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"Tive de sair de pires na mão", diz Reginaldo Faria sobre produção de "O Carteiro"

NEUSA BARBOSA

Do Cineweb, em Gramado

12/08/2011 16h33

Remeteu ao antigo cinema italiano o último concorrente brasileiro em Gramado, a comédia romântica "O Carteiro", que marca a volta do veterano Reginaldo Faria à direção depois de 27 anos – seu último filme como diretor foi "Aguenta coração" (84).

No debate de seu filme, Reginaldo declarou sua "fascinação pela linguagem europeia de fazer cinema", além de sua admiração por diretores como Federico Fellini, Mario Monicelli e Vittorio De Sica. Uma admiração que vários críticos presentes aqui enxergaram ter se transformado numa deformação, visível no marcante exagero de várias interpretações, inclusive o protagonista, Candé Faria, filho do diretor. Ele interpreta o carteiro Vitor, um romântico e amante da literatura de Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade e também um contumaz violador da correspondência alheia na pequena cidade de Vale Vêneto (RS), numa época indefinida, antes da existência da internet e dos telefones celulares.

Vídeo de "O Carteiro"

Reginaldo descartou a colocação de exagero de tom dos atores: "Pelo que pude ver e sentir na sessão de ontem, a platéia viu e sentiu. São coisas do cinema. Saí da sessão muito satisfeito com o que fiz e vi".

Se foi com tranquilidade que refutou esta crítica, foi num tom ligeiramente mais exaltado – embora controlado – que admitiu ter estado "ressentido" quando, há dois anos atrás, veio receber o troféu Oscarito neste festival. "Estava ressentido sim. É um sentimento humano. Naquela altura, eu e meu sócio estávamos há seis meses tentando aprovação em alguma lei para realizar este filme e sendo rechaçados. Eu estava indignado".

Segundo o diretor, esta revolta veio do fato de que ele "faz cinema desde 1957, quando tinha 19 anos. Mesmo assim, tive que sair de pires na mão, vestindo aquele terninho que você usa para ir ao exame de fezes, bater na porta dos produtores para fazer este filme".

Finalmente, ele encontrou no Rio Grande do Sul os recursos para realizar "O Carteiro", que é fruto de um roteiro do próprio Reginaldo e foi filmado em Vale Vêneto, que é a terra da família de sua mulher, Vânia. Há outros elementos bem familiares na produção, já que estão no elenco Candé e Marcelo Faria, filhos do diretor.

Preocupação com os americanos

O politizado ator e diretor, intérprete de clássicos como "Assalto ao Trem Pagador" (1962) e "Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia" (1981), não se esqueceu de comentar o mercado brasileiro de cinema: "Nosso mercado é muito restrito. Quantos filmes deixaram de concorrer aqui? Me dizem que são 98. Vão encontrar mercado ? Vão ser exibidos onde ? Vão concorrer com quem, com o cinema americano, que sufoca tudo?"

Encerrada a exibição dos concorrentes brasileiros, ainda falta a sessão do último concorrente estrangeiro, a produção dominicana "Jean Gentil", de Laura A. Guzmán e Israel Cárdenas. Um outro filme brasileiro, "Sudoeste", de Eduardo Nunes, será mostrado na sequência, fora de competição. Amanhã, a sessão de premiação começa às 21h.