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"É filme arriscado por não se encaixar no cinema de gênero", dizem diretores de "Trabalhar Cansa"

Cena de "Trabalhar Cansa" - Divulgação
Cena de "Trabalhar Cansa" Imagem: Divulgação

ALYSSON OLVEIRA

Em Paulínia

13/07/2011 16h59

Premiados em Cannes com o curta “O Ramo”, em 2007, Marco Dutra e Juliana Rojas exibiram no 4º Paulínia Festival de Cinema o longa “Trabalhar Cansa”, que em maio passado competiu na mostra Un Certain Regard, do mesmo festival francês. Se na Europa eles tiveram uma recepção um tanto dividida, no Brasil, o longa foi muito bem recebido tanto pelo público que aplaudiu várias vezes ao longo da projeção.
 
“Nosso trabalho é reflexo daquilo que conhecemos, a classe média, as relações familiares”, explicou Dutra na coletiva na tarde de quarta. O filme é parte um drama, parte uma alegoria fantástica, e transita entre gêneros e polos, criando um clima meio surreal, meio assombroso com um comentário social bastante pertinente. “Se escolhêssemos apenas um gênero, não conseguiríamos uma leitura mais ampla”, explicou Juliana. Eles comentaram que quando pensavam no filme resolveram se arriscar. “O suspense, ao longo do filme, ganha a mesma força que o drama”.

Teaser de "Trabalhar Cansa"

 
A dupla se conheceu na faculdade, e trabalha juntos há uma década. O resultado, aliás, são uma série de curtas exibidos e premiados pelo mundo – como “Lençol Branco” e “As sombras”. “Quanto estamos rodando algum filme, não dividimos as funções, gostamos de fazer tudo, e, por isso, fazemos juntos”, explica Dutra. Sua colega vai além:  “existe uma sintonia grande entre nós.”
 
“Trabalhar cansa” foi o primeiro filme produzido no Polo de Cinema de Paulínia exibido num festival internacional – o que rendeu elogios e um discurso do Secretário de Cultura da cidade, Emerson Alves. O ponto de partida, segundo Juliana, para o roteiro foi as relações de trabalho transformando a dinâmica de um família de classe média, composta por Helena (Helena Albergaria) e Otávio (Marat Descartes), que perde o emprego, na mesma época em que sua mulher abre um mercadinho de bairro. Coisas inexplicáveis acontecem, o que agrega elementos de fantasia para o filme, que permitem uma leitura metafórica. 

 

Os extremos da alma humana

Descartes que já trabalhou com Sergio Bianchi (“Os inquilinos – Os incomodados que se mudem”) e Toni Venturi (“Estamos juntos”) reencontra Juliana e Dutra alguns anos depois de ter feito o premiado curta “Um Ramo”. “Desde o começo eles me pareciam muito seguros, muito certo daquilo que eles querem como diretores. Especialmente quando a gente chega num set”, disse o ator ao UOL Cinema.
 
Mas nem por isso, explica, a dupla não está aberta a sugestões. “Durante os ensaios demos muitos palpites, e alguns deles estão até no filme, como um beijo que os protagonistas trocam no mercadinho antes da inauguração”.  
 
Conhecido pelo público pelo sucesso da peça “Toc toc”, Descartes confessa que não há muita semelhança entre os dois trabalhos, e que estar em ambos  foi ‘a chance de ir a lugares extremos da alma humana”. Numa das cenas-chave de “Trabalhar cansa”, aliás, o personagem do ator solta um grito forte e que atinge significados amplos. “Não me preparei muito para a cena, mas fizemos várias vezes, por isso sempre fiz com cuidado para não machucar minhas cordas vocais”, brinca.
 
“Trabalhar cansa” está previsto para estrear em agosto.