente, o baile é um grande evento para eles, é a hora de escolher a companhia que vai definir se o momento será romântico, de amizade, de paquera, do fim de um relacionamento ou o início de um novo”. E resume: “No filme, cada casal tem sua história e cada uma é diferente da outra”.

“A Melhor Festa do Ano” acompanha a preparação de um grupo de estudantes de um High School chamado Brookeside High para a grande comemoração do fim da escola. Até a grande noite, namoros antigos vão ser colocados em xeque, novas paixões surgem e, também, dúvidas e inseguranças comuns à fase serão mostradas. Mas não espere que isso se torne um drama exagerado.

“Meu maior desafio foi acertar o tom da história”, conta Nussbaum. “O roteiro que temos em mãos pode ser muito dramático e eu não queria torná-lo melodramático; com certeza é também muito engraçado, e eu não queria torná-lo bobo. Não queria ir muito fundo em nenhuma das duas direções, mas equilibrá-las. Acho que só vou descobrir se deu certo mesmo quando eu vir tudo pronto”, ponderava o diretor enquanto a história ainda estava sendo filmada.

RETRATO FIEL (?) DA ADOLESCÊNCIA AMERICANA
“Como fazer com que um evento tão particular da cultura americana como o prom se comunique com espectadores do mundo todo?”, questionou a reportagem do UOL ao diretor. “Eu não sei como acontece em outros países, então falo pelo que conheço. Desde tão cedo eu soube que esse momento existia, os adolescentes se dedicam tanto a ele quando a hora chega, que espero que a especificidade do evento seja justamente o que vai despertar interesse nas pessoas, e fazê-las entender tudo o que está associado a ele. Além disso, namoros, paixões e relacionamentos são experiências universais que qualquer um pode viver”, explica.

Joe Nussbaum, diretor

“Temos que aceitar que há assuntos em que a Disney simplesmente não toca”

 
O produtor do filme, Justin Springer, às voltas com a coordenação dos cerca de 270 figurantes no dia em que a imprensa visitou o set, contou que um dos objetivos da equipe era fazer um filme adolescente que captasse a autenticidade do que é realmente passar por essa fase da vida, como se apaixonar e ter o coração partido. “Acho que conseguimos e também penso que vamos surpreender muitas pessoas. É uma história de emoções que não tem medo de tocar em assuntos mais dramáticos e, ao mesmo tempo, capturar a importância do significado que você coloca em um simples baile quando se é adolescente”, aposta Springer.

 Mas a autenticidade para um filme da Disney, “ficha limpa” quando se trata de produzir entretenimento para crianças e adolescentes, para por aí. Sexo, perda de virgindade, bebidas e drogas, que geralmente são temas associados à noite do baile nos Estados Unidos, não serão abordados sob nenhum aspecto. “Ninguém está dizendo que isso não acontece”, defende Nussbaum. “Você vai ao banheiro, por exemplo, e não precisa falar disso pra ninguém”.

Apesar da proibição de temas a serem abordados no mundo dos filmes da Disney, o diretor buscou sua principal influência nas comédias adolescentes que John Hughes fez na década de 80, como “Gatinhas e Gatões” (Sixteen Candles, 1984), “Clube dos Cinco” (The Breakfast Club, 1985) e “A Garota de Rosa-Shocking” (Pretty in Pink, 1986), alguns deles até considerados impróprios para menores de 18 anos na época do lançamento. No primeiro, um garoto atrapalhado faz de tudo para perder a virgindade com uma garota mais velha; no último, um grupo de adolescentes usa maconha durante um castigo na escola.

“Temos que aceitar que há assuntos em que a Disney simplesmente não toca”, finaliza Nussbaum. “Há momentos mais memoráveis do que esses para retratar a adolescência, completa o produtor Justin Springer.
 

Agora, a grande dúvida é se “A Melhor Festa do Ano” terá o apelo suficiente para virar uma franquia de filmes como aconteceu com “High School Musical”. Por enquanto, não há nada certo, mas a imprensa americana já especula que Katie Wech, roteirista deste primeiro filme, está sendo sondada pela Disney para escrever mais um roteiro adolescente para o estúdio, mas, ao que parece, a informação está sendo mantida à sete chaves.

No Brasil, os adolescentes terão que se contentar em assistir ao filme em casa, em DVD. A Disney havia planejado lançá-lo no cinema em 8 de julho, mas os planos mudaram e a previsão é de que o DVD para locação chegue ao país em agosto e comece a ser vendido ao público em novembro. Sobre a decisão, a assessoria de imprensa não comenta muita coisa, apenas que se trata de uma "estratégia da empresa".

 *A jornalista viajou para Los Angeles a convite da Disney