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Com imagens inéditas de Renato Russo, "Rock Brasília - Era de Ouro" mostra como surgiu a cena roqueira brasiliense

ALYSSON OLIVEIRA

Do Cineweb

19/10/2011 07h00

Quando apresentava seu premiado “Rock Brasília - Era de Ouro” no Festival do Rio, o diretor Vladimir Carvalho ficou espantado com um jovem, sentado atrás dele que cantava todas as músicas do filme. Quando olhou para trás, viu que o rapaz não tinha idade para ter acompanhado a carreira do Legião Urbana quando a banda estava em evidência, 30 anos atrás. “Era incrível, o menino sabia todas as músicas e cantava sem erro. O legado do Renato [Russo] continua até hoje. Ele sabia se comunicar com todas as gerações. Pais e filhos hoje gostam de suas letras”, disse o diretor ao UOL Cinema.

O filme, que estreia em circuito nacional nesta sexta-feira (21), faz um retrato da geração das bandas de rock nascidas na capital do país em meados dos anos de 1980 – tendo como fio condutor uma longa entrevista que o diretor fez com Renato Russo em 1987, inédita até hoje. “Quando gravei o depoimento dele, não tinha ideia de transformar isso num filme. Eu era professor na Universidade de Brasília e sugeria aos meus alunos capturarem o pulsar da cidade, a cultura, o esporte, a política. Depois me ocorreu de também falar com ele”.
 

TRAILER DE "ROCK BRASÍLIA - ERA DE OURO"

Vladimir conta que gravou o depoimento no campus da própria UnB, às vésperas de um show histórico no Estádio Mané Garrincha, em 1988. “Ele já era conhecido, morava no Rio e voltou para Brasília para se apresentar, e várias bandas locais quiseram mostrar o trabalho para eles. Ele topou assistir e conversamos após os shows. O Renato estava muito eufórico no dia da entrevista. Era uma alegria imensa voltar para a cidade”. O cineasta sabe que foi quase um lance de sorte que esses registros se conservassem até hoje, mais de 20 anos depois, e tivessem qualidade para serem usados no documentário.

“Rock Brasília - Era de Ouro”, que em julho passado recebeu o prêmio de melhor documentário no Festival de Paulínia, marca uma espécie de redescoberta de Renato Russo e sua obra pelo cinema, no mês em que se completam 15 anos de sua morte (em 11 de outubro de 1996). Além do documentário de Vladimir, estão em finalização “Somos Tão Jovens”, de Antonio Carlos da Fontoura, cinebiografia ficcionalizada do músico, e “Faroeste Caboclo”, de René Sampaio, baseado na famosa música. Também existe um projeto de transformar em longa a famosa canção “Eduardo e Mônica”.

Vladimir conta que entre os projetos que Renato intencionava fazer estavam uma ópera e um filme. “Ele queria montar uma ópera baseada no romance clássico ‘O Bom Crioulo’ [de Adolfo Caminha], e também uma adaptação para o cinema do romance ‘Capitães da Areia’ (de Jorge Amado), que era um dos livros favoritos dele”. Para o diretor, o músico era um “líder nato”. “Ele liderava intelectualmente os outros artistas, era o que mais entendia das dores do mundo. É uma pena que sua vida terminou num processo de autodestruição”.