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"A linguagem do cinema é universal", diz ator japonês protagonista do longa brasileiro "Corações Sujos"

ALYSSON OLIVEIRA

Do Cineweb, de Paulínia

08/07/2011 15h32

 

Com um elenco internacional, “Corações Sujos”, produção brasileira dirigida por Vicente Amorim (“Um homem bom”), abriu o 4º Paulínia Festival de Paulínia. Adaptado do livro homônimo do jornalista Fernando Morais (“Olga”, “Chatô, O Rei do Brasil”), o longa traz Tsuyoshi Ihara (“Cartas de Iwo Jima”, de Clint Eastwood) no papel central, como um japonês que mora no Brasil, e, ao lado de outros membros da colônia, em meados do ano de 1940, não acredita que o Japão tenha perdido a 2ª Guerra Mundial. No elenco também estão Eduardo Moscovis, André Frateschi e Kimiko Yo (do oscarizado “A Partida”).

“Eu não conhecia a história dos derrotistas [que foram chamados de Corações Sujos por admitir a derrota do Japão]. Isso não é ensinado nas escolas japonesas, portanto foi uma grande surpresa quando recebi o roteiro do filme, e comecei a fazer pesquisas”, disse Ihara, que veio do Japão especialmente para a abertura do Festival e participou de uma coletiva no começo da tarde desta sexta-feira (8). “Sou neto de coreanos, e entendo como pode haver preconceito contra imigrantes”.

Veja trailer de "Corações Sujos"

Amorim, diretor do longa, explica que o processo de escolha de elenco foi longo e complexo, especialmente porque a maioria dos atores do filme são japoneses e não falam português. Mas, no set, durante as filmagens não houve problemas. “Tivemos o roteiro adaptado por uma escritora japonesa, que já havia feito o mesmo trabalho em ‘Cartas de Iwo Jima’. Ensaiamos durante um mês antes de começar a filmar. Todos estavam muito entrosados, que nem percebíamos a diferença das línguas”, explica o diretor. Ihara concorda com ele, e conta que ele e seus colegas deram várias sugestões a Amorim. “Ele acolhia a todas com um sorriso. Percebi que muitas vezes não precisamos falar a mesma língua para fazer cinema. A linguagem do cinema é universal”, falou o ator.

Comparar Amorim com Eastwood não é difícil para Ihara: “Vicente é sorridente, e Clint, é o próprio Dirty Harry”, brinca o japonês se referindo a um dos personagens mais famosos do ator e diretor norte americano. Quanto ao Brasil, ele explica que não teve dificuldades em se adaptar. “Adoro feijão, e não tive problema em encontrar esse prato no país. Fazíamos arroz branco no set. Mas gostei mesmo foi dos restaurantes italianos. Senti que todos voltamos para o Japão mais energizados”, brinca.

As filmagens de “Corações Sujos” aconteceram no Pólo Cinematográfico de Paulínia há cerca de dois anos, onde foram reconstituídas diversas cidades do interior paulista em que ocorrem disputas entre derrotistas e vitoristas e há a atuação da organização "Shindo Reinmei". “Não seria possível usar cenários reais da época, porque embora existam construções do período ainda de pé, estão cercadas por modernidade”, explica Amorim. Foram construídas em estúdio seis ruas onde se passa a história.

O nome "Shindo Renmei", alias, não é citado uma única vez no filme, e o roteirista David França Mendes explica que essa foi uma opção que fez junto com o diretor para não distanciar o público do drama pessoal de seus personagens. “Não é um filme sobre a Shindo Renmei. Ficar falando dela remeteria à ideia de uma sociedade secreta, de um gênero de cinema que não nos interessava”, explica França Mendes.