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"Oscar não mudou nada para mim", diz Colin Firth em Veneza

O ator Colin Firth acena na sessão de fotos do filme "O Espião que Sabia Demais", no 68º Festival de Veneza (5/9/2011) - AFP PHOTO / GIUSEPPE CACACE
O ator Colin Firth acena na sessão de fotos do filme "O Espião que Sabia Demais", no 68º Festival de Veneza (5/9/2011) Imagem: AFP PHOTO / GIUSEPPE CACACE

NEUSA BARBOSA

Do Cineweb, de Veneza

05/09/2011 10h35

O novo concorrente inglês ao Leão de Ouro, “Tinker, Taylor, Soldier, Spy” – que no Brasil deverá ser lançado em janeiro como  “O Espião que Sabia Demais”, para aproveitar o título do livro original, de John Le Carré –, de Tomas Alfredson, confirmou a força das produções britânicas na competição deste ano. Recebeu aplausos na sessão da imprensa e da indústria, na manhã desta segunda (5), um pouco menos do que “Shame”, de Steve McQueen, é verdade. Mas o trabalho de Alfredson mostrou-se um filme sólido, apesar do tema complicado, envolvendo um jogo cruzado de espiões britânicos em 1973 durante a Guerra Fria.

À primeira vista uma escolha surpreendente para comandar este tipo de história, o sueco Tomas Alfredson (do terror adolescente cult “Deixa Ela Entrar”) comentou na coletiva de hoje que “não sabia” se era ou não uma vantagem ser estrangeiro para lançar um olhar de fora sobre um ambiente tipicamente britânico, inclusive com a maioria de atores dessa nacionalidade, Gary Oldman, John Hurt e Colin Firth à frente do elenco. “Sendo suecos, ficávamos mais próximos à União Soviética. Mas não sei porque ser estrangeiro seria melhor para interpretar o trabalho deste autor (John Le Carré)”.

 A dificuldade de adaptação da obra, porém, foi assumida pelo diretor. “Quando li o livro, achei que seria totalmente impossível fazer um filme a partir dele. Você tem que achar um fio dentro do texto e seguir, por isso, só se pode fazer uma seleção a partir do livro. Os roteiristas (Peter Straughan e Bridget O’Connor) fizeram um trabalho fantástico”.

Entretanto, algumas liberdades foram tomadas. O roteirista Peter Straughan contou que a cena de uma curiosa festa de Natal reunindo os espiões e suas famílias “baseou-se na vida real”. “Mas sempre voltávamos ao livro”, destacou.

Abandono do frenesi

Voltando à Inglaterra e deixando de lado papeis violentos que o tornaram famoso – como o Drácula de “Drácula de Bram Stoker”, de Francis Ford Coppola, entre outros -, Gary Oldman comentou como foi interpretar o sutil e introvertido espião George Smiley: “No passado, interpretei personagens muito frenéticos, que se expressavam emocionalmente de um modo muito físico. Como ator, até certo ponto, se está à mercê da indústria e da imaginação daqueles que te contratam. O casting, aqui, foi imaginativo. Por sorte, Tomas viu algo em mim e me deu esta oportunidade de interpretar algo muito diferente”.

Oldman, que usava um bigode por estar filmando o novo “Batman” nos EUA, também agradeceu a chance de trabalhar com vários colegas: “Falo por mim, mas acho que é seguro dizer que admiramos o trabalho uns dos outros. Lembro de nós todos sentados numa mesa e, devo dizer, senhor Hurt, no primeiro dia eu estava muito nervoso”. John Hurt riu do comentário.

Único ator com idade o bastante (71 anos) para ter vivido o clima da Guerra Fria, quando a então URSS e os EUA mediam forças, Hurt foi convidado a compartilhar suas lembranças. Lembrou de ter vivido a II Guerra Mundial quando criança e que, durante a Guerra Fria, “havia muita neurose sobre o que acontecia no Leste Europeu”. Segundo o ator, John Le Carré “é o melhor autor sobre esta época e esta é sua obra-prima. Foi um privilégio fazer parte deste projeto e absorver a sua precisão”.

“Oscar não mudou nada”

Quando se comentou se a lentidão e complexidade de “Tinker, Taylor, Soldier, Spy” colocava em risco o seu sucesso junto ao público, Colin Firth discordou: “Acho que tem havido uma tendência a se subestimar as plateias. Acredito que as pessoas não querem apenas tiroteios e explosões. Sou otimista”.

Indagado sobre o que mudou em sua vida profissional depois de ter vencido o Oscar de melhor ator no início do ano por “O Discurso do Rei”, Firth disse apenas: “Nem tanto mudou com o Oscar. Escolhi o melhor do menu que me foi oferecido e foi este filme. Na verdade, é o que faço sempre, acho que nada mudou”.