"Filmes que mostram tudo são considerados limitados", diz diretor iraniano de "A Separação", que encerra Festival do Rio
Vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim deste ano, o drama familiar "A Separação", de Asghar Farhadi, é a grande atração da programação desta terça-feira (18) do 13º Festival do Rio, que termina oficialmente às 21h, no Cine Odeon, com a entrega do troféu Redentor aos melhores da mostra Première Brasil.
Em "A Separação", a partir de uma disputa legal entre duas famílias de diferentes classes sociais, o diretor iraniano --o mesmo de "Procurando Elly", ganhador do Urso de Prata de direção da edição de 2009 do festival alemão-- tangencia diversos aspectos políticos e sociais do Irã moderno.
O ponto de partida do filme, que tem sessões nesta terça (18), às 14h30 e 21h15 no Estação Sesc Rio 2, é o divórcio entre a professora Simin (Leila Hatami) e o bancário Nader (Peyman Moaadi). Este recusa-se a mudar com a mulher para o exterior porque precisa tomar conta do pai senil, e contrata um jovem mãe para cuidar dele da filha adolescente do casal. Mas um terrível incidente acaba colocando as duas famílias diante de um juiz, litígio cheio de desdobramentos morais e religiosos. A sutileza é a grande marca do filme.
"Estava ciente de que, se eu tivesse que fazer um novo filme sobre a relação íntima de uma família, ele deveria refletir sobre a sociedade iraniana como um todo. O mais importante era fazê-lo da maneira mais realista possível, sem artificialismos ou invenções", contou o diretor de 38 anos em entrevista ao UOL, em Berlim. "Ao escrever o roteiro, comecei a colocar nele todas as minhas preocupações sobre o momento que o Irã atravessa. A separação de Nader e Simin é apenas um instrumento para ajudar o espectador entrar na história, que continua a se espandir em outras direções".
A trama de "A Separação" levanta questões mais pelo que é sugerido do que é dito e mostrado em cena. Não fica claro, por exemplo, o motivo da insatisfação de Simin com o país. Mulher de classe média, culta e não-religiosa, ela é o oposto social e cultural de Hodjat (Shahab Husseini, de "Procurando Elly"), contratada para cuidar de seu sogro inválido. Hodjat trabalha escondido do marido, um sujeito psicologicamente instável e cheio de dívidas, e chega a ligar para um serviço de acoselhamento religioso para saber se é pecado dar banho em um homem que não é da família dela.
Quando a rixa entre as duas famílias chega à vara de família, as diferenças entre elas ficam mais evidentes. A grande façanha de Farhadi é não tomar partido de nenhuma delas, e conquistar a solidariedade do espectador para ambas, expondo com imagens e palavras a ambiguidade dos conceitos de verdade, justiça e moral dentro da sociedade iraniana. "Não queria ser óbvio, mas sim sugerir coisas que nós, o público, deveríamos descobrir por nós mesmos. Os filmes que mostram tudo em cena são considerados limitados", comparou Farhadi. "O tempo dos diretores que querem ensinar como o plateia deve pensar, aprender e a ver um filme, já acabou".
Um dos fardos mais pesados de "A Separação" recai sobre os ombros de Termeh, a filha adolescente do casal, que precisa escolher com quem ficará após o divórcio dos pais. É ela quem observa e questiona o comportamento dos adultos. Termeh representa, em última instância, as gerações de jovens que tem ido às ruas do Irã protestar contra o radicalismo do governo de Mahmoud Ahmadinejad. "Mais do que decidir-se pela mãe ou pelo pai, a personagem tem que escolher o caminho a tomar, como os jovens do Irã", argumentou Farhadi, que diz ter aprendido "a desafiar [intelectualmente] e convencer as autoridades que regulam o cinema no Irã".
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