Topo

"É mais real do que parece", explica Duncan Jones, filho de David Bowie, diretor do novo "Contra o Tempo"

Diretor Duncan Jones testa lentes no set de "Contra o Tempo" - Divulgação
Diretor Duncan Jones testa lentes no set de "Contra o Tempo" Imagem: Divulgação

PEDRO CAIADO

Colaboração para o UOL, de Londres

29/09/2011 17h09

"Contra o Tempo" é o novo filme de ficção científica estrelado pelo astro Jake Gyllenhaal ("O Amor e Outras Drogas") que estreia nesta sexta-feira nos cinemas de todo o Brasil. Apesar da estrela de peso no papel principal, chama a atenção o diretor por trás das câmeras, o britânico Duncan Jones, filho da lenda da música David Bowie.

Jones, 40 anos, retorna ao gênero apos o bem sucedido longa claustrofóbico "Lunar", de 2009. "Contra o Tempo" segue os mesmos moldes do anterior, misturando fantasia e ficção cientifica ao contar a história de um piloto que, ao ser transportado para o corpo de um passageiro de um trem em alta velocidade, tem oito minutos para tentar salvar a tripulação de um terrível ataque terrorista.

Uma história aparentemente absurda, porém “bem mais real do que parece”, segundo o diretor em entrevista ao UOL Entretenimento. “Muitas pessoas têm me perguntado o quanto do filme é real e o quanto daquela historia acredito ser possível na vida real. Desde que li o roteiro pela primeira vez eu mudei meu conceito em relação ao tipo de ficção científica deste filme.

"Eu conheci cientistas que me explicaram o estado atual da ciência. Devo admitir que algumas das coisas que pensava serem improváveis acabaram se tornando mais plausíveis do que eu imaginava”, explica o diretor.

No filme, Jake Gyllenhaal vive Colter Stevens, um piloto de helicóptero em missão no Afeganistão que de repente acorda em um trem em direção a Chicago, ao lado de uma linda mulher, Christina (Michelle Monaghan). Stevens logo descobre não ser ele mesmo - em seu bolso ele encontra uma carteira com os dados de outra pessoa.

Ao longo do filme, ele tenta decifrar o que está acontecendo até o trem explodir e ele então acordar no limbo, algo como uma nave perdida, em que seu único meio de contato é um monitor com a imagem de Colleen Goodwin (Vera Farmiga em excelente atuação). A missão dada ao piloto é de retornar ao trem diversas vezes até encontrar a bomba que será detonada em oito minutos, daí o nome do longa de "Contra o Tempo" - apesar de se chamar originalmente "Source Code" ("Codigo Fonte").

Para retornar ao passado, o cérebro do personagem é ligado a computadores - algo bizarro para nossa realidade. Entretanto, o diretor defende a tecnologia, afirmando que ela pode se tornar realidade.

“Ha um número de diferentes tecnologias sendo desenvolvidas atualmente como implante de retina que permite cegos enxergar até 60 pixels. Eu acho muito interessante e animador a capacidade que a ciência tem atualmente de estabelecer relação entre tecnologia e o nosso cérebro. É exatamente o que vemos em 'Contra o Tempo'”, defende ele a trama com entusiasmo.

Duncan Jones é um admirador da ficção cientifica, um geek, como ele proprio diz. Entretanto, "Contra o Tempo" foi idéia do ator Jake Gyllenhaal, que ofereceu o roteiro a Jones durante o lançamento de seu ultimo filme.

“Eu fazia entrevistas para a imprensa sobre 'Lunar', e consegui marcar um encontro com Jake em Los Angeles. Eu o admiro, e por sorte, ele era grande fã do meu ultimo filme. Ele disse que tinha este roteiro que eu iria adorar. Eu o li e fiquei extremamente animado”, conta ele acrescentando que a versão original era muito mais séria.

“Eu acho que inseri um pouco de humor, levantando um pouco o tom, mas mantendo a estrutura rápida e estimulante do original”, conta.

8 minutos

Um dos maiores desafios do filme é manter cada uma das seqüências de ‘oito minutos’ estimulantes o suficiente para prender a atenção do público até o final.

Jones explica como conseguiu o resultado. “Quando você lê um roteiro pela primeira vez, você procura pelos problemas que precisam de solução imediata: a repetição das sequências de 8 minutos era certamente um deles - como manter as sequências novas e excitantes sem fazer a plateia sentir que estaria vendo cenas repetidas. Eu apostei na improvisação dos atores, dando carta branca a eles. Nós ensaiamos bastante também as cenas para entender a estrutura e identiicar onde começavam e teriam que terminar”, explica o diretor.

TRAILER DO FILME ''CONTRA O TEMPO''

Sobre a pressao de trabalhar com um astro de Hollywood em seu segundo filme, Jones revela-se tranquilo. “John Lennon cuidava de mim quando eu era criança, então não vou ficar nervoso se trabalho com um ator famoso. Eu nunca vou me intimidar com isso devido ao ambiente que freqüentei desde crianca ao lado do meu pai”, revela.

Quando questionado porque não seguiu a carreira musical do pai, ele rebate.”Eu nunca quis tocar um instrumento. Eu nunca tive nenhum interesse em música”, confessa acrescentando que gostaria de dirigir Bowie em um de seus filmes. “Eu saberei quando for o momento certo. Quando todos pararem de lembrar que David Bowie é o meu pai”, afirma com sorrisos.

“Foi irônico eu me tornar diretor. Quando eu era mais jovem minha família me protegia muito, sempre me resguardando dos fotógrafos, o que sempre me deu medo de ser fotografado. Estou melhor agora, mas é estranho ficar tão nervoso em meio às cameras quando eu trabalho atrás delas”, revela.

Jones confessa que muito do seu interesse em ficção cientifica vem de David Bowie, que o introduziu à literatura do gênero ainda quando criança. “Foi parte de como meu pai me educou. Ele me apresentou ‘1984’, [classico de Orwell] e livros de John Wyndham e Philip Dick. Ele insistia nos livros e queria que eu lesse uma ou duas horas toda noite. Eu tambem era um geek em jogos de video-game, desde o Atari”, revela o diretor ainda desconhecido do grande publico.

“Eu completei 40 anos recentemente. Foi um longo período para chegar até aqui. 'Lunar' foi meu cartão de entrada e ‘Contra o Tempo’ mostra que posso trabalhar com grandes estrelas em um filme de grande orçamento em Hollywood” - este custou 30 milhões de dólares.

Seu próximo projeto é uma espécie de uma homenagem a 'Blade Runner', chamado ‘Mute’, sobre um barman mudo no ano de 2046. Ele confessa que este é um filme difícil de vender, não apenas pelo orçamento, mas pela escolha do ator correto. “Para conseguir altos orçamentos é necessário a escalação de atores de primeiro escalão. Porém é difícil convidar um ator destes para aceitar um papel em que não vai poder falar uma palavra sequer”, diz ele.

"Contra o Tempo" foi muito bem recebido pela crítica britânica, que o considerou um thriller tenso e um drama cativante apesar da trama absurda.