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"Tinha pavor de filmes de época", conta atriz da nova versão de "O Morro dos Ventos Uivantes", que é filha de brasileira

A atriz Kaya Scodelario durante a pré-estreia do filme "Wuthering Heights" no Festival de Veneza (6/9/11) - AFP
A atriz Kaya Scodelario durante a pré-estreia do filme "Wuthering Heights" no Festival de Veneza (6/9/11) Imagem: AFP

NEUSA BARBOSA

Do Cineweb, de Veneza

06/09/2011 10h57

Numa edição em que o festival mostrou vários filmes bem acima da média, os concorrentes britânicos vêm fazendo bonito. Foi o caso do terceiro candidato da Inglaterra, “Wuthering Heights”, uma nova e original versão do famoso romance “O Morro dos Ventos Uivantes”, de Emily Bronte, assinado pela diretora Andrea Arnold, duas vezes vencedora do prêmio do júri em Cannes (por “Red Road”, em 2006, e “Fish Tank”, em 2009).

Uma curiosidade do filme é que a protagonista do trágico romance do século 19, Catherine Earnshaw, é interpretada na fase adulta pela jovem atriz Kaya Scodelario –que, apesar de inglesa, é filha de uma brasileira, morou algum tempo no Brasil e fala fluentemente o português. Aos 19 anos, Kaya é uma das poucas não estreantes do elenco, tendo já conquistado relativa fama na Inglaterra por sua atuação na bem-sucedida série de TV “Skins”, que estrelou por quatro temporadas.

Na coletiva do filme, Kaya confessou que “tinha pavor de filmes de época”, entre outras coisas, “porque não tinha cursado escola de teatro”. Seu agente, no entanto, a convenceu de que o filme de Andrea Arnold seria “uma coisa bem diferente”. O que realmente foi desde a escalação, já que ela foi até dispensada de testes.

Andrea Arnold contou que conheceu o trabalho da atriz através de um DVD enviado para o casting. E que só teve que “olhar para ela”, quando a encontrou pessoalmente, para saber que tinha encontrado a sua Catherine. “Antes mesmo de falar com ela senti que era certa para a personagem”, disse a diretora.

Movida pela curiosidade

Andrea contou que ela “nunca pensou que faria um filme de época”. Recebeu o convite do produtor Robert Bernstein e se disse movida pela “curiosidade”. Ela disse que procurou “se lançar no projeto, porque era um livro que eu me lembrava ter me afetado muito da primeira vez que o li, aos 20 anos. Mas agora posso dizer, não foi uma jornada nada fácil”.

Andrea comentou que não procurou deliberadamente fugir do rígido protocolo habitual dos filmes históricos, nem procurou ver filmes do gênero para descartar seus procedimentos –nem mesmo versões anteriores do romance, como a do franco-americano William Wyler, em 1939, ou do japonês Yoshishigue Yoshida, em 1988. “Apenas tentei fazer o trabalho mais honesto possível, colocando meu coração em tudo. Isto significou tomar decisões talvez não tão seguras à primeira vista. Mas gosto de correr riscos”.

Um destes riscos foi utilizar um elenco em boa parte de estreantes –como a intérprete de Catherine menina, Shannon Beer, e os dois intérpretes do co-protagonista, Heathcliff (Solomon Glave e James Howson), que, pela primeira vez numa adaptação da história, são negros. A diretora também valoriza longas cenas em silêncio, de grande força visual, usando a natureza, e um trabalho especialmente peculiar no som.

Explicando estas opções, Andrea disse: “Sou obcecada com o que se pode mostrar sem que as pessoas falem. Acho que se pode contar uma história com imagens”. Mais do que tudo, porém, a diretora disse ter-se preocupado em “realmente honrar a essência do livro, que é um grande livro, sombrio e estranho. Parece até que Emily Bronte nem queria que fosse publicado, pensou nele como um ‘grande diário louco’. Mas isto eu só descobri depois de ter feito o filme.”