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Diretor do vídeo "Eduardo e Mônica", hit na internet, faz longa sobre ritual de passagem de jovens que vivem triângulo amoroso

Os atores Gabriel Godoy, Juliana Schalch e Victor Mendes em cena de "Os 3", de Nando Olival - Divulgação
Os atores Gabriel Godoy, Juliana Schalch e Victor Mendes em cena de "Os 3", de Nando Olival Imagem: Divulgação

FABÍOLA ORTIZ

Colaboração para o UOL, do Rio

26/10/2011 07h00

Mesmo após as filmagens do longa “Os 3”, de Nando Olival, que está na programação da Mostra de São Paulo e tem estreia nacional marcada para novembro, o trio de jovens que interpreta um triângulo amoroso e vive abertamente uma relação de sexo e sensualidade não desgruda nem mesmo longe do set e do jogo de cena. Com brincadeiras, risadas e abraços, os estreantes Juliana Schalch, 26, Gabriel Godoy, 27, e Victor Mendes, 23, que já ficaram conhecidos como “os três” falaram ao UOL Cinema no Festival de Cinema do Rio 2011, onde o filme foi exibido.


Os jovens atores escolhidos por Nando Olival para interpretar Camila (Juliana), uma moça do sul que se muda para São Paulo para ser atriz, Cazé (Gabriel Godoy)  que vive um jovem impulsivo, e Rafael (Victor Mendes) aspirante a escritor e poeta, lidam naturalmente com o que chamam de “ritual de passagem” vivido pelos personagens quando sentimentos de amizade e amor vem à tona e sem tabu no triângulo amoroso do filme. Hoje o trio de atores transpõe para a realidade uma grande amizade.

“O Nando queria mesmo que a gente propusesse, ele nos deu essa liberdade. A gente teve muita troca, foi bacana a maneira como ele trabalhou e muito atento ao que a gente propunha”, contou Juliana.

Victor complementa que fazer as cenas e lidar com a temática no set foi natural. O diferencial do triângulo amoroso de “Os 3” é a transformação do apartamento em que moram num cenário de reality show, onde tudo está à venda e onde eles mesmo são os personagens.

“Enquanto artistas, sem problema nenhum lidar com isso nos sets, porque a gente já estava se gostando e se respeitando muito na hora de fazer o trabalho. Não me senti invadido nem invadindo em nenhum momento. Na questão do filme, discutir isso é muito interessante porque tem uma sutileza da sexualidade que mistura com a amizade, com essa entrega. Essa costura discute mas deixa sutil e não levanta bandeira de nada”, disse Victor. Para ele, esta trama retrata uma passagem na vida dos jovens que passam transições, transformações e descobertas.

Idade de experimentar

“É uma idade de experimentar”, acrescenta Gabriel. Mas é justamente o reality show que faz com que o triângulo aconteça realmente. “No filme, era uma amizade de três com uma tensão sexual muito grande, mas não acontecia de fato. E o reality show acaba desvendado isso e externando uma coisa que eles acabam tendo que dar conta”, discute Juliana.

“Os 3” é um filme baseado nos sentimentos, contou Nando Olival, 47, que dirige seu primeiro longa-metragem solo. Olival já havia codirigido "Domésticas" (2001), ao lado de Fernando Meirelles e também foi responsável pelo vídeo "Eduardo e Mônica", comercial de uma empresa de telefonia celular que virou hit na internet.

“Para essa geração, o sexo é um assunto dado, não é tabu, nem polêmica. No filme, a questão sexual quase não tem valor se estão transando os dois ou os três. Mas acho que deve chocar um monte de gente”, admitiu.

“Esse filme é um pouco o ritual de passagem, mas tem um certo momento que o ‘eu te amo’ ou ‘eu te odeio’ pode machucar. É momento que o jovem começa a entender a importância de expor os seus sentimentos e o reality show poderia tensionar mais essa relação”, afirmou o diretor.

Olival disse que sempre teve vontade de fazer um filme que fosse sobre jovens e sobre essas confusão de sentimentos. “Você é tão próximo aos amigos que não sabe se você ama, ou se é tesão aquilo lá ou amizade. Esses sentimentos são extemporâneos”.

A opção por atores desconhecidos do grande público poderia desequilibrar essa relação dos três amigos, por isso Olival optou por selecionar, dentre inúmeros os testes ao longo de quase cinco meses, o trio perfeito para viver a trama.

