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"O trabalho não acaba quando saímos do set", diz Willem Dafoe, no Rio, sobre filme dirigido pela mulher

O ator Willem Dafoe e sua mulher, a diretora e atriz Giada Colagrande, na sessão do filme "Uma Mulher", no Estação Sesc Rio, durante o Festival do Rio (11/10/2011) - Divulgação
O ator Willem Dafoe e sua mulher, a diretora e atriz Giada Colagrande, na sessão do filme "Uma Mulher", no Estação Sesc Rio, durante o Festival do Rio (11/10/2011) Imagem: Divulgação

CARLOS HELÍ DE ALMEIDA

Colaboração para o UOL, do Rio

12/10/2011 17h18

Casado há seis anos com a cineasta e artista plástica italiana Giada Colagrande, Willem Dafoe ainda fala como um jovem noivo em viagem de lua-de-mel. "Ela toca violão muito bem, adora tocar bossa nova, então quero leva-la ao circuito do gênero do Rio", comenta o ator norte-americano de 56 anos, ao lado da mulher. O casal está na cidade como convidado do 13º Festival do Rio. "Vamos ficar uma semana por aqui. Dará tempo de fazer os programas óbvios e menos óbvios também", observou.
 
Em sua primeira visita à capital fluminense, Dafoe ainda terá que apresentar dois filmes que fazem parte da maratona carioca: o thriller "O Caçador", do australiano Daniel Nettheim, nesta quinta-feira (13), às 14h30, no Estação Sesc Rio, e o drama intimista-apocalíptico "4:44 Las Day On Earth", do conterrâneo Abel Ferrara (o mesmo de "Vício Frenético"), no sábado (15), às 19h, no Cine Odeon. 
 
Um terceiro título protagonizado pelo ator de filmes como "Platoon" e "Homem-Aranha", o thriller psicológico "Uma Mulher", que teve sua última sessão na grade do festival na noite de terça-feira (11), é dirigido por sua mulher. Nele, Dafoe interpreta um escritor que acaba de perder a esposa, uma dançarina de de tango, e que convida uma jovem garçonete norte-americana para morar com ele em sua villa na Itália. Apaixonada pelo escritor, a moça acaba desenvolvendo uma certa obsessão pela figura da ex-mulher dele.
 
Os dois trabalharam juntos antes em "Viúva Negra", de 2005. "É uma experiência prazerosa trabalhar com Gaida", diz Dafoe sobre o fato de atuar para a própria mulher. "Cada diretor tem um método diferente de trabalho, e nos relacionamos com eles de acordo com o nível de intimidade que temos com cada um. A proximidade e a intimidade com o realizador é que determinam o grau de confiança que temos com ele. O que pode acontecer é que, numa situação de marido e mulher, às vezes você pode levar muito no nível pessoal. E também o trabalho não termina quando você sai do set", brinca o ator.
 
"Max Oliver, o escritor de 'Uma Mulher', foi escrito especialmente para Willem", explica Gaida. "Gosto de desenvolver meus roteiros com a imagem de um ator na cabeça para cada personagem. Mesmo atores que já morreram, como Bette Davis (1908-1989). Isso facilita o trabalho do roteirista e ajuda a dar um copo ao que você está criando, o que é importante para o personagem. Para mim, Max foi Williem desde o início".
 
"4:44 Last Day On Earth" é o seu terceiro longa-metragem com Ferrara, para quem contribuiu antes em "Enigma do Poder" (1998) e "Go Go Tales" (2007). No filme, que competiu no recém-encerrado Festival de Veneza, Dafoe interpreta uma das metades de um casal de artistas de Nova York que espera em seu apartamento pelo anunciado fim do mundo. Intimista e concentrado em apenas um ambiente, o filme representa uma virada de estilo na carreira do diretor, povoado de histórias violentas e personagens desagradáveis.
 
"A mudança é perceptível, acho que é um reflexo do momento que ele está vivendo agora. Ele passou uns maus bocados, é verdade, mas o Abel é o mesmo diretor de sempre. A diferença é que ele está mais intimista e concentrado no trabalho, está menos distraído agora que está sóbrio", comenta o ator, referindo-se ao problema de alcoolismo do realizador norte-americano. 
 
Embora tenha participado de grandes produções hollywoodianas no passado, Dafoe se diz mais arrojado e criativo em filmes de Ferrara, da mulher Giada, e de diretores como de Lars Von Trier, com quem fez "Mandalay" e "Anticristo". "Sempre me senti mais atraído pelas pessoas que fazem filmes e as situações que elas exploram em cinema do que por personagens", explica o ator, que começou a carreira em um grupo de teatro de vanguarda, no início dos anos 70. "Eu fico mais empolgado quando me sinto fora do equilíbrio, enfrentando algo novo, do que em terrenos conhecidos. Foi por isso que fiz coisas como o Duende Verde, o vilão da franquia 'Homem-Aranha'. Nunca havia feito um blockbuster antes".