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"'Capitães da Areia' faz refletir sobre o nosso país", diz Carlinhos Brown, autor da trilha do filme

Carlinhos Brown toca no Festival de Verão em Villa de Madrid (10/7/2011) - EFE/Ballesteros
Carlinhos Brown toca no Festival de Verão em Villa de Madrid (10/7/2011) Imagem: EFE/Ballesteros

ALYSSON OLIVEIRA

Do Cineweb

06/10/2011 00h00

Às vésperas do lançamento do filme “Capitães da Areia”, o músico Carlinhos Brown faz uma confissão: “Nunca li o romance”, diz, referindo-se ao livro homônimo do baiano Jorge Amado, cujo centenário de nascimento se comemora em agosto do ano que vem.

“A verdade é que existe uma tradição oral muito forte na Bahia. Meu avô me contou várias vezes a história dos personagens, e a conheço tão bem que é como se tivesse lido o livro”, disse em entrevista ao UOL Entretenimento.

Isso, no entanto, não foi nenhum empecilho quando foi convidado pela diretora do longa e neta do escritor, Cecília Amado, para compor a trilha do filme, que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta (7). “Eu me identifico muito com a história deles, com ideia da busca da liberdade, do abandono, no sentido do desejo de uma evolução estética e filosófica, o desejo de ter acesso a coisas boas. A vida desses garotos que estão na rua nos faz pensar sobre o nosso país, nossa juventude”.

Quando começou o seu trabalho no filme, Brown explica que Cecília lhe deu todas as diretrizes de que ele precisava, por isso não foi difícil criar. “O texto do Jorge já é algo bem musical também, juntei isso àquilo que a Cecília havia me pedido. Então não foi difícil trazer para a tela os sons da obra”.

Brown conta que, quando está compondo, tenta livrar-se das amarras do mercado e deixar a arte extravasar. “Não se pode seguir só as diretrizes da indústria e criar apenas músicas que tenham um refrão fácil de repetir para fazer sucesso. Respeito isso, mas acredito que a música pode ser bem maior do que isso”.

Cecília, por sua vez, também acredita que o cinema possa ser maior do que contar apenas uma história. Ela explica que se apaixonou pelos personagens quando leu o livro em sua adolescência. Desde então, foi uma gestação o processo do filme, que foi rodado durante 9 meses – “para acompanhar o crescimento e as mudanças físicas dos atores” – e revela jovens que não eram atores profissionais.

“Fizemos oficina de formação do pessoal por cerca de dois meses. Esse foi o teste deles. Fomos procurar jovens ligados a ONGs, que também dessem um suporte depois das filmagens. Não queríamos abandoná-los sem perspectivas depois que o filme acabasse”, disse.

TRAILER DO FILME ''CAPITÃES DA AREIA''

Os três protagonistas, no entanto, seguem na carreira artística. Jean Luis Amorim, que faz Pedro Bala, já estudava música antes do filme, e agora, além disso, participa de um grupo de teatro. Já para Ana Graciela, a Dora, atuar foi uma revelação. “Eu queria ser médica, mas descobri em mim essa paixão pela atuação. Quero muito batalhar por uma carreira nessa área”.

Para fazer o filme, a diretora conviveu com jovens de ONGs soteropolitanas que atuam na região da periferia de Salvador. “Foi uma volta às raízes dos personagens. Como meu avô, que na década de 1930 foi conviver com os verdadeiros capitães da areia, eu fui buscar a inspiração, descobrindo o universo que seria dos capitães da areia de hoje. E percebi que o desejo de liberdade de todo jovem é igual em qualquer época, em qualquer lugar do mundo”.

Por outro lado, Cecilia explica que ao fazer o roteiro – coescrito por Hilton Lacerda (roteirista de “A Festa da Menina Morta” e “Baile Perfumado”) – foi buscar o viés mais humanista do livro, deixando de lado temas mais políticos da obra de Jorge Amado. “Meu avô mesmo, com o tempo, foi se tornando mais humanista, falava menos de política em seus livros. Na adaptação, quisemos manter os personagens e suas tramas, o que há de mais forte no romance, mas destacando outro lado.”