“Deu super certo, eu fiz os testes individualmente, mas não escolhia uma pessoa só, eu agrupava com outros dois atores. Dramaturgicamente para a interpretação deles, os caras tinham que se entender muito bem. Era um filme de jovens que estão sempre meio com o corpo de fora e se tocando”, disse Olival.

Desde que Juliana, Gabriel e Victor se conheceram, “eles ficaram assim grudados, são os três”. Durante as filmagens, lembra Olival, tinha vezes que fazia uma cena dos três sentados no chão abraçados, cortava e quando voltava eles estavam do mesmo jeito abraçados. “Não tinha atores melhores que eles para o filme”, elogiou o diretor.

Após um longo período de testes em 2009, o filme foi rodado rapidamente em quatro semanas, no mesmo ano. “Eu rodava e já montava ao mesmo tempo. Como era um filme pequeno, de poucas locações (80% do filme se passa em um apartamento), tinham que ser lugares sedutores”.

“Como era um filme para rodar muito rápido, a gente ensaiou bastante. Eu gosto de elaborar a cena, enquadrar direito. Era um filme que eu queria fazer elaborado, sem improviso, a gente fez muito ensaio na locação”, lembrou.

Leia a seguir a conversa do UOL Cinema com o trio protagonista de "Os 3".

TRAILER DE "OS 3"


UOL - Como foi esse encontro entre vocês três nos testes e a interação nas filmagens?
Victor Mendes -
Começou com os testes de elenco, eu fiz sete testes em cinco meses, foi duro. Eu conhecia o Gabriel antes, tinha feito um curso para interpretação de cinema da Fátima Toledo e A Ju conhecia o Gabriel dA escola.
Gabriel Godoy - Ele era um fã meu (brincou).
Victor - Depois do primeiro teste que era sozinho, a gente começou a fazer o teste em trio. O Nando ia aprovar um trio e não só um ator individual. No sexto teste, éramos eu, a Ju e um outro menino que caiu. E o Gabriel eu já conhecia, ficou algo mais tranquilo.
Gabriel - Rolou uma generosidade na hora de fazer o teste.

UOL - Tem alguma coisa da vida dos personagens que é próxima à realidade de vocês? Vocês são jovens e vivem jovens no cinema, como foi essa relação com os respectivos personagens?
Juliana Schalch -
A Camila se coloca bastante, é muito diretiva, pensa muito e é ideológica. Ela tem uma ideia e segue essa ideia. Isso tinha a ver comigo, eu me vejo nisso, sou de colocar muito a opinião e aí eu frisei mais esse lugar de estar presente.
Gabriel - Comigo aconteceu isso [seu personagem, Cazé, sai da faculdade com desesperança]. É muito cedo decidir a vida com 17 anos. Eu saí do colégio e pensei que ia fazer jornalismo, mas não era uma coisa certa. Fui fazer jornalismo e desisti. Isso é muito o que acontece com o jovem. O filme retrata essa instabilidade que o jovem tem, mas o que eu quero afinal, tanto no sentimento como na profissão.

UOL - É a primeira experiência de vocês em longas-metragens? Como foi?
Gabriel -
O cinema é outro registro, outra dimensão. Assim como quando o jogador de futebol de salão vai jogar em campo, é outra dificuldade. Esse filme foi praticamente uma escola para mim.
Juliana - O "Vips" eu filmei uma semana antes de começar a rodar “Os 3” e o “Tropa de Elite” rolou muito por conta de “Os 3”. O Daniel Rezende, que fez a montagem, foi para o "Tropa" e me indicou.
Victor - Antes do filme, eu fiz uma série para a TV Cultura que fiquei quatro meses filmando com uma equipe toda de cinema. Então, já tinha tido essa vivência da câmera antes.
Gabriel - Cada diretor traz uma linguagem e uma proposta. O Nando trouxe uma proposta que era nova para os três ali. A gente era um trio, ele era um maestro.

