"Personagem de Rodrigo Santoro volta para descobrir o que é o país dele", diz diretor de "Meu País"
Estreante na direção de longas de ficção, André Ristum apresentou “Meu País” no sábado (9) no 4º Paulínia Festival de Cinema. O filme traz em seu elenco Rodrigo Santoro, Cauã Raymond e Débora Falabella, como três irmãos que se reencontram depois da morte do pai (interpretado por Paulo José). O irmão mais velho, Santoro, mora na Itália, é obrigado a voltar para o Brasil e descobre ter uma meia irmã com deficiência intelectual, além de vários problemas com seu irmão caçula.
Em seu primeiro longa de ficção, Ristum – que tem em seu currículo curtas como “De Glauber para Jirges” e “14 Bis”, além do documentário “Tempo de Resistência” – disse que trouxe para o filme muito da sua experiência de ser um estrangeiro em seu próprio país. Ele nasceu em Londres e cresceu na Itália, até vir para o Brasil na adolescência. “Eu sempre fui visto como o menino de fora. Na Itália me chamavam de brasileiro, e no Brasil, de italiano. Mas eu sempre me senti brasileiro. Eu me lembro de chorar na Copa de 82, morando na Itália, quando o Brasil foi eliminado pela própria Itália”, disse em entrevista ao UOL Cinema.
Ele confessa que não trouxe fatos específicos para o filme, mas a sensação da perda das raízes o acompanhou a vida toda. Agora, ele mora em São Paulo, onde trabalha no desenvolvimento de outros dois roteiros que espera filmar em breve. “Um deles é um suspense, escrito por um tio-avô italiano. Mas é uma história que pode se passar em qualquer país”, adianta. O outro filme também lida com relações familiares e terá como personagem central uma mãe.
Para conceber “Meu País”, Ristum e seus colaboradores fizeram mais de dez versões do roteiro até chegarem no ‘menos é mais’ que tanto interessava o diretor. “Gosto muito dos silêncios que pontuam o filme, eles podem dizer mais do que os diálogos.” Ele afirma que essa depuração também aconteceu nas filmagens e na montagem, assinada pelo experiente Paulo Sacramento, que também dirige filmes como o documentário “Prisioneiros da grade de ferro”. “Foi também um desafio para ele montar um filme tão diferentes daqueles a que ele está acostumado a trabalhar”.
Ter Paulo José no elenco, para Ristum foi emocionante. O ator era amigo do pai do diretor, Jirges Ristum, morto em 1984, e que foi assistente de cineastas como Michelangelo Antonioni, Glauber Rocha e Bernardo Bertolucci. “O Paulo era amigo do meu pai. Foi mágico trabalhar com ele. Não houve uma preparação específica. Conversamos muito sobre o personagem, sobre o filme. E a presença dele domina o filme inteiro, mesmo não estando em cena”.
Ristum, que coescreveu o roteiro com o argentino Octávio Scopelliti e Marco Dutra, disse que desde o começo, o filme teve esse título – embora em alguns momentos, outros foram cogitados. “Essa questão do que é o país de cada um está implícito no filme. Pode ser a sua pátria, a sua família. O personagem do Santoro volta para cá para descobrir o que é o país dele.”
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