UOL - Como foi viver um triângulo amoroso diferente, com esse ingrediente do reality show? Como foi lidar com tabus sobre sexo e drogas?
Victor -
Enquanto artistas, sem problema nenhum em fazer as cenas e em lidar com isso nos sets, porque a gente já estava se gostando e se respeitando muito na hora de fazer o trabalho. Não me senti invadido nem invadindo em nenhum momento. Na questão do filme, discutir isso é muito interessante porque tem uma sutileza da sexualidade que mistura com a amizade, com essa entrega. Essa costura discute mas deixa sutil e não levanta bandeira de nada.
Gabriel - A droga tem um momento, mas passa. É uma idade de experimentar.
Victor - Passa, não choca, é uma passagem, o jovem está nessa transição de várias coisas.
Juliana - O reality show faz com que o triângulo aconteça realmente. Antes era uma amizade de três com uma tensão sexual muito grande, mas não acontecia de fato. E o reality show acaba desvendado isso e externando uma coisa que eles acabam tendo que dar conta.
Gabriel - O lance do reality era muito louco para a gente como ator. Porque estávamos atuando, eu era o Cazé e depois o Cazé atuando no reality. Mas já estávamos com mais propriedade do personagem. E eles começam a ultrapassar a medida, é o que o filme mostra.
Victor - No começo eles ficam com vergonha e não fazem nada mesmo, então, já que iria acabar, resolvem se divertir. Numa brincadeira dessa, quando eles se soltam, mostram um tanto de verdade e as câmeras transformam essa realidade em ficção, o que faz com que eles mesmos comprem essa ideia.
Juliana - O que acaba acontecendo é que o reality desvenda uma coisa que estava oculta, a tensão sexual que existia já entre Camila e Rafael e que não podia acontecer, mas acaba se revelando. O que é verdadeiro de fato vem à tona, o que fica meio oculto, na ficção do reality transborda.
Victor - O pano de fundo dessa história toda era a amizade entre os três. Por mais que o Rafael desejasse a Camila, ele gostava muito do Cazé e estava preocupado o tempo todo querendo saber o que estava acontecendo ali [na casa, após o personagem Rafael deixar o apartamento], metade da vida dele estava ali.

UOL - Hoje vocês continuam grudados. Como fica a relação de vocês depois do filme?
Gabriel -
A Juliana casou, né? [risos] A gente sempre se reencontra e agora, com o lançamento, a intimidade continua muito grande. Eu e o Victor continuamos na mesma sala na EAD [Escola de Artes Dramáticas] na USP. Faltam ainda dois anos para a gente se formar e a Juliana, se voltar, vem para a mesma sala. Então, a gente vai estudar os três juntos na mesma faculdade.
Victor - A gente também está trabalhando junto com projetos paralelos. Depois dessa experiência, eu quero fazer mais filmes. É isso, adorei, peguei o estilo. É uma delícia. A gente está escrevendo bastante coisa, curtas-metragens e mandando para editais.
Gabriel - Eu estou investindo no lado de roteirista e diretor, é uma coisa que gosto bastante. Estou focado, tentado emplacar dois projetos de seriado numa emissora.
Juliana - Eu estou com projeto de teatro, captando e produzindo e em novembro vou rodar o próximo filme com o Bruno Mazzeo, uma comédia. É surpresa. Vai ser bem legal.
 

TRECHO DO FILME "OS 3"

 


OS 3

Qua. (26), às 22h20, no Cinesesc (r. Augusta, 2075, Jd. Paulista, tel. 0/xx/3087-0500)

Qui. (27), às 20h, na Cinemateca - Sala Petrobras (lgo. Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, tel. 0/xx/11/3512-6111)

Sáb. (29), às 23h50, no Espaço Unibanco Pompeia 1 (r. Turiassu, 2100, 3° Piso, Pompeia, tel. 0/xx/11/3673-3949)

Ter. (1), às 22h20, no Cine Sabesp (r. Fradique Coutinho, 361, Pinheiros, tel. 0/xx/11/5096-0585)

Qua. (2), às 10h, no Cine Livraria Cultura 1 (Conjunto Nacional - av. Paulista, 2073, Cerqueira César, tel. 0/xx/11/3285-3696)

Qui. (3), às 10h, no Cine Livraria Cultura 1 (Conjunto Nacional - av. Paulista, 2073, Cerqueira César, tel. 0/xx/11/3285-3696)

Qui. (3), às 19h40, no MIS (av. Europa, 158, Jd. Europa, tel. 0/xx/11/2117-4777)

A programação está sujeita a alterações.